segunda-feira, novembro 25, 2024
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Aula semipresencial em Ipatinga é criticada em audiência na ALMG

Para professores, situação epidemiológica da cidade e falta de condições nas escolas públicas impedem medida

BH – Críticas à adoção do modelo híbrido de ensino em Ipatinga (Vale do Aço), com aulas presenciais e remotas, neste momento da pandemia de Covid-19 pautaram audiência pública da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quinta-feira (13). Boletim mais recente da prefeitura, datado do último dia 11, registra 28.560 casos e 722 óbitos em função da doença.

Veja vídeo completo da reunião na ALMG:

INSEGURANÇA

Professora da Escola Municipal Padre Bertollo e da Escola Municipal João Reis de Souza, Adriana Aparecida Souza Rosa Melo enfatizou que falta clareza sobre o planejamento pedagógico, as estratégias e as ferramentas com o retorno semipresencial das atividades escolares. Uma das indagações, por exemplo, diz respeito a quem dará assistência aos alunos que estão totalmente em ensino remoto, por necessidade ou opção de seus pais.

Ela contou que esses pais tiveram que assinar um documento no qual se responsabilizam pela eventual defasagem na aprendizagem de seus filhos. Ela classificou a medida como um absurdo, já que oferecer uma educação para todos é uma obrigação do poder público.

Com o retorno das aulas presenciais, contou que não se sente segura nas escolas. “Não bebo água na escola, não como, não entro em sala de professores porque não confio na segurança no ambiente escolar. Até porque alunos não conseguem manter o isolamento de modo adequado nesses espaços”, afirmou.

SEM APOIO

Corroborou a fala de Adriana Melo a professora da Escola Municipal Márcio Andrade Guerra e Escola Municipal Padre Cícero de Castro, Mabel Paz de Souza. “Primeiramente, trabalhamos de forma remota sem nenhuma ajuda da prefeitura. Agora, nas aulas semipresenciais, continuamos a trabalhar sem nenhum investimento da gestão municipal. Eu não conheço o projeto de educação para Ipatinga desta gestão”, relatou.

Beatriz Cerqueira (deputada estadual PT/MG) e Mabel Paz de Souza (professora da Escola Municipal Márcio Andrade Guerra e Escola Municipal Padre Cícero de Castro)

PREOCUPAÇÃO DE MÃE

A produtora cultural Natália Fabíola Rocha Fonseca, que é mãe de dois alunos da Rede Municipal de Ipatinga, disse que as aulas presenciais representam um risco para toda a comunidade escolar. “Não quero romantizar o ensino remoto, porque é uma dificuldade enorme. Mas penso que prefiro ter meus filhos vivos e saudáveis e atrasar um pouco a aprendizagem neste momento”, contou.

Natália Fabíola Rocha Fonseca, mãe de alunos da Rede Municipal de Ipatinga

Natália Rocha, que é mãe solo e trabalha em um dos setores mais afetados pela pandemia, relatou que hoje sobrevive com o auxílio emergencial. Ela disse que, apesar das dificuldades, prefere não mandar seus filhos para a escola.

Mas afirmou que são muitas as incertezas: “será que o kit de alimentação vai continuar a ser oferecido, será que vão mandar as atividades por e-mail, vou ter que imprimir e o custo vai ser alto, será que vou ter assistência para tirar dúvidas dos meus filhos?”, questionou.

LUTA DO SINDUTE

A diretora do Sind-Ute/MG, na Subsede de Ipatinga, Isaura Azevedo Carvalho, que também é professora na rede municipal e mãe de alunos, defende que é preciso manter as atividades de forma remota até que haja segurança para o ensino presencial.

Ela fez um relato da luta do SindUTE contra reabertura das escolas, a retomada das aulas presenciais e da situação da pandemia do município. Isaura relatou ainda que uma comissão da qual fez parte elaborou um documento para garantir um retorno às aulas presenciais com mais segurança para a comunidade escolar no município. No entanto, conforme contou, a gestão que assumiu a prefeitura neste ano flexibilizou as medidas definidas no documento, possibilitando que as aulas semipresenciais fossem viabilizadas em fevereiro.

