quinta-feira, novembro 21, 2024
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Com corte de quase 90%, Ciência brasileira se vê em apuros

Sem perspectivas de investimento, agências têm que redirecionar ou escolher o que vão fomentar

O pesquisador Pedro Salles estuda, há seis anos, o reaproveitamento de resíduos de construção e demolição. A pesquisa, que ele começou a desenvolver no mestrado em Engenharia Civil no CEFET-MG, e continua agora no doutorado tem relevância nacional: o setor de construção civil é, por um lado, uma das áreas que mais gera riqueza e postos de trabalho e, por outro lado, a que mais produz resíduos para o meio ambiente.

Grande parte dos resíduos não recebe a destinação correta e fica exposta em terrenos baldios, áreas de preservação e vias públicas, o que agrava ainda mais a situação ambiental. Nesse sentido, o reaproveitamento de resíduos sólidos da construção civil traz benefícios econômicos, sociais e ambientais. “A indústria do cimento polui muito, então, quanto maior a quantidade de resíduos que você consegue incorporar nesses concretos, menos poluentes deixam de ser lançados. Você evita a extração de novos recursos não renováveis e dá destinação adequada para os resíduos”, explica o estudante.

AMEAÇA

Os estudos de Pedro e de muitos outros pesquisadores brasileiros estão sendo ameaçados em meio à crise da ciência brasileira, provocada pelos cortes orçamentários pelo Governo Federal e que vêm afetando o financiamento dos pesquisadores. Pedro, que é integrante da Associação de Pós-Graduandos (APG) do CEFET-MG, órgão máximo de representação estudantil da Pós-Graduação da Instituição, foi bolsista da Capes no mestrado e uma parte no doutorado. Ele acredita que o corte de verbas interfere em muitas questões, como o fato de não haver bolsas de pesquisa para todos os alunos que precisam, de as bolsas não sofrerem reajustes há anos e tem ainda os problemas com os equipamentos necessários para o desenvolvimento dos trabalhos. “Para a minha pesquisa, preciso de um maquinário que está quebrado e não tem verba para o conserto, assim o processo fica moroso. Se tivesse mais verbas, maior seria a manutenção e o reparo nos equipamentos. Além disso, o corte de verbas provoca impactos na participação de congressos, cursos, tradução de artigos e material básico para a pesquisa. Quanto mais se fala em cortes de verbas, pior fica a situação da pós-graduação”, destaca Pedro.

FORMAS DE SOBREVIVÊNCIA

Em outubro de 2020, o Governo Federal anunciou o corte de mais de 90% nos recursos a serem destinados para bolsas de apoio à pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e projetos já agendados pelo CNPq. Após o pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Congresso reduziu de R$ 690 milhões para R$ 55 milhões destinados para o apoio à pesquisa. A proposta aprovada remanejou os recursos do financiamento de pesquisas e destinou-os para aplicações em outros sete ministérios.

GOLPE DURO

Para o diretor de Pesquisa e Pós-Graduação do CEFET-MG, professor Conrado Rodrigues, a subtração dos recursos destinados a bolsas e apoio à pesquisa é um golpe duro na ciência e na inovação que prejudica o desenvolvimento nacional. “Para acontecer, a pesquisa científica precisa de financiamento e organização, que começa no contexto político e depois permeia os vários entes que compõem um sistema de muitos atores, desde o governo central, com a ideia inicial de qual a perspectiva, qual o papel da ciência no desenvolvimento do país, de uma sociedade. No meu ponto de vista, se não parte do governo central uma iniciativa de incentivo à pesquisa, essa cadeia de muitos agentes fica mal amarrada, com problema de coordenação e esforços, os entes ficam sem direção e sem saberem como interagir”, explica Conrado.

MENOS RECURSOS

Do ponto de vista do financiamento, segundo o professor, há um problema grave, há menos dinheiro no sistema que é grande em termos de número de universidades, cursos de pós, alunos, projetos e demandas, e recursos é cada vez menor. Frente a essas dificuldades, o professor considera que as agências de fomento estão reavaliando a forma de conceder apoios. “Essa escassez está fazendo com que as agências redirecionem ou definam melhor o que vão fomentar. Outra tendência do financiamento é tentar reduzir a duplicação de esforços, você fomentar dois projetos parecidos em duas instituições próximas.

FOMENTO A PROJETOS

Como resolver isso? Fomentando projetos que envolvam redes de pesquisa, integração entre instituições, entre grupos de pesquisa. Com essa escassez, surge a maturidade de usar cada vez melhor os recursos; ela nos obriga, como gestores e pesquisadores, a sermos racionais ao propormos formas interessantes de recursos para apresentarmos as propostas”.

São cortes gravíssimos, mas que estão conseguindo ser revertidos com a liberação de editais. Segundo Conrado, os programas de fomento do CEFET-MG serão mantidos, bem como o apoio para a participação em eventos, taxas para publicação em periódicos e aos discentes. “Nós manteremos as bolsas e reajustaremos os valores com recursos próprios. É importante frisar que o apoio que o CEFET-MG dá para a pesquisa e pós-graduação é essencial para manter as nossas atividades, mas não prescinde do apoio das agências de fomentos. O que a Capes, Fapemig, CNPq oferecem em conjunto são muitos mais vultosos do que o CEFET-MG dispõe”.

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