SÃO PAULO – O pesquisador Christopher Bouzy, fundador do site BotSentinel.com, soou o alarme: da noite para o dia, uma série de nomes da política norte-americana ligados ao Partido Republicano e associados à extrema-direita atingiram picos de seguidores nunca antes vistos no Twitter. Por outro lado, políticos democratas perderam um número significativo de seguidores. O comportamento, que causa preocupação, chegou também ao Brasil. Entre a segunda (25) e a terça (26), Jair Bolsonaro ganhou mais de 65 mil seguidores na plataforma. Acontece que, desse total, 19.999 foram criados na própria terça, e outros 17.923 vieram à luz na segunda. Ou seja: 58% dos seguidores recentes de Jair são contas que até poucos dias nem sequer existiam.
ROBÔS
“Me perguntam se essas novas contas que passaram a seguir Bolsonaro são orgânicas e a resposta curta é não. Eu não acredito que dezenas de milhares de brasileiros decidiram criar novas contas ao mesmo tempo para segui-lo porque Elon Musk comprou o Twitter”, explicou Bouzy.
Não causa surpresa alguma que o presidente que mente 7 vezes por dia se valha de técnicas espúrias para se manter relevante. Nem sequer é novidade que a milícia digital comandada pelo genocida se utilize dessa artimanha, a ser comprovada, da compra de robôs e criação de perfis falsos. Já em 2020, o Facebook enviou à CPMI das Fake News informações que mostravam que uma das páginas utilizadas para ataques virtuais e para estimular o ódio contra supostos adversários do presidente Jair Bolsonaro, a deletada Bolsofeios, foi criada a partir de um computador localizado na Câmara dos Deputados.
MILÍCIAS DIGITAIS
A página foi registrada a partir de um telefone utilizado pelo secretário parlamentar do deputado Eduardo Bolsonaro, Eduardo Guimarães. “O email do registro da conta da página é “eduardo.gabinetesp@gmail.com”— endereço utilizado pela assessoria do filho do presidente para a compra de passagens e reserva de hotéis, através da cota parlamentar, como mostra a prestação de contas disponível no site da Câmara dos Deputados”, lembra reportagem do UOL.
A denúncia foi feita à Comissão pela deputada Joice Hasselmann, que à época apresentou um grupo secreto onde diversas páginas ligadas ao gabinete do ódio, e de que participava o assessor Eduardo. onde seriam orquestrados um cronograma conjunto de ataques a pessoas consideradas inimigas da família.
DO PALÁCIO
No ano passado, a Polícia Federal (PF) verificou que a conta de Instagram “Bolsonaro News”, derrubada pelo Facebook por postar conteúdos falsos, foi acessada pela rede de wifi do Palácio do Planalto e da casa do presidente Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro. Também segundo a PF, contas falsas criadas no Facebook e no Instagram, usadas para atacar opositores do governo e membros do Judiciário foram acessadas 1.045 vezes a partir de computadores em órgãos públicos, incluindo Senado, Câmara dos Deputados, Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Presidência da República e Comando da Brigada de Artilharia Antiaérea.
FILHOS
Nessa lista, entram especialmente assessores ligados a Flávio, Eduardo Bolsonaro e a outros legisladores bolsonaristas. A investigação chegou até à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, relacionada, ao lado de um assessor do Planalto, a contas no Facebook utilizadas durante as eleições de 2018 para favorecer Jair. Uma quebra de sigilos de endereços de internet mostra que, em 5 e em 6 de novembro de 2018, Tércio Arnaud usou a rede de Michelle Bolsonaro, instalada na casa do presidente da República na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Lá, acessou as contas fake.
EXÉRCITO
Mais recentemente, o Facebook flagrou oficiais do Exército Brasileiro por trás de uma rede que operava como uma fábrica de mentiras para minimizar as denúncias e notícias negativas sobre mais desastrosa política ambiental da história brasileira.
Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu da Polícia Federal o relatório parcial do inquérito das milícias digitais, que investiga aliados e apoiadores do governo, além do próprio presidente Jair Bolsonaro (PL), por ataques às instituições democráticas e promoção de notícias falsas. É dentro dessa confusão que despontou o deputado Daniel Silveira, alvo de um inédito e absurdo indulto presidencial.
TSF NO ALVO
Diante de tudo isso, não é difícil entender por que, nos momentos em que Jair Bolsonaro tensiona sua relação com os demais poderes, participa de atos antidemocráticos e desafia o Judiciário, a milícia digital tenha transformado em alvo favorito o Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e seus ministros.