Depois de defender o fim do isolamento social e várias outras declarações minimizando os riscos do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro deu mais uma demonstração da falta de responsabilidade, sensibilidade e descaso com o recorde de mortes por Covid-19 no Brasil
BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro deu mais uma demonstração de frieza e irresponsabilidade como avanço do coronavírus no Brasil. Depois de minimizar a pandemia, dizendo que era só uma gripezinha, que as mortes (principalmente de idosos) eram inevitáveis, insistir no tratamento com cloroquina e no fim do isolamento social (posições que confrontaram e acabaram derrubando o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta), Bolsonaro voltou a demonstrar sua absoluta desfaçatez com a pandemia no fim da noite desta terça-feira ao comentar o recorde de mortes (474 em 24h) anunciado hoje pelo Ministério da Saúde. Ele perguntou a uma repórter, na portaria do Palácio da Alvorada, o que quer que ele faça em relação às mortes por coronavírus no Brasil, que nesta terça-feira (29) superaram as da China, país de origem da pandemia. Bolsonaro teve reação parecida quando indagado sobre o incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio. ‘Já está feito, já pegou fogo, quer que faça o quê?’, disse na época.
Nesta terça-feira, segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de mortes confirmadas por covid-19, a doença provocada pelo coronavírus, ultrapassou a marca dos 5 mil, chegando a 5.017. Na China, são 4.643.
E DAÍ?
Durante a entrevista, uma jornalista disse ao presidente: “A gente ultrapassou o número de mortos da China por covid-19”. O presidente, então, afirmou:
“E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”, disse, em referência ao próprio sobrenome.
Momentos depois, na mesma entrevista, Bolsonaro disse se solidarizar com as famílias das vítimas. “Lamento a situação que nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas”, disse.
“Mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente, a gente quer ter uma morte digna e deixar uma boa história para trás”, disse o presidente.
DISTANCIAMENTO SOCIAL
Questionado se conversaria com o ministro da Saúde, Nelson Teich, sobre a flexibilização do distanciamento social, Bolsonaro afirmou que não dá parecer e não obriga ministro a fazer nada.
O presidente também disse que ninguém nunca negou que a covid-19 causaria mortes no Brasil e que 70% da população será infectada.
“As mortes de hoje, a princípio, essas pessoas foram infectadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: o vírus vai atingir 70% da população. Infelizmente é a realidade. Mortes vão (sic) haver. Ninguém nunca negou que haveria mortes”, disse.
EXAMES
O presidente também foi questionado sobre decisão judicial que deu ao jornal “O Estado de S. Paulo” o direito de ter acesso resultados dos testes de coronavírus aos quais se submeteu. Segundo o presidente, os dois exames resultaram negativo.
Bolsonaro disse ter o direito de não mostrar os resultados dos testes.
“Vocês nunca me viram aqui rastejando, com coriza. Eu não tive [a doença], pô. E não minto […]. Da minha parte, não tem problema mostrar. Mas, agora, eu quero mostrar que eu tenho o direito de não mostrar”, afirmou. (DO G-1)