(*) Walber Gonçalves
Estranho ter que ouvir a frase que intitula esse artigo em pelo século XXI, parece que vivemos em tempos idos, na época dos coronéis, dos reis absolutistas ou algo parecido. O tempo passa, mas ela ainda insiste em aparecer nas ocasiões mais inusitadas ela está lá, sendo balbuciada com o tom da prepotência.
A cultura da “carteirada” de certas pessoas, por estarem imbuídos de poder, acreditarem estar acima de tudo e de todos ainda é uma prática constante em nossa sociedade. Exemplos são incontáveis e em cada situação mesmo sendo mais vexatória do que a outra, a frase está lá: “Com quem você pensa que está falando? ”.
Vários pensadores defendem a mesma máxima: quer conhecer o caráter, a hombridade, o espírito humanitário de um ser humano? Dê poder a ele! Ela indica que o mau uso do poder consegue corromper a própria essência do ser, transformando a pessoa em uma personificação da incapacidade de lidar com os limites que ela mesma também deveria seguir justamente por viver em sociedade.
A expressão: “com quem você pensa que está falando?”, representa a mais baixa forma de pensar que uma pessoa sem argumentos pode chegar. Simboliza a ruína da construção de uma sociedade que deveria se alicerçar pelo bem-feito e não o contrário.
A expressão: “com quem você pensa que está falando?”, representa a soberba, a mesquinhez, a idiotice, a tolice daqueles que só possuem como riqueza, poder e/ou dinheiro e nada mais. São vazios em si mesmos, pois não acreditam nem em si próprios, pois para conseguirem seus espúrios objetivos precisam usar do subterfúgio da imposição do poder.
Mas infelizmente nossa história foi construída assim, e muitos até hoje continuam vivendo nessa mesma perspectiva. Acreditam que o poder é eterno e que a partir dele podem fazer o que quiserem, inclusive humilhar as pessoas, não respeitar as regras sociais e principalmente agir como se fossem “deuses”.
Todavia, mesmo que muito vagarosamente, os tempos mudam e nem todos aceitam mais se curvarem aos desmandos dos prepotentes, dos arrogantes, daqueles que deveriam ser os primeiros a respeitar aquilo que impõem aos outros.
Como vivemos a era da tecnologia muitos desses casos são gravados e expostos para que todos possam ver o que de fato aconteceu. Mas mesmo assim, o “topete do falastrão” não se curva no reconhecimento do erro. Coisas próprias das pessoas medíocres. E ainda bem que são filmadas, pois senão o espírito corporativista conseguiria reverter a situação e o errado passaria a ser o certo. Coisas do Brasil!
Como devemos ter esperança sempre, quem sabe um dia a frase: “com quem você pensa que está falando?”, sirva apenas para representar uma época em que as pessoas que a usavam ainda não haviam aprendido a lidar com as suas próprias fraquezas de caráter.
(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.