“Frente ao aumento do número de contaminação, da ocupação de leitos de UTI e de óbitos e o consequente risco para a comunidade escolar, a categoria deflagrou uma paralisação para preservar vidas”, disse.

A greve, conforme contou, foi encerrada quando houve a determinação em março para que Ipatinga aderisse à onda roxa, a mais restritiva do plano Minas Consciente do governo estadual, quando só atividades essenciais podem funcionar, à qual a prefeitura conseguiu se desvincular posteriormente, determinando o retorno às aulas semipresenciais.

ATIVIDADE ESSENCIAL

Segundo a diretora do Sind-Ute, outra batalha da categoria foi para paralisar a tramitação de projeto de lei que tornou a educação como atividade essencial no município, com consequente reabertura das escolas mesmo com índices desfavoráveis da pandemia. Ela contou que mesmo assim a proposta foi aprovada e sancionada.

“Temos uma instituição de ensino em Ipatinga em que, dos 55 profissionais, dez estão com Covid, o que foi diagnosticado por testes particulares. Os demais não têm condição de pagar pelo teste”, relatou.

A vereadora Cida Lima, membro da Comissão de Educação da Câmara Municipal, também participou da audiência

INTENÇÃO

Para a vereadora de Ipatinga Cida Lima, que integra a Comissão de Educação da Câmara Municipal, as escolas não estão preparadas para retomar as aulas presenciais nesse contexto de recrudescimento da pandemia. Ela contou que há insegurança em relação à medida pela comunidade escolar e que 50% dos pais não estão mandando seus filhos.

Ela questionou a intenção com o retorno das aulas. “A volta das aulas em Ipatinga foi planejada com o setor privado e para o setor privado”, afirmou. Segundo a vereadora, a prefeitura deveria investir no ensino remoto enquanto não pode garantir a segurança nas escolas.

Cida Lima disse ainda que o ensino híbrido não está regulamentado e que, na prática, a opção de pais pelo ensino exclusivamente remoto é uma opção por não ter aula, uma vez que a orientação passada aos professores, com o início das aulas, foi para fechar os grupos de WhatsApp nos quais mantinham contato com os alunos.

Além disso, comentou que os professores precisam cumprir jornada integral nas escolas, não restando tempo para se dedicar a quem está apenas no ensino remoto.

Beatriz Cerqueira (deputada estadual PT/MG) e Fernando Soares Ratzke (vereador de Ipatinga)

PARLAMENTARES

A deputada Beatriz Cerqueira (PT), que preside a comissão e solicitou a audiência, salientou que conhece as dificuldades enfrentadas por professores e pais em Ipatinga. “Ninguém pergunta como deveria ser o retorno às aulas aos professores. A categoria está adoecida”, comentou.

Ela contou que acionou o Ministério Público por causa da situação na cidade e que o entendimento é que as aulas presenciais devem ser suspensas porque não há protocolos mínimos atendidos.

O deputado Betão (PT), vice-presidente da comissão, se disse estarrecido com os relatos dos professores. “É indefensável o que está sendo feito em Ipatinga. Desconheço outros municípios com o mesmo problema. A escola por si só é uma atividade que aglomera”, disse.

Os deputados criticaram o fato de que representantes da prefeitura não participaram da reunião, embora tenham sido convidados e tenham entrado na reunião virtual em alguns momentos.

CONTRAPONTO

A deputada Laura Serrano (Novo) parabenizou o retorno gradual às aulas presenciais de modo facultativo, implementado pela gestão municipal. Na sua opinião, a retomada em Ipatinga tem sido feita com base em evidências científicas e protocolos internacionais. “

O deputado Bartô (Novo) também se manifestou a favor do retorno das aulas presenciais. “A gente discute Covid, mas não discute o problema que são as crianças fora da escola, com um aumento dos casos de violência doméstica, piora no acesso à nutrição, problemas psicológicos, entre outros”, afirmou.

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