Cultura

Curta ipatinguense “Tatuagem e Terremoto” é exibido em festival

Nilmar Lage

IPATINGA – O curta-metragem “Tatuagem e Terremoto” (Brasil, 2015, 6 minutos), do diretor Sávio Tarso, fotografia de Nilmar Lage e participação de Cristiano Almeida (Praia), foi um dos selecionados para a 7ª edição do “Assim Vivemos – Festival Internacional de Filmes sobre Deficiência”. Os curtas serão exibidos no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (de 5 a 17 de agosto), de São Paulo (23 de setembro a 5 de outubro) e de Brasília (de 2 a 14 de março de 2016). Foram selecionados 33 filmes de 20 países. O evento será marcado ainda por quatro debates sobre os temas autonomia, imagem e estigma, ser artista e autismo. Patrocinado pelo Banco do Brasil, as exibições têm entrada franca.

EXPERIÊNCIA
O diretor Sávio Tarso, ele próprio portador de deficiência física, que é o tema do Festival, disse que “Tatuagem e Terremoto” foi concebido como uma linguagem experimental de documentário que buscou inspiração na poesia de Adélia Prado. O projeto foi concebido a partir da ideia do fotógrafo Nilmar Lage de registrar a cidade de Ipatinga e seus personagens sob um ângulo desconhecido, periférico. Então, Sávio Tarso propôs a realização do documentário tendo ele próprio como personagem que é entrevistado por Nilmar, mas aparecendo em recortes, cenas distorcidas.

“A maioria dos documentários é baseada no depoimento, na entrevista, na história oral. ‘Tatuagem e Terremoto’ é uma experiência onde a imagem também é uma força poderosa da narrativa. Além da mensagem sonora, o espectador pode acompanhar o documentário através do discurso das imagens”, diz Sávio Tarso.

POESIA
Segundo ele, neste caso, o depoimento é um elemento poético. “Os momentos que parecem banais podem compor uma poesia sobre o discurso das imagens. É como os poemas da Adélia Prado, pensamos muito nela, que trabalha com imagens”, compara o cineasta.

Sávio revela que no documentário é entrevistado por Nilmar Lage e nesta entrevista tenta se esconder ao máximo. “Na verdade, é uma autobiografia. Mas, como sou cheio de estigmas é difícil me esconder, muita gente me conhece. O Nilmar me entrevista e eu falo coisas sobre mim que não aparecem normalmente, aí distorcemos a imagem. Contudo, fica muito difícil me esconder. Fica bastante confuso, uma pessoa como eu, com deficiência, portador de muitas sequelas, tentar me esconder. As imagens são absolutamente minhas, embora não identifiquem o Sávio. Mas avalio que o efeito desse jogo de espelho foi totalmente o contrário, porque tento me esconder, mas apareço mais ainda”, constata.

TÍTULO
Sávio Tarso conta ainda que o título do curta-metragem surgiu de algumas perguntas elaboradas por Nilmar Lage durante as entrevistas. “Ele me pergunta, por exemplo, o que é deficiência? E eu digo que deficiência é minha tatuagem natural, como as tatuagens que as pessoas fazem para se diferenciar das outras. Ele também me pergunta como vejo o mundo e respondo que vejo o mundo de forma instável, como se fosse um terremoto permanente”, explica.

Segundo a curadora do Festival, Lara Pozzobon, “Tatuagem e Terremoto” poderia ser um documentário sobre milhões de pessoas com deficiência. Trata-se de um relato íntimo e pessoal sobre um personagem vítima da poliomielite, que estabelece uma relação bastante peculiar com as sequelas que a doença deixou em seu corpo. Como uma tatuagem que impregnou-se em sua pele e em seu espírito, a deficiência se transformou no seu traço de diferenciação, mas não o impediu de estar e viver plenamente no mundo dos ditos “normais”.

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