Leandro Prazeres
A última vez em que um candidato venceu a Presidência sem ganhar em Minas Gerais foi em 1950, com Getúlio Vargas
(DA BBC NEWS BRASIL) – No mundo da política brasileira há uma premissa que é repetida por cientistas políticos e analistas eleição após eleição: o candidato à Presidência que ganhar em Minas Gerais ganha no Brasil.
Em parte por isso, os dados divulgados da pesquisa de intenção de voto realizada pela Quaest Consultoria sobre as eleições presidenciais em Minas Gerais no dia 12/08 chamaram tanta atenção a menos de dois meses do primeiro turno. E, posteriormente foram confirmados pela pesquisa Datafolha.
Segundo o levantamento, a diferença entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) entre caiu nove pontos percentuais entre julho e agosto.
Na pesquisa estimulada (quando nomes são apresentados aos entrevistados), em julho, Lula aparecia com 46% das intenções de voto e Bolsonaro, com 28%. Em agosto, Lula aparece com 42% e Bolsonaro, com 33%. A margem de erro é dois pontos percentuais para mais ou para menos.
A última vez em que um candidato venceu as eleições presidenciais sem ganhar em Minas Gerais foi em 1950, quando Getúlio Vargas foi eleito presidente. Desde então, todos os presidentes eleitos venceram ganhando em Minas Gerais.
DADOS ELEITORAIS
Mais recentemente, os dados da Justiça Eleitoral corroboram essa premissa. Em 1989, Fernando Collor (PTB) foi eleito e teve 55% dos votos em Minas Gerais contra 44% de Lula. Em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foi eleito vencendo em Minas Gerais com 64% dos votos contra 21,9% de Lula. Quatro anos depois, o tucano venceu novamente liderando em Minas Gerais com 55% dos votos contra 28% de Lula.
Em 2002, Lula venceu as eleições e reverteu as derrotas em Minas Gerais. Ele obteve 66,4% dos votos contra 33,55% de José Serra (PSDB). Quatro anos depois, ele voltou a vencer as eleições e liderar em Minas Gerais: 65% dos votos contra 34% do ex-governador de São Paulo e agora candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB).
O mesmo aconteceu com Dilma Rousseff (PT) em 2010 e em 2014 e com Jair Bolsonaro, em 2018. Naquele ano, Bolsonaro venceu no segundo turno com 58,19% dos votos em Minas Gerais e 41,81% dos votos de Fernando Haddad (PT).
O professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cristiano Rodrigues diz que há uma correlação clara entre vencer em Minas Gerais e vencer as eleições presidenciais, o que não significa dizer que uma coisa causa a outra.
NÃO É MERA COINCIDÊNCIA
“Não parece ser uma mera coincidência. A política é dinâmica e a nossa capacidade de prever é limitada, mas o fato é que, até agora, se pegarmos os dados desde 1989, por exemplo, nenhum presidente se elegeu sem ser o mais votado em Minas Gerais. Há uma correlação clara que me parece refletir a importância do estado na política brasileira”, disse Rodrigues.
DOIS FATORES
O professor elenca dois fatores que, na sua avaliação, ajudam a explicar o fenômeno. O primeiro deles é o tamanho do eleitorado mineiro. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Minas Gerais tem o segundo maior número de eleitores do Brasil, 16,2 milhões. Perde apenas para São Paulo, com 34 milhões.
“Minas Gerais é o segundo maior colégio e um eleitorado muito heterogêneo […] à medida que esse eleitorado se move em direção ou em outra, isso tem um peso muito grande e pode pender a balança das eleições”, disse o professor.
DIVERSIDADE GEOGRÁFICA
O cientista político e também professor da UFMG Leonardo Avritzer aponta a diversidade geográfica e sociodemográfica do estado como um dos motivos pelos quais a vitória em Minas Gerais pode levar à vitória em âmbito nacional.
Segundo ele, por ser um estado tão diverso, vencer em Minas Gerais indicaria uma boa “calibragem” das candidaturas para dialogar com as diferentes regiões do Brasil.
“Minas Gerais expressa características dos estados vizinhos. O norte do estado, por exemplo, é muito parecido com a Bahia. A Zona da Mata mineira é muito parecida com o interior do Rio de Janeiro. O Triângulo Mineiro (no oeste) e o sul de Minas expressam bastante o interior de São Paulo”, afirmou o professor.
“No norte de Minas Gerais, você vai ter um eleitor um pouco mais progressista. No sul e no oeste, vai ser um eleitor mais conservador. Não é fácil vencer dialogando com um eleitorado tão heterogêneo”, diz o professor.
COMO MINAS AFETA AS CAMPANHAS?
Para os especialistas, dada a importância e complexidade do eleitorado mineiro, toda campanha presidencial competitiva precisa ter uma estratégia voltada para o estado.
“Em Minas Gerais, os candidatos precisam ter um palanque muito forte. Eles precisam ou ter um governador popular os apoiando ou ter políticos puxadores de voto que os ajudem a entrar em todas essas regiões do estado”, diz Cristiano Rodrigues.
Segundo ele, foi pensando nisso que o comando da campanha de Lula desistiu de lançar uma chapa própria para o governo de Minas Gerais e se aliou ao ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) que tenta disputa a eleição para governador contra o atual mandatário, Romeu Zema (Novo).
“A campanha entendeu que precisava de um nome popular em Belo Horizonte, mas que também tivesse o apoio do PSD, que é um partido forte no interior mineiro”, disse o professor.