Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – O governo federal decidiu seguir a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de realizar o maior número possível de testes para identificar pessoas infectadas com o novo coronavírus e espera ter um total de 22,9 milhões de kits à disposição para enfrentar a doença, afirmou nesta terça-feira o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira.
Segundo o secretário, os testes serão divididos em dois tipo diferentes: 14,2 milhões de testes moleculares e outros 8 milhões de testes rápidos. O primeiros, chamados de PCR, serão usados para testagem em pacientes graves e em amostras em postos de saúde, para monitoramento da epidemia.
Já os testes rápidos serão usados em profissionais de saúde e para ampliar as testagens de pessoas com síndromes gripais —que podem ser sintomas leves de coronavírus— que procurarem o sistema de saúde.
“Apesar de considerar que poderíamos ter uma estratégia menos intensa, vamos seguir a orientação da OMS”, disse o secretário em entrevista coletiva.
A Reuters antecipou na segunda-feira que o Ministério da Saúde mudaria o protocolo e aumentaria a testagem para coronavírus. A alegação é que agora o governo brasileiro terá acesso a mais testes do que o previsto inicialmente, o que permitiria seguir as orientações da Organização, que inicialmente o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, classificou como um desperdício de recursos para os países.
De acordo com o documento apresentado pelo Ministério da Saúde, o laboratório público FioCruz produzirá 2 milhões de testes PCR até o final do mês e outro 1 milhão nos próximos três meses. O governo federal fará uma compra de outros 10 milhões, enquanto a Petrobras e outras empresas doarão, juntas, outros 1,9 milhão de unidades.
Já os testes rápidos tem a previsão, por enquanto, de produção de 3 milhões de unidades pela FioCruz até o final do mês. Além disso, a empresa Vale do Rio Doce comprou 5 milhões de unidades que devem chegar no país nos próximos três meses, com um primeiro lote de 1 milhão até o início de abril.
O secretário de vigilância epidemiológica estima que o Brasil vai ser um dos países com maior número de casos confirmados no mundo porque realizará uma grande quantidade de testes. Segundo ele, no pico da epidemia, devem ser realizados de 30 a 50 mil testes por dia.
“Não temos ainda essa escala, nas próximas semanas vamos chegar mais próximo disso. Nossa capacidade atual é de 6,7 mil testes por dia”, afirmou. “Estamos usando toda a possibilidade, toda a capacidade instalada em território nacional. Estamos negociando com parceiros para rodar o maior número de testes.”
A recomendação da OMS foi feita com base no sucesso que a Coreia do Sul está tendo em controlar a epidemia de coronavírus. Uma das razões apontadas pelos especialistas está no fato do país ter ampliado a testagem para o máximo de pessoas possível. Isso porque um número significativo de infecções vem de pessoas assintomáticas para o vírus.
Questionado pela Reuters sobre essa estratégica em entrevista no Palácio do Planalto na última quarta-feira, o ministro da Saúde respondeu, irritado, que seria um “desperdício, do ponto de vista sanitário” de recursos preciosos para os países. Chegou a alegar que a Coreia do Sul era um país muito menor que o Brasil, com apenas 4 milhões de habitantes —na verdade, o país tem 51,5 milhões.
“Tudo que é comentado na história das epidemias é fazer as testagens até que você tenha transmissão sustentável. E a partir do momento que você tem transmissão sustentável, fazer por sentinela e amostragem”, afirmou Mandetta na ocasião.