quarta-feira, novembro 27, 2024
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Com nove crimes atribuídos a Bolsonaro, relatório da CPI é oficialmente apresentado

Foto: Renan lê o relatório ao lado do presidente Omar Aziz e do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues.

Veja indiciados e crimes

BRASÍLIA – Após quase seis meses de trabalho, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apresentou oficialmente, nesta quarta-feira (20), seu relatório à CPI da Pandemia. Numa reunião que começou tumultuada, o senador leu apenas uma pequena parte das 1.179 páginas do documento, que agora ficará disponível por uma semana aos demais integrantes do colegiado.

Renan disse que está disposto a receber sugestões para “alterar e melhorar” o texto até a votação  — que será nominal e ostensiva — prevista para a próxima terça-feira (26). Na mesma data também serão apresentados votos em separados de outros parlamentares. 

PESSOAS E CRIMES

O relator identificou 29 tipos penais e sugeriu o indiciamento de 66 pessoas, incluindo deputados, empresários, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o atual titular da pasta, Marcelo Queiroga. Foram apontados ainda crimes cometidos por duas empresas: a Precisa Medicamentos e a VTCLog. 

Renan não poupou o presidente Jair Bolsonaro, que foi acusado formalmente de ter cometido nove crimes: prevaricação; charlatanismo; epidemia com resultado morte; infração a medidas sanitárias preventivas; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documentos particulares; crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade.

RECUOS

Na véspera da apresentação do texto, foram retiradas as acusações relativas aos crimes de homicídio qualificado e genocídio contra indígenas. As propostas não receberam apoio de outros integrantes do comando da comissão e havia dúvidas quanto à caracterização das condutas. 

Três filhos do presidente também constam no relatório: o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), todos são alvos de pedido de indiciamento por incitação ao crime. 

— Essa comissão colheu elementos de prova que demonstraram sobejamente que o governo federal foi omisso e optou por agir de forma não técnica e desidiosa no enfrentamento da pandemia, expondo deliberadamente a população a risco concreto de infecção em massa. Comprovaram-se a existência de um gabinete paralelo, a intenção de imunizar a população por meio da contaminação natural, a priorização de um tratamento precoce sem amparo científico, o desestímulo ao uso de medidas não farmacológicas. Paralelamente, houve deliberado atraso na aquisição de imunizantes, em evidente descaso com a vida das pessoas — acusou Renan. 

DEFESA

Na reunião desta quarta-feira, novamente senadores governistas alegaram que a CPI focou apenas o governo federal, com o objetivo de desgastar o presidente Bolsonaro. Eduardo Girão (Podemos-CE), que se declara independente, disse que a comissão fechou os olhos à atuação de governos estaduais e prefeituras e virou instrumento de perseguição política. Ele pretende apresentar um voto à parte. 

Antes da leitura do relatório, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), teve a oportunidade de apresentar uma defesa do governo federal por pouco mais de 20 minutos. 

O senador fez críticas ao trabalho da comissão, que, segundo ele, agiu de forma política na tentativa de incriminar o presidente da República; enumerou as medidas adotadas para salvaguardar os serviços públicos e a população durante a pandemia e lembrou que o Brasil já tem hoje 151 milhões de pessoas vacinadas com a primeira dose, estando à frente, em termos percentuais, de países como Estados Unidos, Alemanha, México, Índia, África do Sul e Rússia. 

— Um ato político não pode ensejar a criminalização de um residente de um país com mais de 200 milhões de habitantes. O direito não pode ser utilizado como instrumento de política. Ou se faz um relatório final técnico ou se elabora uma opinião comprometida politicamente. Não há como mesclar as duas coisas, ou seja, aparência de tecnicidade em um relatório ideológico. Impõe-se foco técnico e ausência de viés político e atuação dentro dos limites constitucionais — disse. 

