Policia

Candidato a vereador é assassinado em Ipaba

Os acusados do crime, Sandro Lúcio Coelho (esquerda), 24 anos, e Giovane Paulo da Silva (direita), 27 anos, já estão presos    (Fotos: Gizelle Ferreira)

IPABA – O assassinato do candidato a vereador Onéias da Silva Guerra (PSDC), conhecido popularmente como “Enéias”, de 46 anos, já está resolvido pela polícia. Na tarde de ontem, os dois principais acusados foram autuados por homicídio. Giovane Paulo da Silva, 27 anos, acabou confessando o crime. Sandro Lúcio Coelho, 24 anos, também está preso, acusado de participar e colaborar com o homicídio. Os dois se encontram presos no Ceresp de Ipatinga.
Onéias foi morto na noite da última terça-feira (2) com um tiro nas costas, que transfixou o peito. O homicídio ocorreu na avenida José Rodrigues de Almeida, no centro da cidade. A confusão que terminou em assassinato aconteceu após a realização de um comício da coligação “Fé e Trabalho com Honestidade”, no bairro Vale Verde, do candidato Geraldo da Farmácia (PMDB), da qual Onéias fazia parte. O candidato foi socorrido ao Hospital Márcio Cunha, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no caminho.
No momento da confusão, uma jovem de 20 anos também foi atingida na virilha por um dos disparos efetuados contra o candidato. Ela também foi levada ao HMC, onde foi atendida e a bala retirada.

IMAGENS
Embora a arma do crime não tenha sido encontrada, para a Polícia Civil está mais do que claro a participação da dupla na morte do candidato. O delegado responsável pela investigação Ricardo Cesari descreve o assassinato como consequência de um embate político. “Houve uma discussão, que desencadeou uma agressão e, em resposta, o autor matou a vítima”, resumiu o delegado.
Imagens capturadas por uma câmera instalada em um comércio na rua onde ocorreu o homicídio mostram o tempo todo Sandro e Giovane antes, durante e depois do assassinato.
Nas cenas os dois acusados aparecem correndo em direção oposta ao local do crime e em seguida voltam caminhando tranquilamente até a praça, onde ocorria a confusão. Em outra imagem aparece um clarão e, segundos depois, a dupla corre novamente, fugindo do local. “O tempo todo, os dois estavam juntos. Para a polícia, o Sandro mentiu ao dizer que não estava mais com Giovane na hora dos tiros, e o que parece é que depois da confusão eles vão até o carro, buscam a arma e o Giovane mata o candidato”, explica o delegado.
Giovane e Sandro foram autuados por homicídio, sendo Sandro apontado como partícipe, por ter colaborado com a ação criminosa e acobertado a fuga do autor dos disparos.

CONFUSÃO
Segundo consta no Boletim de Ocorrência da Polícia Militar apresentado à 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Ipatinga, no local do homicídio ocorria uma aglomeração de militantes da coligação “Ipaba de Cara Nova”, do candidato “Marquinhos do Odilon” (PDT). Conforme as informações repassadas à Central de Operações da PM, o candidato Onéias estaria de posse de uma arma de fogo, ameaçando os seus opositores. Porém, esta versão foi contestada por pessoas ligadas ao candidato.
No meio do tumulto houve dois disparos, um atingiu o candidato e o outro a jovem de 20 anos. Quando a polícia chegou ao local, Onéias já estava caído e foi socorrido imediatamente por uma ambulância da Prefeitura de Ipaba.

PRISÕES
Durante os levantamentos, a polícia recebeu a informação de que Sandro Lúcio Coelho, 24 anos, teria dado fuga ao atirador em um Ford Fiesta. Militares foram até a casa do suspeito, conduzindo-o até a delegacia. Dentro do carro dele a polícia encontrou um coldre.
Em rastreamento, os oficiais não conseguiram localizar o autor dos disparos. Mas, algumas horas depois, Giovane Paulo da Silva, 27 anos, se apresentou espontaneamente à Cia. da Polícia Militar, onde confessou ser o autor dos tiros e alegou ter agido em legítima defesa.

