Pastor Arilton Moura teria recusado por considerar baixo o salário de R$ 6 mil. Ex-assessor diz que alertou ex-ministro sobre potencial de desgaste para a imagem do ministério.
Em relatos na investigação sobre irregularidades no Ministério da Educação, servidores da pasta disseram que o ex-ministro Milton Ribeiro recebia com frequência o pastor Arilton Moura no gabinete e também em casa. Segundo esses relatos, Ribeiro chegou a oferecer um cargo no MEC para o pastor, que teria recusado por considerar baixa a remuneração de R$ 6 mil.
Ribeiro foi alvo de operação da Polícia Federal na semana passada. Ele chegou a ser preso, mas depois foi solto, por determinação judicial, assim como o pastor Moura e o também pastor Gilmar Santos. O ex-ministro e os pastores são suspeitos de participarem de um esquema no MEC de liberação de verbas do ministério para projetos em municípios em troca de propina.
O ex-assessor Albério Rodrigues disse que um dos momentos de maior risco para a imagem do MEC foi quando Ribeiro tentou dar um cargo de nível DAS-3 a Arilton Moura na pasta.
De acordo com o ex-assessor, o pastor considerou a remuneração de R$ 6 mil insuficiente e reivindicou outro cargo, com salário superior. Milton Ribeiro, então, o indicou para gerente de projeto na Secretaria-Executiva do MEC, com vencimentos de R$ 10 mil mensais, mas a nomeação foi barrada pela Casa Civil.
Em maio, o atual ministro, Victor Godoy, que na gestão de Ribeiro era secretário-executivo, publicou uma nota oficial afirmando que, após a indicação de Arilton ter sido negada pela Casa Civil, o então ministro indicou Luciano Musse para assumir a função que seria do pastor. Musse também foi alvo da operação da PF na semana passada.
Os relatos de servidores do MEC sobre as denúncias na pasta foram dados para a Controladoria-Geral da União e embasaram a operação da PF. Essa é uma segunda investigação da CGU, aberta em março deste ano, após a imprensa ter revelado as suspeitas de irregularidades no MEC. Antes, em 2021, a CGU tinha uma investigação sobre o caso, mas encerrou os trabalhos alegando que não havia indícios de envolvimento de autoridades.
Presença no ministério
No relato à CGU, a chefe da Assessoria de Agenda do gabinete do ministro da Educação, Mychelle Rodrigues Braga, afirmou que “durante a gestão de Milton Ribeiro nenhuma outra pessoa ou autoridade esteve naquelas dependências com a frequência do pastor Arilton”.
O ex-assessor Albério Rodrigues Lima afirmou também que a partir de maio de 2021 Milton Ribeiro concedeu espaço mais privilegiado aos pastores Gilmar e Arilton, quando passou a recebê-los em sua própria residência.
“Ocorre que, de acordo com a sra. Mychelle, o ministro Milton Ribeiro havia solicitado que o pastor Arilton viajasse em sua companhia com avião da FAB no trajeto entre Brasília e Alcântara no dia 26/05, o que somente não veio ocorrer por fatores alheios a vontade dos envolvidos”, afirma o material da CGU.
O ex-ministro, de acordo com os servidores, foi alertado de que a ação dos pastores no MEC causaria riscos para a imagem do ministério.