(*) Fernando Benedito Jr.
Nos falta o ar pela violência policial e o racismo, que pisa na garganta e estrangula; falta o ar por causa do coronavírus que bloqueia os pulmões e não deixa respirar; falta o ar em razão da poluição e do desmatamento; falta o ar pela tensão e ansiedade com um governo que nos sufoca com a censura dos números da pandemia, com o cerco da milícia digital, com o apoio de seguidores que mais parecem fiéis numa cruzada fundamentalista cujo norte principal é a estupidez. Viver no Brasil tornou-se um verdadeiro sufoco.
Este abafamento todo vai levando a uma reação normal e desesperada que é a tentativa de respirar novamente, encher os pulmões, espernear, gritar, livrar-se para tentar sobreviver. Só mesmo o gado, que caminha inexorável ao matadouro sem saber o que o destino lhe reserva, se mantém impassível, sereno. Crê que está tudo certo, normal e quem reage quer prejudicar o governo, sem entender que é desnecessário alguém fazer qualquer coisa para prejudicar o governo porque ele mesmo se auto destrói e ainda prejudica, pela toxicidade, seus aliados e, principalmente, o povo. Coloca a granada no bolso do cidadão, aproveita a onda para passar a boiada. O trato com sociedade, com o mundo real, é de uma simpatia a toda prova, não é gado? Cospem em médicos cubanos, espancam enfermeiros na Esplanada, quase matam a médica que saiu do plantão contra o coronavírus e queria dormir, defendem com ardor a vida do CNPJ, acham que a Amazônia tem que queimar mesmo, que a violência e a letalidade ainda é pouca e por isso tem que armar todo mundo. É esse tipo de gente que defende o governo.
Uns apenas votaram, fizeram uma escolha nas urnas. E entre eles, muitos já reconheceram que cometeram um erro. Outros são militantes mesmo, integram a milícia, a tropa de choque e os esquadrões. Não sabem exatamente o que é o fascismo, mas são fascistas. Ficam insistindo no atraso, no conservadorismo, no militarismo, querem o fim da democracia, o mundo sem ar. A estes não se pode dar trégua. É preciso combatê-los duramente, afinal, estão nos tirando o fôlego, querem um mundo cada vez mais rarefeito e não admitem que as outras pessoas, aquelas que pensam diferente, lutem por um mundo mais arejado. Então, que habitem sozinhos o inferno que querem construir para si.
(*) Fernando Benedito Jr.
