(*) Fernando Benedito Jr.
O julgamento da tentativa de golpe de estado e as penas aplicadas aos envolvidos pelo Supremo Tribunal Federal lavaram a alma do povo brasileiro – ou pelo menos daqueles que defendem a democracia e o estado democrático de direito. Pela primeira vez na história a justiça acaba com a impunidade para quem defende ditaduras e tenta abolir de forma violenta as garantias e liberdades previstas na Constituição.
Durante todo o seu governo o ex-presidente e seus subordinados atentaram contra o voto, o sistema eleitoral, o judiciário e a própria Constituição. Como disse a ministra Cármem Lúcia em seu voto, os golpistas deixaram rastros por todos os lados, “fizeram a maquete do golpe”. A peça acusatória da Procuradoria Geral apenas reuniu a farta documentação e as provas deixadas pela organização criminosa que arquitetou todo o processo violento que culminou com a invasão e depredação das sedes do poder Executivo, Legislativo e Judiciário na Praça do dos Três Poderes. Não é preciso muito esforço para se lembrar das cenas ainda recentes e frescas na memória.
Estradas bloqueadas, acampamentos em frente aos quarteis como forma de buscar a adesão das forças armadas, as faixas e cartazes em manifestações antidemocráticas pedindo o retorno da ditadura e o auto golpe com Bolsonaro no poder, as tentativas de atentados a bomba, a mobilização de caminhoneiros pagos pelo agronegócio, a reunião com embaixadores e ministros para convencê-los do golpe e da continuidade no poder a qualquer custo. Todos estes fatos e vários outros que ainda serão revelados pelo tempo e pela história mostram que estava em marcha um movimento organizado para acabar com a democracia no País.
Alguns insistem em não ver isso. O próprio ministro Luiz Fux foi um dos que não viram.
Felizmente, nem todos são covardes. Cármem Lúcia é uma heroína, os demais ministros da 1ª turma deram demonstração de honradez e coragem, de coerência e respeito à Constituição. E graças a eles e a ela, o Brasil deu uma lição ao mundo.
No dia seguinte, a extrema direita deve retomar a cantilena da anistia. Mas, não vai ser uma tarefa fácil…
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.