As “lives” de quinta-feira, lamentavelmente, mobilizam ouvintes, como os getulistas ao “pé do rádio”
(*) Fernando Benedito Jr.
O que mais incomoda neste governo é que ele ainda consegue pautar o debate nacional sobre certos temas, como é o caso do voto impresso. Não deveria nem ser ouvido, mas tem uma parcela de seguidores, como os getulistas de antigamente, que ficam ali, “ao pé do rádio”, esperando as “lives” de quinta-feira para saírem repetindo as asneiras que o indivíduo fala. É essa amplificação que dana tudo. Se o sujeito ficasse falando ao vento, tudo bem. Mas, não. Tem ouvintes, muitos deles, cativos.
Na última quinta, mais por curiosidade do que por qualquer outro interesse, fiquei ali, por quase duas horas, ouvindo aquilo. É uma coisa de louco, de uma insanidade total. Já no primeiro minuto retira-se toda e qualquer comparação com Getúlio ao pé do rádio. São ditas tantas imbecilidades, mentiras, vais-e-vens, distorções, maquinações, tudo devidamente pré-arranjado, os papéis sobre a mesa, para “comprovar” o que se diz; os assessores que recolhem os papéis, o tradutor de Libras, coitado; tanta armação que o ouvinte do outro lado, incauto, desavisado, ou por querência mesmo, acredita.
E pior do que acreditar, mitifica, “compra” aquele discurso de “coitadismo” e se compadece, acha que o elemento está certo e o resto todo. Errado. Não consegue ver o óbvio.
Ou seja, que esse negócio de impressão do voto é para tumultuar a eleição em caso de derrota. É uma forma de tensionar o sistema democrático para provocar uma ruptura. É uma forma de desacreditar o Estado democrático de Direito e as instituições que o sustentam. É um prenúncio de golpe.
É isso. Só isso. É difícil não entrar neste debate que ele pautou. Só que agora, não são apenas bravatas. Tornaram-se ameaças, que precisam ser combatidas com veemência.
(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do Diário Popular.