(*) Fernando Benedito Jr.
É natural que na derrota as pessoas se sintam mal, tenham sentimentos diversos, desde o luto, perda, raiva, indignação, mas é fundamental saber perder, ter alguma altivez. É preciso sair com alguma honra da derrota, para que o sentimento de frustração não se apequene ao ponto de reduzir tais sentimentos e suas manifestações ao limite da ignorância, às raias do incompreensível e da estupidez, como se viu agora nos bloqueios e atos golpistas após a eleição de Lula.
O que era para ser uma manifestação de descontentamento transformou-se num transe coletivo, um tipo de transtorno mental em massa, uma catarse da ignorância, que ultrapassou o limite do ridículo para se estabelecer como pura estupidez.
É absolutamente inconcebível que se saia de um processo democrático, de uma eleição ganha a duras penas contra todo o tipo de manipulação e ainda se tenha que tolerar bloqueio em rodovias, manifestações em portas de quartéis pedindo a intervenção militar, prejuízos à população, argumentos sem pé nem cabeça. É o atraso em todos os sentidos. E a eleição foi exatamente contra este retorno à barbárie e foi a proposta vitoriosa. Mas os vândalos insistem em continuar tacando fogo, xingando, vandalizando, fazendo saudações nazistas, defendendo o indefensável.
Se há uma chaga, uma doença que a disputa eleitoral revelou no País é que existe uma grande parcela da população brasileira que é muito suscetível à mentira, ao pensamento retrógrado, à manipulação e à ignorância. A desinformação propagada em grupos de Whatsaap é capaz de uma lavagem cerebral que nem os mais eficientes sistemas e instrumentos de opressão psicológica das ditaduras conseguiu fazer.
Uma parcela gigantesca da população brasileira é incapaz de diferenciar alhos de bugalhos. É manipulada por grupos de Whatsaap religiosos, familiares, por líderes inexistentes, influencers querendo “lacrar”, gente querendo fama ou dinheiro. Um gigantesco inconsciente coletivo, sem qualquer leitura crítica da realidade em que vive. Agem como um bando de zumbis querendo devorar uns aos outros em defesa do zumbi chefe.
Em nenhum momento os adeptos da intolerância consideram o respeito à democracia, à vontade da maioria, aos que pensam diferente e que saíram vitoriosos das urnas, assim como em 2018 os fascistas foram vitoriosos e os democratas tiveram que tolerá-los.
Ninguém quer empatia de bolsonaristas e fascistas (o que é a mesma coisa), porque já demonstraram ser incapazes disso. Mas seria de bom tom se tivessem respeito por si mesmos e deixassem de ser tão estúpidos. Pega mal.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.