(*) Fernando Benedito Jr.
Os depoimentos dos réus na trama golpista seguem um enredo único: o das mentiras. O esquecimento também é recurso recorrente em praticamente todos os depoimentos. “Não me lembro, excelência” é certamente uma das frases mais ditas no plenário do tribunal. Mas o que chama a atenção é o cinismo. Quem via Bolsonaro, durante seu governo, diariamente gritando bravatas no “cercadinho” instalado como palanque na entrada do Palácio do Planalto, há de se lembrar da arrogância, dos reiterados discursos contra as urnas, em favor do voto impresso e auditável, contra o STF e as instituições democráticas das “patadas” em jornalistas.
A campanha contra o STF e as urnas eletrônicas – numa tentativa de, desde então, arruinar a credibilidade do processo eleitoral e fabricar fraudes – era um discurso que se espraiava para seus seguidores, repercutido por Eduardo Bolsonaro como num ilustrativo quadrinho do Recruta Zero de que bastava um cabo e um soldado num jipe para fechar o Supremo.
O noticiário está repleto de fotos de aguerridos dirigentes políticos e seguidores nas portas dos quartéis pedindo o golpe militar com Bolsonaro no poder, GLO dentro das “quatro linhas da Constituição”. De Bolsonaro discursando na porta de quartel, de “devotos” vestidos de verde e amarelo marchando, orando e gritando por golpe, AI-5, tanques e fuzis contra a democracia. E os bajuladores lá, acariciando Bolsonaro em seus ataques de aleivosia.
Agora, o que se vê é vexatório. Vergonhoso. Falsidades, mentiras, desculpas. Os senhores do golpe e da guerra, defensores de armas, se mostram estrategicamente cândidos, rivotrilizados, educados e gentis como nunca foram.
Mas, farsantes como sempre.
Sem anistia!
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DA.