(*) Walber Gonçalves de Souza
Mais uma vez nos deparamos com um caso de crueldade humana: o espancamento e morte, de forma estupidamente violenta, do garoto Henry Borel.
O triste é saber que esse não é um caso isolado, apesar da repercussão nacional, as estatísticas mostram que diariamente tantas outras crianças morrem de forma trágica e inúmeras outras desaparecem, aumentando ainda mais a angústia da família, pois como não se sabe o desfecho, a imaginação cria as mais diversas possibilidades do que pode ter acontecido com o ente desaparecido. Também uma situação cruel!
Agora, além da crueldade, que geralmente envolvem esses casos, que por si só já enoja, na imensa maioria deles, o criminoso é uma pessoa do seio familiar, que convive, que cria laços, que estabelece conexão de confiabilidade.
Quantos casos são divulgados diariamente em que pessoas da própria família tramam o extermínio do outro ente familiar. São casos que beiram a animalidade, a estupidez, e sabe-se lá que outros nomes poderiam ganhar!
Imaginar filho tramando a morte do irmão, pai ou mãe; imaginar que uma mãe ou pai está ciente que seu filho está sendo espancado, torturado ou sofrendo outras atrocidades e ficar fingindo de bobo, sem fazer nada de efetivo para resolver o problema, é algo difícil de aceitar, humanamente dizendo.
Casos assim, precisam despertar na sociedade uma reflexão profunda sobre seus próprios valores e posições. Pois não é possível aceitarmos uma situação dessa de forma inerte e covarde. Precisamos fazer algo e rever muitas coisas. Mas o que poderia ser feito?
A resposta para essa pergunta não é fácil e requer um amplo diálogo social. Mas vou deixar aqui minha simples opinião: o primeiro passo seria, revertermos essa lógica imposta pelo poder financeiro, que reina há séculos no nosso país.
Pessoas endinheiradas, geralmente se sentem no direito de estarem acima da lei; buscam os caminhos do privilégio; escapam das regras que eles mesmo criaram; gostam de dar a famosa “carteirada”; vivemutilizando as benesses do status social, estabelecido pelo poder financeiro. Como se diz no popular: “se tornam poderosas”.
Algumas dessas pessoas são punidas? Claro que são. Mas, infelizmente, sabemos que a maioria não. Por isso, centenas de crimes acontecem diariamente, alimentando o tráfico de crianças, para as mais diversas finalidades: desde a retirada de órgãos até a covarde prostituição e o espancamento sem fim de tantas outras.
Sem falar no abandono diário, praticado por centenas de famílias, que não assumem de fato a missão de serem pais, educadores, responsáveis pela vida dos seus filhos. Gostam mesmo é de delegar aos outros (escola, babá, empregada doméstica…) suas responsabilidades.
Assim, vamos criando uma sociedade que se choca com alguns casos e mantem-se inerte a tantos outros. E como sempre daqui alguns dias esse caso cairá no esquecimento e provavelmente num futuro não muito distante teremos outro para lamentar.
(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.