DESTAQUES

A reunião foi aberta com a apresentação de questões de ordem dos senadores sobre a organização dos trabalhos da comissão na leitura e votação do relatório. Um dos pontos debatidos foi o direito ao pedido de destaques, para votação em separado, conforme reivindicado pelo senador Marcos Rogério (DEM-RO).

O presidente Omar Aziz (PSD-AM) alegou não haver norma regimental e nem precedente em outras CPIs sobre o assunto e que não seria cabível pedido de destaque. O posicionamento recebeu o apoio de oposicionistas.

— Não se trata de uma proposição legislativa. É uma investigação e, por isso, não cabe destaque. Não se tem como mitigar o que foi encontrado pelo relator após a investigação ou melhorar um dado da realidade. Portanto não cabe destaque — avaliou Rogério Carvalho (PT-SE).

Marcos Rogério reclamou ainda do pouco tempo dado pela presidência para leitura dos votos em separado, na próxima reunião, e disse que 20 minutos não seriam o bastante para a apresentação dos textos.

INDICIAMENTO DO PRESIDENTE

O representante de Rondônia também apresentou outra questão de ordem, alegando que o relatório final não poderia propor o indiciamento do presidente da República por cometimento de ilícito penal. Segundo ele, o chefe do Executivo tem um conjunto de prerrogativas de índole processual a fim de lhe assegurar o livre exercício do mandato conferido pela maioria dos eleitores. Conforme Marcos Rogério, “por conta do exercício do cargo, a situação do residente da República é sui generis, sendo diversa da situação de qualquer outra autoridade constituída”.

A questão de ordem foi indeferida pelo presidente Omar Aziz, que alegou que o Senado tem competência para julgar crime de responsabilidade do presidente e seria um contrassenso se não pudesse investigá-lo no âmbito de uma CPI. Ainda segundo ele, cabe ao Parlamento a fiscalização dos atos do Poder Executivo, em especial do chefe do Poder Executivo. 

— Embora o presidente não tenha prestado depoimento ao colegiado, as imputações que lhe são feitas resultam do vasto arcabouço de documentos recebidos pela comissão, dos depoimentos colhidos, bem como do acervo de declarações públicas, gravações e postagens em redes sociais colhidas ao longo desses meses. Nenhum cidadão está acima da lei, isso vale inclusive para o presidente Jair Messias Bolsonaro! — sentenciou, irritado, Omar Aziz.

AMAZONAS

Já o senador Eduardo Braga (MDB-AM) considerou inaceitável que o relatório final não peça a punição de nenhum dos responsáveis pelo caos vivido no Amazonas durante a pandemia.

Para ele, não há dúvida de que houve uma série de crimes e há criminosos que agora precisam ser punidos. O parlamentar apresentou um adendo ao voto de Renan Calheiros, exigindo a punição dos responsáveis, inclusive do governador Wilson Lima.

— Nosso estado foi transformado em um verdadeiro campo de testes, com experimentos, com remédios ineficazes; falta de oxigênio, de leitos de internação e até de covas para enterrar os nossos conterrâneos. Nenhum estado sofreu tanto quanto o Amazonas. Não há nenhuma dúvida de que houve uma série de crimes e de criminosos que precisam ser punidos. Por isso, o Amazonas continua se sentindo injustiçado — afirmou Braga, que apresentou um adendo ao voto do relator sobre o tema. 

Os senadores Izalci Lucas (PSDB-DF) e Soraya Thronicke (PSL-MS) também apresentaram a Renan Calheiros uma complementação de voto tratando especificamente da situação de seus estados: Distrito Federal e Mato Grosso do Sul. 

PROPOSTAS LEGISLATIVAS

O vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP) comunicou que, ao longo do funcionamento da comissão de inquérito, o Portal e-Cidadania, do Senado, recebeu de cidadãos, desde março de 2020, centenas de ideias legislativas relacionadas à CPI e ao drama da pandemia de covid-19.

