(*) Fernando Benedito Jr.
Minas Gerais, ali pelos lados do Vale do Jequitinhonha, antes até, em Teófilo Otoni, já tem uma forte “pegada” nordestina, que vai descendo com o rio São Francisco até se encontrar com os irmãos lá na foz, nas Alagoas de Calheiros, Lira e Zumbi dos Palmares. Em comum tem a seca, a carne de sol, a farinha, o pequi, o São Francisco, o sotaque, e muitas outras coisas que fazem parte do patrimônio material e imaterial da mineiridade e da brasilidade e que unem os sudestinos e nordestinos no mesmo tecido pátrio.
Agora, o que não dá para entender com muita clareza é como estas pessoas que se dizem nacionalista e patriotas de repente sacam da cartola a genial ideia de diferenciar os do Sul e os do Norte, os do Sudeste e do Nordeste, tentando colocar uns contra os outros, como se estivéssemos voltando às capitanias hereditárias, onde o capitão-mor distribuía sesmarias a quem lhe valesse. Como se estivéssemos em guerra como russos e ucranianos. Tem horas que Zema tem alguma coisa de feudal no pensamento atrasado.
No mais, é falta de cognição mesmo. Incapacidade de fazer a leitura do mundo real. Na tentativa desesperada de se encacifar como candidato à Presidência da República no vácuo de Bolsonaro, acaba cometendo desvarios. Acha que pelo fato de ter sido eleito e reeleito em Minas com larga margem em relação aos adversários, por si só, lhe dá capilaridade nacional. Se deu, não dá mais. Pelo menos no Norte e Nordeste, sua declaração preconceituosa repercutiu mal e já criou mal-estar suficiente para ter que ficar se explicando durante boa parte de uma eventual disputa eleitoral à Presidência. Faltou mineiridade, governador: cortesia, tato, consenso, bom senso, esses atributos que outrora fizeram da política mineira uma bela arte de estratégia e retórica.
Continue assim que o senhor vai longe…
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.