(*) Walber Gonçalves de Souza
Completei em 2022, 22 anos de magistério, do ensino fundamental ao superior; são muitas experiências acumuladas e vivenciadas no chão de uma sala de aula. Desde quando me formei, sempre pensei que pela educação, podemos transformar o rumo de uma nação, em especial o nosso Brasil, um país tão rico, de gente (maioria) tão pobre.
Mas, infelizmente não é isso que tenho percebido ao longo de todo esse tempo. E seria como chover no molhado, dizer o que todos nós já sabemos: a educação no Brasil não passa de uma grande mentira, de uma grande farsa, com raras exceções, em algumas escolas, espalhadas nos recantos do Brasil. O que vemos de fato é, ano após ano, uma triste realidade camuflada em índices e um monte de conversa fiada, com ares de uma pedagogia modernizada. Basta conhecer as entranhas de uma escola que saberão que nossa realidade é de aterrorizar.
Sem medo de errar, posso afirmar com toda certeza, que a nossa educação é de péssima qualidade e caminha, a cada dia, a passos largos, para se tornar ainda pior, mesmo parecendo não ser possível mais ultrapassar o fundo do poço. Um dia pensei que a educação poderia mudar a sociedade, mas o que vejo é justamente o contrário, a sociedade mudou a educação e levou para dentro das escolas todos os seus vícios e problemas.
Discursos bonitos aparecem em todas as eleições. Mas vivemos de promessas e contos do vigário. Sempre há alguém, que nunca pisou em uma sala de aula, da educação básica, propondo uma metodologia nova, um jeito novo; mas como diria o ditado popular “de boas intenções o inferno está cheio”. A pedagogia da modinha, criada por aqueles que não conhecem a realidade de uma escola, que é o que mais acontece na educação brasileira, só escancara um dos nossos grandes desafios: estabelecer uma política pública de Estado para a nossa educação e não a corriqueira política de governo, o que trivialmente acontece.
Nossas escolas estão tomadas e reféns da generalizada indisciplina, e de tudo aquilo que dela deriva, várias pelo tráfico, e tantas outras, pelo literal, abandono. A falta de professor já é percebida, em lugares, que nunca se imaginaria faltar. A educação brasileira é um faz de contas. Pouco se ensina, por inúmeros motivos, e por consequência, pouco ou quase nada se aprende. Mas, o discurso governamental é sempre o mesmo: nossa educação vai bem! Afinal, ninguém quer admitir a realidade. É sempre mais fácil (ou tentar) tapar o sol com a peneira, ou jogar a sujeira para debaixo do tapete.
Tenho consciência que provavelmente essa carta não chegará ao seu destino final, que são o presidente e governadores eleitos, mas fica o desabafo e a eterna esperança de dias melhores. Por isso, peço, vamos encarar os desafios da educação de frente. Ela não pode ser medida simplesmente por números, por estatísticas. Precisamos alcançar resultados, que se manifestam na vida das pessoas, através de condições humanas e civilizadas de vivências coletivas.
Precisamos buscar formas eficazes de combater a indisciplina, de valorizar a carreira docente, de tornar o ambiente escolar um lugar propício e necessário para o aprendizado, e principalmente, estimular as pessoas a acreditarem na escola (educação) como um meio de crescimento humano e social. O que não dá mais é continuar como está: fingindo que as coisas estão acontecendo.
E para finalizar, convido a cada um dos (as) senhores (as), a escolher uma escola, de um dos bairros periféricos de qualquer cidade brasileira, pois retratam a realidade da imensa maioria das escolas do País, e ministrar, durante um mês, aulas de uma disciplina por vós escolhida. E se não for pedir demais, que seu salário, durante o seu mandato, seja igual ao do professor. Quem sabe assim, os senhores, de fato, comecem a procurar entender o que é a educação brasileira e por consequência, buscar e fomentar as devidas soluções.
Cordiais saudações de um professor, que não vai desistir da educação!
(*) Walber Gonçalves de Souza é professor com orgulho.