sexta-feira, agosto 1, 2025
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Centenário da Coluna Prestes é celebrado em Uberlândia

Filho de Luiz Carlos Prestes percorre o País em eventos que resgatam a memória da marcha histórica de 25 mil quilômetros contra a oligarquia e o coronelismo

FOTO 1: A Coluna Prestes foi um movimento revolucionário que inaugurou a nova política brasileira no século XX – CRÉDITO: Acervo/Luiz Carlos Prestes Filho

FOTO 2: Luiz Carlos Prestes foi um dos mais importantes líderes populares do País – CRÉDITO: Jacqueline Ioner (05/03/1987)

O documentarista, poeta e compositor Luiz Carlos Prestes Filho participa do simpósio “100 anos da Coluna Prestes: Perspectivas para o Brasil”, no próximo dia 5 de agosto, às 19:00h, no auditório 3Q, campus Santa Mônica, da Universidade Federal de Uberlândia. Filho de Luiz Carlos Prestes, o lendário “Cavaleiro da Esperança”, Luiz Carlos Prestes Filho, vem percorrendo o País para lembrar o centenário da Coluna Prestes, o movimento anti-oligárquico, deflagrado em 1925, que percorreu o País numa longa marcha de 25 mil quilômetros, em luta contra a estrutura política coronelista, em defesa da industrialização do Brasil, eleições com o voto secreto, direito das mulheres votarem e do desenvolvimento econômico nacional independente.

“Para mim é uma felicidade poder dar esta contribuição de resgate histórico da marcha, que é muito pequena diante do que foi a grandiosidade da Coluna Prestes”, diz o documentarista, músico e poeta.

NA ESTRADA

Prestes Filho, no ano de 1995, refez o percurso da Coluna, agora, volta à estrada por iniciativa e com recursos próprios para manter o legado do pai. Ele está fazendo uma série de palestras e visitas a locais históricos por onde a Coluna passou, revisitando e colaborando com restauro de monumentos em homenagens a Luiz Carlos Prestes e à Coluna que leva seu nome. Desde 2024 já esteve em Santo Ângelo, São Luiz Gonzaga e Pinheirinho do Vale, no Rio Grande do Sul. Também, em Descanso, em Santa Catarina; e em Foz do Iguaçu e Santa Helena, no Paraná.

Em 2025 já visitou Palmas, Porto Nacional e Arraias, no Tocantins; Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás; e o Distrito Federal.

A COLUNA EM MG

Embora, Uberlândia não esteja no roteiro da Coluna Prestes, o filho do comandante foi convidado por professores e historiadores da cidade para falar sobre a passagem do movimento por Minas Gerais, onde a Coluna escreveu um dos episódios mais emblemáticos de sua travessia pelo Brasil. Além de afrontar o então presidente da República Arthur Bernardes, que antes de assumir o mandato era governador de Minas, o Cavaleiro da Esperança realizou em solo mineiro a manobra denominada “Laço Húngaro”, que enganou as tropas legalistas do exército e da então Força Pública de MG, desenhando na mecânica da marcha, o formato da insígnia de mesmo nome que o exército utilizava na época.

Prestes Filho sugere que localidades e cidades do norte de Minas, como Rio Pardo ou Grão Mogol, que estiveram no trajeto da Coluna Prestes realizassem o Monumento Coluna Prestes, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que já foi construído nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Tocantins e Ceará.

Seria uma obra que faria moradores sempre lembrar o feito histórico, o que poderia inclusive, estimular o turismo nestas localidades.

“Chegamos a entrar em contato com o atual governo do Estado de Minas, mas infelizmente, a resposta que tivemos que foi que para este tipo de homenagem Minas não tem interesse de dar apoio”, lembrou.

MOVIMENTO LIBERAL

Prestes Filho lembra que a Coluna Prestes, ainda que tenha sido um movimento revestido de grande heroísmo, que travou importantes batalhas militares e tivesse, à época, um caráter rebelde e revolucionário, não era necessariamente marxista.