LEGÍTIMA DEFESA
A reportagem do DIÁRIO POPULAR ouviu os dois principais acusados no crime. Giovane disse que antes da confusão participou de um bingo e que depois resolveu ir para a praça onde havia uma aglomeração de pessoas ligadas ao candidato do PDT.
Na versão do acusado, um colega dele teria colocado no chão uma faixa de seu candidato (Marquinhos do Odilon) e que Onéias não teria gostado, momento em que teria empurrado o rapaz. “Eu fui tentar conversar com o Onéias e quando cheguei perto dele, ele sacou a arma ameaçando a gente e depois foi puxado pela turma dele”, conta o acusado, alegando que em outro momento voltou para tentar um novo diálogo com o candidato. “Foi nessa hora que alguém me deu uma punhalada no pescoço. E quando o sangue começou a jorrar eu peguei a arma e atirei”, confessa.
Embora tenha confessado a autoria do crime, Giovane disse que não chegou armado ao local, mas não conseguiu explicar como a arma apareceu em sua mão. “Eu não vi quem me entregou a arma. Eu sei que alguém me deu e depois que eu atirei, joguei no chão e saí correndo. Agi por impulso. Estou muito arrependido”, lamenta o acusado.
Já Sandro – apontado como partícipe do crime – também conversou com a reportagem. Ele confirmou que chegou ao local do crime com Giovane, mas negou que tenha lhe dado fuga.
Sandro ainda entrou em contradição ao contar o restante da história, já que depois do assassinato, disse não estar mais em companhia de Giovane. “Na hora dos tiros eu nem ouvi. Estava pegando meu irmão, chamei minha esposa, meu filho e fomos todos para casa. Quando cheguei lá, a polícia veio atrás e me prendeu. O Giovane agiu em legítima defesa, porque se não fosse ele, o Enéias teria matado nós dois”, defendeu.


                                    Candidato Onéias Guerra

 

“O sangue do meu pai está nas mãos do opositor”
Filha da vítima diz que assassinato do pai foi perseguição política

Ipaba– Esta foi a terceira vez que Onéias Guerra se candidatava a vereador no município de Ipaba. A filha da vítima e coordenadora de campanha do candidato, Gleiciele Almeida Guerra, 25 anos, acredita que o pai tenha sido vítima de uma perseguição política.
Ela contou que na noite do crime estava com o pai em um comício no bairro Vale Verde e que o evento teria sido boicotado pelos adversários. “Não tinha energia lá, depois começaram a soltar umas bombas no meio da gente e meu pai decidiu voltar para o Centro, onde iria acontecer uma passeata. Mas fomos cercados por militantes do outro lado que começaram a nos provocar”, disse a jovem.
Gleiciele relembra que ao ver o pai no meio da confusão com os militantes contrários, o levou para a casa de Geraldo da Farmácia, candidato a prefeito pela coligação “Fé e Trabalho com Honestidade” . “Até falei para ele não mexer com briga porque a candidatura dele estava bem. Estão até dizendo que ele estava armado e isso eu posso garantir que não é verdade, pois nem arma ele tem”, diz.
O corpo do candidato Onéias será sepultado hoje no Cemitério de Ipaba e integrantes da coligação optaram por encerrar qualquer programação política. “Como coordenadora da campanha do meu pai, nós decidimos não fazer mais nenhuma atividade e quero dizer que o sangue do meu pai está nas mãos do nosso opositor. Meu pai foi vítima de um crime político. Ele foi cercado e xingado no meio da rua por duas vezes. Além disso, o que fizeram com ele foi uma falta de respeito com os eleitores”, concluiu.


Filha de candidato acredita em crime político e acusa oposição de perseguição

 

CRIME REPERCUTE NA CIDADE
IPABA
– Na cidade não se fala em outra coisa senão no assassinato do candidato. Nas ruas, os moradores chocados expressam as mais variadas opiniões. O agente penitenciário José Maria da Silva, 43 anos, lembra que sempre houve algumas discussões em épocas de eleição, mas, nunca se chegou às vias de fato. “Eu acho que o crime foi encomendado”, diz.
O aposentado José Mário, 84 anos, é morador de Ipaba há mais de 40 anos. Segundo ele, nunca se viu algo parecido na cidade e disse estar aborrecido com a situação. “Isso é política ou guerra. Porque se for guerra, eu não quero participar”, opina.

 

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