(*) Fernando Benedito Jr.
As instituições representativas do governo estadual no Comitê Gestor de Crise do Covid-19 em Ipatinga alertaram para a importância de manter por mais algum tempo o isolamento social para evitar a disseminação do novo coronavírus. Contra este indicativo e sob pressão de vários setores sociais, entre os quais comerciantes e denominações religiosas, para citar os mais ferrenhos defensores do fim do isolamento, o governo municipal cedeu. Os prognósticos eram de que os casos de covid-19 iriam disparar. A subnotificação era alta, não havia testagem em massa, não havia leitos e respiradores. Poucos dias após as primeiras flexibilizações começaram a surgir os primeiros casos, conforme o previsto. Era uma tendência óbvia, mas a pressão era grande, de maneira que a distribuição das responsabilidades deve ser equitativa para não se jogar o peso todo nos ombros de um só. Neste sentido, o dedo deve ser apontado em várias direções e todos devem assumir sua cota de responsabilidade. Ou não. Também podem se omitir, como de costume em caso de tragédias.
Na verdade, houve uma subestimação do avanço da pandemia em Ipatinga e no Vale do Aço. Ainda há (embora os números digam o contrário), a julgar pela atitude irresponsável de alguns prefeitos, como o de Coronel Fabriciano e cidades ao redor, que insistem em negligenciar a velocidade de contaminação e morte, em manter abertos templos religiosos e o comércio – é o caso também de Santana do Paraíso –, que precisaram da intervenção do Judiciário para se adaptarem às regras, ainda assim burladas com “jeitinho”. Epicentro da pandemia regional, Ipatinga tomou a atitude correta num primeiro momento, depois, sob pressão, flexibilizou na hora errada, contrariando todos os alertas e parâmetros. Conforme se vê agora, são muitos os riscos, mas quem insiste num isolamento mais rigoroso evita o dano maior, sai mais rápido da crise, retoma primeiro a economia e segue a vida com mais cuidado. É a lição que nos ensina os países da Europa e Ásia e regiões do Brasil que adotaram contenções firmes, do qual Alexandre Kalil em BH e Eduardo Leite no RS, são, por enquanto, alguns exemplos.
As redes sociais, como sempre, estão agitadas em busca de culpados, mas o vírus não escolhe colorações políticas e ideológicas, ainda que a direita insista no fim do isolamento, no uso da cloroquina, na retomada da economia, no negacionismo; e a esquerda, defenda o isolamento e a ciência, com nuances aqui e acolá, porque também existe gente sensata à direita que entende a necessidade da contenção e respeite a ciência.
Mas como diria o alquimista, “yo no creo em brujas, pero que ellas hay, hay”. E culpados também. O principal, sem dúvida, é o próprio vírus, seguido das autoridades que deveriam fazer todo o esforço para contê-lo e o próprio povo, que na sua ignorância desdenha da virulência do coronavírus e até mesmo da sua existência, colocando em risco a sua vida e a de outrem.
No fim das contas, parece que faltou uma leitura mais científica e correta da realidade, da potência do vírus e sua capacidade de rápida disseminação. O resultado foi o “timing” errado e, por causa disso, muitos estão pagando um preço alto.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.