Segundo ele, as propostas vão ser encaminhadas ao relator Renan Calheiros (MDB-AL), que ainda terá tempo para acrescentar em seu voto final as propostas consideradas mais relevantes e pertinentes. O senador disse que até o dia 26 de outubro estará à disposição para aperfeiçoar seu texto. 

Antes de encerrar a reunião, o presidente Omar Aziz comentou a notícia de que Jair Bolsonaro teria “dado gargalhada” quando foi informado do conteúdo do relatório de Renan Calheiros e mandou um recado ao presidente: 

— O país precisa de afeto, e as imputações ao senhor e ao seu governo são sérias. Não creio que seja uma risada de alívio; pelo contrário é de temor — afirmou. 

INDICIADOS NO RELATÓRIO DA CPI DA PANDEMIA

Presidente da República, Jair Bolsonaro

prevaricação

charlatanismo

epidemia com resultado morte

infração a medidas sanitárias preventivas

emprego irregular de verba pública

incitação ao crime

falsificação de documentos particulares

crimes de responsabilidade (violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo)

crimes contra a humanidade (nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos)

Ex-Ministro da Saúde Eduardo Pazuello

epidemia com resultado morte

emprego irregular de verbas públicas

prevaricação

comunicação falsa de crime

crimes contra a humanidade nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos

Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga

epidemia com resultado morte

prevaricação

Ex-ministro da Cidadania e ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni

incitação ao crime

crimes contra a humanidade nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos

Ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo

epidemia com resultado morte

incitação ao crime

Ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário

prevaricação

Ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco 

epidemia com resultado morte

improbidade administrativa

Secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro

epidemia com resultado morte

prevaricação

crime contra a humanidade

Ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Dias

corrupção passiva

formação de organização criminosa

improbidade administrativa

Representante da Davati no Brasil Cristiano Carvalho

corrupção ativa

Representante da Davati no Brasil Luiz Paulo Dominguetti

corrupção ativa

Intermediador nas tratativas da Davati Rafael Alves

corrupção ativa

Intermediador nas tratativas da Davati José Odilon Torres da Silveira Júnior

corrupção ativa

Ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde e intermediador nas tratativas da Davati Marcelo Blanco

corrupção ativa

Diretora-Executiva e responsável técnica farmacêutica da empresa Precisa, Emanuela Medrades

falsidade ideológica

uso de documento falso

fraude processual

formação de organização criminosa

improbidade administrativa

Consultor jurídico da empresa Precisa, Túlio Silveira

falsidade ideológica

uso de documento falso

improbidade administrativa

Ex-assessor especial do Ministério da Saúde Airton Soligo

usurpação de função pública

Sócio da empresa Precisa Francisco Emerson Maximiano

falsidade ideológica

uso de documento falso

fraude processual

fraude em contrato

formação de organização criminosa

improbidade administrativa

Sócio da empresa Primarcial Holding e Participações Ltda e diretor de relações institucionais da Precisa, Danilo Trento

fraude em contrato

formação de organização criminosa

improbidade administrativa

Advogado e sócio oculto da empresa FIB Bank Marcos Tolentino da Silva

fraude em contrato

formação de organização criminosa

improbidade administrativa

Deputado Ricardo Barros (PPPR)

incitação ao crime

advocacia administrativa

formação de organização criminosa

improbidade administrativa

Senador Flávio Bolsonaro (Patriota‑RJ)

incitação ao crime

Deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP)

incitação ao crime

Deputada Bia Kicis (PSL DF)

incitação ao crime

Deputada Carla Zambelli (PSLSP)

incitação ao crime

Vereador Carlos Bolsonaro (RepublicanosRJ)

incitação ao crime

Deputado Osmar Terra (MDBRS)

epidemia com resultado morte

incitação ao crime

Ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) do governo federal Fábio Wajngarten

prevaricação

advocacia administrativa

Médica participante do ‘gabinete paralelo’ Nise Yamaguchi

epidemia com resultado morte

Ex-assessor da Presidência da República e participante do ‘gabinete paralelo’ Arthur Weintraub

