BRASÍLIA – “Cala a Boca, Cala a boca!”, gritou o destemperado presidente Jair Bolsonaro a jornalistas em seu show semanal no cercadinho do Palácio do Planalto onde para pela manhã para cumprimentar apoiadores e falar sobre o que bem entender, não raro, criticar a imprensa, desancar jornalistas, fazer reclamações ou declarações inflamadas que acabam criando a crise da semana.
Nesta terça-feira, em tom autoritário, Bolsonaro abriu fogo contra o jornal “Folha de S. Paulo”. Ele negou, ao contrário do que informou o jornal, que tenha pedido a cabeça do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro e, ao rebater uma reportagem da “Folha de S.Paulo”, fez ataques à imprensa que o aguardava na saída do Palácio da Alvorada. Sem responder perguntas, o mandatário elevou o tom, inflamou seus apoiadores contra os jornalistas e chegou a gritar que os profissionais deveriam “calar a boca”.
A ira decorre, segundo Bolsonaro, de uma reportagem da Folha publicada ontem. No texto, a coluna “Painel”, da jornalista Camila Mattoso, observa que a superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro é um foco de interesse da família Bolsonaro. O comando da regional já havia sido motivo de impasse entre o presidente e o ex-ministro Sergio Moro, que se demitiu da chefia do Ministério da Justiça e Segurança Pública e acusou Bolsonaro de impor mudanças na estrutura hierárquica da PF por desejo pessoal —um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) foi instaurado para apurar se houve irregularidade.
PF DO RIO
Em agosto do ano passado, Bolsonaro atropelou o então diretor-geral da instituição, Maurício Valeixo, e anunciou a substituição do comando da superintendência fluminense, algo que ainda estava sendo discutido internamente. Valeixo foi o pivô da saída de Moro, pois Bolsonaro exonerou o delegado contra a vontade do ex-ministro. No lugar, ele tentou nomear um amigo pessoal, Alexandre Ramagem. O ato, no entanto, foi barrado por liminar do ministro do STF Alexandre de Moraes.
Tão logo assumiu o cargo de diretor-geral, o substituto de Ramagem, Rolando Souza, determinou a troca de comando no Rio. Carlos Henrique Oliveira, que estava no exercício da função, foi convidado para ser o diretor-executivo, número dois na hierarquia do órgão. Esse é o argumento de Bolsonaro para negar que a decisão de Souza tenha sido orientada por ele, por motivação pessoal. “Para onde está indo o superintendente do Rio de Janeiro? Para ser o diretor executivo da PF. Ele vai sair da superintendência para ser diretor-executivo. Estou trocando ele? Estou tendo influência sobre a Polícia Federal? Isso é uma patifaria”, reclamou.
INOCENTE
“O atual superintendente do Rio de Janeiro que o Moro disse que eu quero trocar por questões familiares, não tem nenhum parente meu investigado pela Polícia Federal, nem eu, nem meus filhos, zero. Uma mentira que a imprensa replica o tempo todo dizendo que meus filhos querem trocar o superintendente.” As ofensas dirigidas por Bolsonaro à imprensa na manhã de hoje ocorrem em meio a uma crise institucional com o STF —apontada por lideranças políticas como um possível flerte com o autoritarismo— e dois depois que um fotógrafo do jornal “Estado de S.Paulo” foi agredido com socos, chutes e tapas por simpatizantes do presidente durante uma manifestação pró-governo, em Brasília.