Requerida pelo vereador Léo Enfermeiro, sessão evidenciou déficit de leitos de alta complexidade e reuniu autoridades para discutir soluções para a macrorregião
IPATINGA – A Câmara Municipal de Ipatinga realizou audiência pública para discutir a viabilidade da construção do Hospital Regional do Vale do Aço. A reunião, convocada a partir do requerimento do vereador Léo Enfermeiro, teve como foco a saturação da infraestrutura hospitalar atual, que atende não apenas o município sede, mas todo o Colar Metropolitano e cidades vizinhas. O evento contou com a presença de deputados, prefeitos, representantes do Ministério Público e lideranças da sociedade civil.
SITUAÇÃO CRÍTICA
Na abertura dos trabalhos, o vereador Léo Enfermeiro fundamentou o pedido relatando a situação crítica observada nas unidades de urgência locais, como a UPA e o Hospital Municipal. O parlamentar descreveu um cenário de superlotação, com pacientes acomodados em corredores e improvisos no atendimento básico. “Essa audiência surgiu de uma necessidade. Presenciamos situações que nos deixam entristecidos, como banhos de leito em locais impróprios”, relatou o vereador.
O autor do requerimento enfatizou que a mobilização visa equiparar o Vale do Aço a outras regiões do estado que já obtiveram avanços similares. “Governador Valadares tem o seu hospital regional e Teófilo Otoni também conseguiu o seu recentemente. O nosso intuito é plantar essa semente para que a nossa região, tão importante para Minas Gerais, possa ofertar uma saúde de mais qualidade e mais humana”, declarou Léo Enfermeiro, reforçando o caráter suprapartidário da demanda.
DIAGNÓSTICO E LIMITAÇÕES
Durante a audiência, foram apresentados dados que dimensionam o gargalo na saúde pública local. Cleverson Felício, presidente do Conselho Municipal de Saúde de Ipatinga, informou que a macrorregião abrange cerca de 790 mil habitantes e enfrenta um déficit estimado de 100 leitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, o Hospital Márcio Cunha, principal referência da região, opera acima da capacidade há um ano, atendendo pacientes de até 35 municípios.
ALTERNATIVAS
A mesa de honra, composta pela deputada federal Rosângela Reis e pelo deputado estadual Celinho do Sinttrocel, discutiu alternativas em andamento, como a construção do “Hospital Dia” em Santana do Paraíso, financiado com recursos da repactuação do acordo de Mariana. Embora os parlamentares tenham destacado a importância dessa obra para procedimentos de baixa complexidade, houve consenso técnico de que ela não supre a necessidade de um Hospital Regional.
“O Hospital Dia trabalhará tecnicamente até as 19 horas. Qualquer intercorrência noturna fará com que o paciente retorne à nossa rede de urgência, que já está superlotada”, alertou Cleverson. O promotor de justiça Rafael Pureza corroborou a visão de que a demanda por saúde é crescente e comparou a situação ao trânsito, onde novas vias rapidamente se congestionam, defendendo um pacto regional entre os poderes para viabilizar a nova unidade de alta complexidade.
Reivindicações sociais e próximos passos
Além das questões estruturais e financeiras, a audiência abriu espaço para demandas de inclusão e qualidade no atendimento básico. Sheila Bianca, presidente da Associação dos Surdos de Ipatinga (ASIPA), criticou a falta de acessibilidade na rede atual, afirmando que a construção de novos hospitais será ineficaz para a comunidade surda sem a presença de intérpretes de LIBRAS. “Estamos expostos a riscos de erros médicos e negligências devido à falta de comunicação. A acessibilidade é urgente e obrigatória”, protestou.
Moradores presentes também utilizaram a tribuna para relatar a falta de insumos básicos, como dipirona, nas unidades de pronto atendimento atuais, cobrando fiscalização imediata paralela aos planos de expansão.
Ao encerrar o encontro, o vereador Léo Enfermeiro avaliou a reunião como um passo inicial estratégico, comparando o movimento à luta histórica pela implantação da faculdade de medicina federal na região. O parlamentar afirmou que os encaminhamentos da audiência serão levados às esferas estaduais e federais para buscar a inclusão do projeto no planejamento de saúde de Minas Gerais. “Esperamos que essa semente encontre boa terra e germine, para que muito em breve esse sonho seja uma realidade para o nosso colar metropolitano”, concluiu.