epidemia com resultado morte

Empresário e participante do ‘gabinete paralelo’ Carlos Wizard

epidemia com resultado morte

incitação ao crime

Biólogo e participante do ‘gabinete paralelo’ Paolo Zanotto

epidemia com resultado morte

Médico e participante do ‘gabinete paralelo’ Luciano Dias Azevedo

epidemia com resultado morte

Presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro

epidemia com resultado morte

Ministro da Defesa e ex-ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto

epidemia com resultado morte

Blogueiro suspeito de disseminar fake news Allan Lopes dos Santos

incitação ao crime

Editor do site bolsonarista Crítica Nacional suspeito de disseminar fake news Paulo de Oliveira Eneas

incitação ao crime

Empresário suspeito de disseminar fake news Luciano Hang

incitação ao crime

Empresário suspeito de disseminar fake news Otávio Fakhoury

incitação ao crime

Diretor do jornal Brasil Sem Medo, suspeito de disseminar fake news, Bernardo Kuster

incitação ao crime

Blogueiro suspeito de disseminar fake news Oswaldo Eustáquio

incitação ao crime

Artista gráfico supeito de disseminar fake news Richards Pozzer

incitação ao crime

Jornalista suspeito de disseminar fake news Leandro Ruschel

incitação ao crime

Deputado Carlos Jordy (PSLRJ)

incitação ao crime

Assessor Especial para Assuntos Internacionais do Presidente da República Filipe G. Martins

incitação ao crime

Assessor Especial da Presidência da República Técio Arnaud

incitação ao crime

Ex-presidente da Fundação Alexandre Gusmão (Funag) Roberto Goidanich

incitação ao crime

Político suspeito de disseminar fake news Roberto Jefferson

incitação ao crime

Sócio da empresa VTCLog Raimundo Nonato Brasil

corrupção ativa

improbidade administrativa

Diretora-executiva da empresa VTCLog Andreia da Silva Lima

corrupção ativa

improbidade administrativa

Sócio da empresa VTCLog Carlos Alberto de Sá

corrupção ativa

improbidade administrativa

Sócia da empresa VTCLog Teresa Cristina Reis de Sá

corrupção ativa

improbidade administrativa

Ex-secretário da Anvisa José Ricardo Santana

formação de organização criminosa

Lobista Marconny Albernaz de Faria

formação de organização criminosa

Médica da Prevent Senior Daniella Moreira da Silva

homicídio simples

Diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior

perigo para a vida ou saúde de outrem

omissão de notificação de doença

falsidade ideológica

crime contra a humanidade

Médica da Prevent Senior Paola Werneck

perigo para a vida ou saúde de outrem

Médica da Prevent Senior Carla Guerra

perigo para a vida ou saúde de outrem

crime contra a humanidade

Médico da Prevent Senior Rodrigo Esper

perigo para a vida ou saúde de outrem

crime contra a humanidade

Médico da Prevent Senior Fernando Oikawa

perigo para a vida ou saúde de outrem

crime contra a humanidade

Médico da Prevent Senior Daniel Garrido Baena

falsidade ideológica

Médico da Prevent Senior João Paulo F. Barros

falsidade ideológica

Médica da Prevent Senior Fernanda de Oliveira Igarashi

falsidade ideológica

Sócio da Prevent Senior Fernando Parrillo

perigo para a vida ou saúde de outrem

omissão de notificação de doença

falsidade ideológica

crime contra a humanidade

Sócio da Prevent Senior Eduardo Parrillo

perigo para a vida ou saúde de outrem

omissão de notificação de doença

falsidade ideológica

crime contra a humanidade

Médico que fez estudo com proxalutamida, Flávio Cadegiani

crime contra a humanidade

Precisa Comercialização de Medicamentos Ltda

ato lesivo à administração pública

VTC Operadora Logística Ltda – VTCLog

ato lesivo à administração pública

Fonte: Agência Senado

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