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Ativista hondurenho afirma que golpes são patrocinados pelo capital

IPATINGA – O advogado hondurenho Martin Fernandez Guzman, coordenador geral do Movimento Amplo pela Dignidade e Justiça de Honduras, está no Vale do Aço onde participa de encontros com os movimentos populares e do Encontro Regional do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB ), preparatório para o 8º Encontro Nacional do MAB, que terá como tema “Água e Energia com Soberania, Distribuição da Riqueza e Controle Popular”. O 8º Encontro Nacional do MAB vai acontecer de 1º a 5 de outubro deste ano, no Rio de Janeiro. Já o Encontro Regional realizado nesta sexta-feira (3), no Metasita, reuniu militantes do MAB, atingidos pelo crime ambiental da Samarco, CUT regional, sindicatos, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST) e Comitê Popular em Defesa da Cidadania.
Em entrevista ao DIÁRIO POPULAR, o ativista Martin Guzman pontuou uma série de temas relativos aos direitos humanos na América Latina. A ONG que ele coordena foi criada com o objetivo de lutar contra a corrupção pública em Honduras, mas durante o processo de construção da entidade foram surgindo outros eixos de luta interligados com a questão da corrupção, particularmente a partir do golpe militar de 2009 em Honduras, quando o Exército, em cumprimento a um mandado de prisão emitido pelo Poder Judiciário, prendeu o presidente Manuel Zelaya na manhã de 28 de junho. Zelaya foi retirado de sua residência em Tegucigalpa ainda de pijamas, foi levado detido para uma base aérea nas imediações da cidade e depois para o aeroporto de Tegucigalpa, onde foi colocado em um avião com destino à Costa Rica. A deportação de Zelaya não estava autorizada na ordem emitida pela autoridade judicial e contraria o Artigo 102 da Constituição de Honduras, que determina que "nenhum hondurenho pode ser expatriado ou entregue pelas autoridades a uma nação estrangeira".

Prisões ilegais em Honduras logo após o golpe militar de 2009

PRIMEIRO TIRO
Para Martin Guzman, o golpe em Honduras foi o prenuncio de uma ação movida por forças do grande capital internacional, capitaneado pelos EUA, que depois atingiu o Paraguay, com a deposição de Fernando Lugo; o Brasil, com a deposição de Dilma Rousseff; que fomentou a vitória de Maurício Macri na Argentina e patrocina a desestabilização do governo venezuelano, entre outras ações na América Latina e no mundo.
“Em 2009 – relata Guzman – ocorreu o golpe de Estado em Honduras e o movimento Amplo Dignidade e Justiça sequer havia completado um ano de existência. Foi um tempo difícil para o país em relação ao tema dos direitos humanos. A entidade deixou de atuar na área de organização para envidar todos os seus esforços aos trabalhos que mitigassem ou assegurassem a não-violação dos direitos humanos”.

ENTREGUISMO

Conforme Guzman, após o golpe militar em Honduras houveram muitas detenções ilegais, muitas pessoas foram feridas ou assassinadas pelos golpistas. “Neste momento, resolvemos trabalhar pela mobilização social contra o golpe de estado e isso nos orientou a estabelecer um trabalho sobre o tema dos direitos humanos, porque o golpe propiciou este cenário, uma vez que há uma ação contínua de violação dos direitos humanos. Mais tarde, quando o golpe se estabelece, começam a aparecer uma série de concessões (privatizações) de serviços públicos, como das fontes de água, extração mineral e de madeira”, diz Martins Guzman, afirmando que os golpes trazem intrinsecamente outros interesses que não somente a troca das forças políticas no poder, mas que obedecem à lógica do capital e dos interesses transnacionais.
Martin Guzman diz que Movimento Amplo pela Dignidade e Justiça de Honduras tem uma estrutura e credibilidade que faz com que as pessoas o procurem como um guarda-chuvas para enfrentar as grandes tempestades.

BRASIL
Para o dirigente hondurenho, o golpe parlamentar-judicial-midiático no Brasil era algo impensável e inimaginável. “Estamos falando da 6ª economia do mundo, onde as estruturas de poder são bastante definidas, com uma institucionalidade bem definida. De fora, não se pode pensar que não haja uma estrutura de pesos e contrapesos, uma independência entre poderes, embora constate-se uma fragilidade institucional, uma política marcada para seguir propiciando golpes – não a uma presidenta, mas à cidadania em geral, porque na realidade quem sofre o golpe não é o presidente. Inicialmente, poderíamos pensar que sim, mas quem sofre é a população em geral. Há uma deterioração absoluta da democracia, um desrespeito, pontuado pela legalidade ou não do sistema que se discute (no caso de Dilma Rousseff, se houve ou não crime de responsabilidade). Mas, na realidade, o grande debate são as sequelas que os golpistas deixam”, analisa Guzman.
No caso brasileiro, além do entreguismo, como o do pré-sal, das reformas impopulares como a da Previdência, o golpe deixou um legado de ódio, de desrespeito às liberdades de individuais e coletivas, ativou a homofobia, o racismo, o preconceito religioso, além de eliminar importantes conquistas econômicas e sociais.

FRAGILIDADE

Para ele, a marca que fica é de um País com uma fragilidade institucional enorme, que não foi capaz de discernir sobre a realidade, uma falha tanto do Judiciário, como do Senado, da Câmara dos Deputados e da imprensa. “O caso brasileiro envolve a comunicação também”, ressalta. “Qual foi o delito de Dilma?”, indaga, para completar: “Em realidade é uma coisa que não se pode explicar. O que fez Dilma foi o que fez Cardoso [o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso], foi também o que fez Lula, contudo, sem toda essa conseqüência”.

PASSIVO DA ESQUERDA
Segundo Martin Guzman a falta de formação política é um passivo que as esquerdas, como no caso brasileiro, tem com a população. Para ele, pensa-se muito no imediatismo, “na barriga”, e pouco na conscientização popular, na formação política e educacional. “Mesmo durante os governos de Lula era preciso acentuar o trabalho de base, como é o caso da educação. No Brasil muita gente não sabe as riquezas que o país tem, não conhece sua capacidade estratégica. É preciso que o povo conheça sua geografia, sua história e, com todo respeito, isso não se construiu no Brasil”, arremata.
Outro aspecto que o ativista destaca como um passivo dos governos de esquerda para coma população é falta de investimento em meios de comunicação que façam frente aos grandes monopólios e grupos de mídia.

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