BRASÍLIA (Reuters) – Apesar do avanço da epidemia de coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro não tem pressa para escolher um novo ministro da Saúde e, mesmo com vários nomes sendo cogitados, a avaliação é que o general Eduardo Pazuello, que está como interino, pode dar conta do ministério ainda por algum tempo, disseram fontes que acompanham o processo de decisão.
“Pazuello deve ficar como interino ainda por um bom tempo”, disse uma das fontes palacianas ouvidas pela Reuters nesta segunda-feira.
Pego de surpresa pelo pedido de demissão de Nelson Teich na sexta-feira —quando o então ministro se recusou a mudar o protocolo da pasta para ampliar o uso da cloroquina e preferiu sair—, Bolsonaro inicialmente esperava ter um nome pronto já nesta segunda-feira. No entanto, foi aconselhado a esperar e evitar uma escolha apressada.
Uma das fontes disse à Reuters que Bolsonaro optou por evitar uma escolha açodada por nomes para liderar a pasta em meio à pandemia, depois que Teich deixou o cargo com menos de um mês justamente no momento de maior aceleração dos casos de Covid-10 no país até o momento, com mais de 240 mil infecções e 16 mil mortos.
Pazuello foi indicado como secretário-executivo para coordenar a área logística do ministério na resposta à pandemia por recomendação da ala militar do governo, uma vez que Teich era considerado um ministro técnico, mas sem experiência em administração no setor público.
O secretário-executivo tinha a torcida da ala militar do governo para permanecer à frente da pasta, mas o comando das Forças Armadas avalia que é uma posição difícil para os militares, em meio a uma epidemia, e preferiam que Pazuello não ficasse de forma permanente.
De qualquer forma, o ministro interino deve cumprir a tarefa que levou à demissão de Teich: apresentar ao presidente o novo protocolo de uso ampliado de cloroquina para pacientes de Covid-19. A intenção é tê-lo efetivado antes que um novo ministro assuma o cargo.
O atual protocolo do governo sobre a cloroquina, que recomenda o uso do medicamento apenas em pacientes em estado grave, foi publicado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que acabou sendo demitido no mês passado por discordâncias públicas com Bolsonaro tanto sobre o remédio como sobre o isolamento social.
Após a saída de Teich, o Ministério da Saúde informou na noite de sexta-feira que estava finalizando novas orientações para assistência de pacientes com Covid-19 visando “iniciar um tratamento antes do seu agravamento e necessidade de utilização de UTI”, que inclui a ampliação do uso da cloroquina.
CANDIDATOS
Candidatos ao posto não faltam. Pelo menos cinco nomes têm sido ventilados nesse momento no Palácio do Planalto. Além da oncologista Nise Yamaguchi, autora de um protocolo de uso da cloroquina associada com azitromicina no início dos sintomas da Covid-19 —que Bolsonaro quer adotar—; o deputado Osmar Terra (MDB-RS); o vice-almirante Luiz Froes, diretor de Saúde da Marinha; o presidente da Anvisa, Antonio Barra Flores; e Ítalo Marsili, pupilo de Olavo de Carvalho.
De todos os nomes, Marsili é o que assessores presidenciais preferem evitar, mas é ele quem tem apoio dos grupos bolsonaristas na internet. O médico, que afirma ser psiquiatra, já defendeu temas como cura de pedofilia com uso de prostitutas e apresenta uma suposta terapia “contra o vitimismo” mas, como mostrou o portal Metrópoles —em informação confirmada pela Reuters— Marsili não tem registro de psiquiatra no Conselho Federal de Medicina.
Ao portal, o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antonio Geraldo da Silva, garantiu que Marsili não tem título de especialista em psiquiatria.
Bolsonaristas como o deputado Filipe Barros (PSL-PR) tentaram subir uma hashtag em defesa de Marsili, mas sem atingir os trending topics. O próprio Ítalo se vangloriou nas redes sociais de estar “chegando a Brasília para reuniões”, mas fontes do Planalto afirmam que as chances de ele assumir a pasta são pequenas.