Incêndio em estátua de bandeirantes paulista lança luz sobre sua história e revela que viveu 15 anos entre os índios, “como um cacique”
IPATINGA – O fogo contra a estátua de Borba Gato, acabou lançando luz sobre a história do bandeirante que revela facetas bem diferentes daquelas que a manifestação da “Revolução Periférica” queria fazer. Em primeiro lugar, que Borba não era um caçador, escravizador e matador de índios, mas que viveu entre eles, em paz e durante longo tempo, assimilando sua cultura e sendo tratado como um cacique. A segunda é que esta vivência de Borba Gato entre os Mapaxós aconteceu entre 1682 a 1698, exatamente onde hoje está a cidade de Ipatinga, na foz do Rio Piracicaba com o Rio Doce.
O historiador gaúcho Eduardo Bueno em vídeo (ver no link acima), comenta sobre Borba Gato e desmente a versão de que ele matava índios. O bandeirante viveu 15 anos entre índios após matar um Superintendente de Minas, Dom Rodrigo Castelo Branco, que representava o Rei de Portugal, e substituiria Fernão Dias na administração das minas.
No vídeo, Eduardo Bueno narra um trecho atribuído a Bento Furtado sobre a fuga de Borba Gato após o assassinato do Superintendente de Minas, retirando-se para o reino dos matapaxós, onde ficou por cerca de 15 anos. “Vivendo barbaramente, sem concurso de saneamento algum sem comunicação com mais criatura deste mundo que não fosse do grupo de indígenas que domesticou a sua obediência, vivendo entre eles como respeitado cacique”, afirma Bento Furtado.
EMBOSCADA E FUGA
A Wikipedia diz que a pedido do governador-geral do Estado do Brasil, Afonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça (1610–1675), Fernão Dias Paes realizou de 1674 a 1681, uma bandeira em busca da mítica serra do Sabarabuçu, jazida de esmeraldas e de prata. Borba Gato, extraordinário desbravador de sertões, o acompanhou, assim como Matias Cardoso de Almeida e outros bandeirantes.
Manuel Borba Gato era filho de João de Borba Gato e Sebastiana Rodrigues, casou-se em 1670 com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias Paes Leme e de sua esposa Maria Betim.
Após a morte do sogro, por ocasião da ida do Superintendente-geral das Minas, D. Rodrigo de Castelo Branco, à região das Minas Gerais, desentendeu-se com o fidalgo, parece que o emboscou e assassinou no caminho que levava ao arraial do Sumidouro, em 28 de agosto de 1682. Depois do crime, para fugir aos castigos, como era costume, evadiu-se para a região ainda desconhecida ainda do Vale do Rio Doce, onde se ocultou.
MOTIVAÇÃO DO CRIME
Entre as motivações para o assassinato do Superintendente-geral das Minas, D. Rodrigo de Castelo Branco, pelo bandeirante Borba Gato, está o entendimento de que a jurisdição de D. Rodrigo à letra do Regimento que a prorrogava somente para as minas existentes no sertão que ele mesmo descobrisse. As do Sabarabuçu estando descobertas por Fernão Dias, o governo delas pertencia ao chefe da bandeira legalmente investido (Borba Gato) por quem o podia investir (Fernão Dias). Tanto que na ordem real pela que fora investido D. Rodrigo o rei declarou que não seria exautorado Fernão Dias Pais, mas pelo contrário devia ser atendido e respeitado. “E demonstrou-se gabola e fanfarrão D. Rodrigo, gabando-se de familiar do Príncipe-Regente e de sua influência na corte; os paulistas se remoendo de inveja, criado o aborrecimento suplementar… Borba Gato decerto teria dito que não obedeceria à investidura indefinida do administrador, quando ele representava a especial e certa de Fernão Dias Pais; que nem respeitaria a posse dada por Garcia a D. Rodrigo no Paraopeba, tampouco entregaria o descobrimento do Sabarabuçu. E D. Rodrigo foi por isso adiando a partida e adiando decisões…”
PORMENORES DO ASSASSINATO
Nas informações da Câmara de São Paulo ao rei narra-se os pormenores sobre o assassinato do fidalgo D. Rodrigo de Castelo Branco por Borba Gato.
Em 2 de novembro de 1682 os oficiais da Câmara de São Paulo escrevem ao rei, «numa linguagem sibilina sem nada esclarecer» dão conta do sucedido com Borba Gato, paulista que estava no sertão das esmeraldas e no arraial do Sumidouro, e o qual, observando a inação de D. Rodrigo de Castelo Branco, sem se aplicar em fazer entradas para descobrir o desejado fim para que fora despachado com tantas honras e mercês, com alguma liberalidade lhe estranhara o amortecimento em que se conservava, aplicando-se só a mandar fazer caçadas de aves e animais terrestres para o regalo e grandeza de sua mesa; travando-se de razões menos comedidas, Borba se precipitou tão arrebatado de furor que deu em D. Rodrigo violento empurrão e o deitou ao fundo de uma alta cata, na qual caiu morto. Outra versão imputava o assassinato a dois criados de Borba Gato.
A 25 de novembro a notícia da morte foi também dada ao reino pelo governador do Rio: “Duarte Teixeira Chaves comunica ao Príncipe Regente que mataram o administrador Geral numa emboscada na estrada do Sumidouro”.
O PERDÃO
Após 15 anos desaparecido nos sertões do Rio Doce, Borba Gato foi encontrado e perdoado pelo governador Artur de Sá e Menezes, que deu-lhe o posto de Tenente-General do Mato através de uma carta patente datada de 5 de outubro de 1698.
Ao encontrar com o governador Artur de Sá e Menezes, Borba Gato disse-lhe que «dignando-se prometer perdão em nome do rei, ele iria patentear-lhe minas tão abundantes de ouro que seriam uma nova fonte de riqueza para a coroa e prosperidade para seus vassalos», tendo-o guiado à região do rio das Velhas. Mesmo evadido, Borba Gato nunca teria realmente perdido contacto com seus parentes em São Paulo e por eles negociou o perdão régio em troca de revelar as ricas faisqueiras descobertas nos ribeiros e serras de Sabará.
ARRECADADOR DO REI
Após 1698, investido de funções de Tenente-general do Mato, começou a organizar as arrecadações e a pôr ordem na vida das desmanchadas populações de aventureiros. O Códice Costa Matoso, documento de 1730, diz: “A Justiça que achei nestas Minas de Sabará foi o Tenente-General Borba Gato, que era superintendente destas minas, homem paulista. Repartiu as lavras de ouro por sortes de terra e veios d’água, como mandava o Regimento, confiscava todos os comboios do sertão, boiadas, cavalos e negros. E tudo o mais que apanhava, tudo confiscava, até o ouro que ia para os sertões da Bahia se arrematava para o Rei. Essa era a ocupação que tinha Borba. Também havia contendas e como juiz supremo deferia a todos com muito agrado e desejava favorecer os confiscados. Tinha meirinho e escrivão e muita gente para as diligências do confisco”.