(*) Fernando Benedito Jr.
Algo entre o discurso e a realidade parece não fazer sentido no caso da luta brasileira pela preservação ambiental. É certo que neste ano se registrou uma redução significativa do desmatamento na Amazônia e na Mata Atlântica, embora o Cerrado, a Caatinga e outros biomas continuem a sofrer com a perda de sua vegetação nativa. Há também um plano do governo para a redução do desmatamento e diversas medidas foram tomadas para conter o garimpo ilegal na Amazônia, em terras indígenas e controlado por organizações criminosas.
Por outro lado, se verifica a liberação indiscriminada de agrotóxicos. A grilagem de terras segue a passos largos com o apoio ou vistas grossas de vários governos estaduais, como em São Paulo (“Tarcísio entrega terras com desconto a fazendeiros”, Folha de S. Paulo), Rondônia, Amazônia. Empreendimentos imobiliários em áreas de amortecimento da Mata Atlântica continuam a ocorrer em várias cidades com apoio de prefeituras e câmaras municipais, sob o argumento de sempre (desenvolvimento econômico e geração de empregos). O próprio governo federal quer transformar o Brasil na “Arábia Saudita da energia verde”, mas não descarta ingressar na Opep, o cartel poluente baseado em energia fóssil. Não descarta a exploração de petróleo na foz do Amazonas.
É certo que imensa parte destes problemas estão ocorrendo em razão da legislação aprovada por parlamentares conservadores reunidos nas Bancadas da Bala e do Agro. Mas se o Brasil quer colocar um fim no desmatamento, se deseja cumprir as metas da ONU, as definições da COP-28, precisa enfrentar os destruidores do meio ambiente, os grandes construtores, as mineradoras, as madeireiras, etc. Precisa ir além do combate aos “peixes pequenos” – se é que tem peixe pequeno nestes rios e mares.
Da forma como está, seja por causa dos extremos climáticos ou da ação humana, o pantanal e Amazônia vão continuar ardendo em chamas, o Sul continuará açoitado por ciclones, a Brasken vai afundar Maceió, Taquaril vai destruir a Serra do Curral e a Vale, bem a Vale… Vai continuar explodindo, soterrando e inundando o País inteiro.
– É pelo progresso – dizem.
Até que não haja terra nem progresso.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.