Após críticas da imprensa e de diplomatas americanos em off, o governo dos Estados Unidos quebrou o silêncio em relação às declarações feitas na véspera pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra da Ucrânia, definindo-as como “profundamente problemáticas”. John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, criticou de forma dura o posicionamento brasileiro. “É profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma substancial e retórica, sugerindo que os EUA e a Europa, de alguma forma, não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade pela guerra”, disse. Na véspera, Lula afirmou que a Ucrânia também é responsável pela guerra e que as potências ocidentais são responsáveis pelo prolongamento do conflito. “Francamente, neste caso, o Brasil está repetindo a propaganda russa e chinesa sem olhar para os fatos.” Kirby também chamou de equivocada a sugestão de que a Ucrânia deveria ceder a Crimeia, ocupada pelos russos em 2014.
As críticas não partiram só dos EUA. Mais cedo, Peter Stano, porta-voz da Comissão Europeia, rebateu as declarações de Lula e defendeu a postura dos aliados ocidentais. “Não é verdade que os EUA e a UE estejam ajudando a prolongar o conflito. A verdade é que a Ucrânia é vítima de uma agressão ilegal, uma violação da Carta das Nações Unidas”, afirmou. “O que estamos fazendo é ajudar a Ucrânia a exercer seu direito legítimo de autodefesa.”
O chanceler Mauro Vieira rebateu. “Não posso dizer nada, porque nem ouvi e não sei do que se trata. Eu só posso dizer que o Brasil e a Rússia completam neste ano 195 anos de relações diplomáticas com embaixadores residentes, e, enfim, são dois países que têm uma história em comum”, afirmou antes de saber que os comentários vieram da Casa Branca. Ele disse que a guerra não foi tratada no seu encontro nem no de Lula com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, que está em Brasília, em visita oficial. “O Brasil quer promover a paz, está pronto para se unir a um grupo de países que estejam dispostos a conversar sobre a paz.”
Lavrov reuniu-se com Vieira e Lula. O russo afirmou que Brasil e seu país têm visões parecidas sobre a guerra. Segundo ele, os russos querem uma solução duradoura para o conflito. “As visões do Brasil e da Rússia são únicas em relação aos acontecimentos na Rússia”, disse. A declaração, no entanto, foi traduzida, em inglês, pelo Ministério das Relações Exteriores russo como “abordagem similar” de Brasil e Rússia para os acontecimentos no mundo.