(*) Fernando Benedito Jr.
Algo de errado não está certo neste “negócio” de trocar emendas e cargos por aprovação de projetos políticos no parlamento brasileiro. Não deve ser esse o critério a embasar as decisões políticas em outros países do mundo. Claro que alguma negociação deve haver, mas, certamente, não no nível e do modo como acontece no Brasil, onde esta prática tornou-se corriqueira e principal moeda de troca no mundo político.
É preciso avaliar melhor o que acontece na Inglaterra, na Bélgica, na França, nos Estados Unidos, na Noruega, no Japão, nos melhores exemplos que existirem no mundo para que possamos nos espelhar e adotar uma nova prática de fazer política.
Não é possível que transformar esta grande arte de administrar a sociedade e o Estado num negócio espúrio, em meio de vida, seja o melhor que o Brasil consiga fazer nesta área. E isto faz tempo, já virou uma tradição, normalizou-se. É uma herança do coronelismo e do há de pior nesta prática de dar um pé de botina antes da eleição e o outro depois.
É uma mentalidade atrasada que não pode perdurar como se fosse a única maneira de avaliar e quantificar projetos do executivo e votos parlamentares. Não é possível que a única régua seja o valor de emendas e o número de cargos. O desequilíbrio ético é flagrante. E o pior: amplamente aceito. Juristas o vêem como inevitável. A imprensa, ou grande parte dela, de maneira acrítica, aceita ou fica num discurso raso de quem perdeu ou ganhou, contando votos a favor e contra. A sociedade assiste inerte, sem entender nada ou sendo manipulada.
Distante de suas bases e difusos em Brasília, em suas bancadas, no espaço etéreo das votações no painel eletrônico que só são vistos por eles mesmos, os deputados fazem o que bem entendem, sem dar a mínima para suas bases e ou o que pensam. No final das votações, depois dos embates em plenário, o povo só fica sabendo o resultado na hora de pagar a conta. E sem saber de onde ela veio e por que. Depois, no próximo outubro, retornam as urnas e repetem a dose do veneno.
Esta tem sido a realidade das coisas. E como são fortes as coisas. Mas como disse o poeta: “Eu não sou as coisas e me revolto”.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.