“Foi um movimento liberal. Não tinha nada de marxismo, mas abriu a mente do papai, a partir do contato com a realidade brasileira, levando-o, posteriormente, a abraçar o marxismo, ao perceber que não basta mudar um homem no poder, trocar presidentes. Temos que mudar o sistema econômico e político. Entregar a terra e as fábricas para quem nelas trabalha.

Em 1946, já como senador da República [eleito pelo Partido Comunista Brasileiro – PCB], ele vai implementar a sua visão do papel social da terra, da reforma agrária, que ele, inclusive, colocou na Constituição, por entender que o controle da terra não pode ficar com o 1% mais rico, enquanto a ampla maioria nada tinha”, lembra Prestes Filho.

Ele enumera ainda outras pautas que foram caras à Coluna Prestes e que continuam em voga até hoje. “O Manifesto de Santo Ângelo, que deu origem à coluna, defendia a nossa independência econômica em relação aos ingleses que hoje continua sendo uma luta contra o imperialismo norte-americano. Já na segunda década do século XX, a Coluna defendia a industrialização do Brasil como forma de se contrapor ao atraso do modelo agrário. Hoje a reindustrialização volta a ser um tema em debate no País. As bandeiras da Coluna Prestes dizem muito a respeito da realidade atual do Brasil”, pontua Prestes Filho, guardando a devida distância histórica, política e econômica de épocas tão distintas.

ESTRATÉGIAS MILITARES

Em suas andanças pelo País para celebrar o centenário da Coluna Prestes, o filho do “Cavaleiro da Esperança” diz que vai abordar alguns aspectos militares do movimento que travou batalhas importantes e conseguiu se safar das tropas perseguidoras até seu exílio na Bolívia. “Vou falar como rompeu o Anel de Ferro, em São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul; como venceu a batalha conhecida como Maria Preta, em Santa Catarina; e de Santa Helena, no Paraná, onde a Coluna derrotou o então general Cândido Rondon. Este foi um episódio marcante porquê determinou o fim da carreira militar de Rondon, ainda que ninguém fale sobre isso. Em Santa Helena, Rondon achou que havia “engarrafado” a Coluna e telegrafou ao presidente da República afirmando que os rebeldes haviam sido derrotados. Meu pai consegue então atravessar o rio Paraná, o que era absolutamente improvável, e vai cortar terras paraguaias e bater em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Depois sobe para Dourados e Campo Grande e seguindo pelo Brasil. Rondon, depois de ser derrotado pela estratégia militar de Prestes abandona a atividade militar e tornou-se catequizador de índios e implantador de telégrafos”, ironiza Prestes Filho.

Tais ousadias ele atribui em grande parte à juventude dos oficiais da Coluna. A idade média do alto comando era de 26 anos. À impetuosidade da juventude, alia-se a firme defesa das causas do movimento. Em especial, a defesa da soberania nacional.

MARCOS E MONUMENTOS

Em sua jornada pelas comemorações do centenário da Coluna, Luiz Carlos Prestes Filho deverá revisitar vários locais e monumentos em homenagem ao pai e ao movimento que ele liderou. Em novembro será reinaugurado o Memorial Coluna Prestes Tocantins, em Palmas. Em Santa Helena foi revitalizado o Monumento Coluna Prestes, de 25 metros de altura (em alusão aos 25 mil km percorridos pela Coluna). Ambos foram projetados por Oscar Niemeyer, amigo e companheiro de Prestes. No roteiro estão ainda a cidade de Descanso, em Santa Catarina – o município surgiu a partir de uma clareira onde a Coluna parou para descansar (daí o nome) e que este ano também celebra 100 anos; Santo Ângelo, de onde a Coluna iniciou sua marcha e onde a estação ferroviária tornou-se um memorial em homenagem a marcha; Crateús, no Ceará, que foi o ponto mais alto onde a Coluna chegou.

O leitor pode conhecer melhor a vida de Prestes e a trajetória da Coluna lendo o livro “Cavaleiro da Esperança” do escritor baiano Jorge Amado. Escritores mineiros como Guimarães Rosa, em “Grande Sertão, Veredas”, e Fernando Benedito Jr. no livro “O Laço Húngaro”, dedicaram páginas a este evento revolucionário que inaugurou a política brasileira no século XX.

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