(*) Fernando Benedito Jr.
Declarações de Eduardo Bolsonaro demonstram fragilidade nas articulações nos EUA; paciência das autoridades norte-americanas com pedidos de sanções, tarifas e barreiras vai se esgotar em breve
Quem vê os arroubos fantasiosos de Eduardo Bolsonaro nas redes sociais tem uma falsa ideia de que as portas da Casa Branca e do Salão Oval estão sempre abertas para ele fazer suas conspirações contra o estado brasileiro. A julgar pelo tom seguro e firme de suas declarações em vídeos no Instagram, o “embaixador” das vilanias e porta-voz das mentiras, leva a crer que o Capitólio lhe estende o tapete vermelho toda vez que chega, acompanhado do Paulo Figueiredo, para suas articulações antinacionais e pusilânimes.
Mas, as entrelinhas das gravações de seus delírios yankees divulgados pela Polícia Federal mostram que a coisa não é bem assim e a luta para destruir a democracia brasileira não tem sido fácil. Aliás, a vida não em sido nada fácil para a família Bolsonaro – ainda bem.
Numa destas falas, além de demonstrar que a família deixa, sim, soldados para trás (Carla Zambelli que o diga) e pouco se importa com os seus seguidores que depredaram Brasília e estão Papuda, Eduardo mostra a fragilidade de suas articulações: “Se a anistia light passar [anistia para todos que estão presos], a última ajuda vinda dos Estados Unidos terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar (…) temos que decidir entre ajudar o Brasil, brecar o STF e resgatar a democracia ou enviar o pessoal que esteve num protesto que evoluiu para uma baderna para casa num semiaberto. (…) neste cenário você [Jair Bolsonaro] não teria mais amparo dos EUA, o que conseguimos a duras penas aqui, bem como estaria igualmente condenado no final de agosto”.
Na mesma sequência, o filho do capitão golpista, achando que lidava com uma república de banana e um estado fragilizado, demonstra insegurança quanto ao apoio do presidente norte-americano a seu projeto de libertar o pai e destruir a economia nacional.
“A opinião pública vai entender e você tem tempo para reverter se for o caso. Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você [segundo a PF, uma referência a Trump]. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta. Na situação de hoje, você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que por aqui as coisas mudem.”
Bom, da mesma forma que é insegura a continuidade do apoio dos EUA ao projeto golpista, também não é muito garantido que o pai não vá para cadeia. Ao contrário, a prisão domiciliar tende evoluir para o cárcere se as coisas seguiram neste ritmo.
Outra evidente demonstração da fragilidade das articulações de Eduardo Bolsonaro na Casa Branca é a renhida luta para se colocar como único porta-voz dos interesses da família, eliminando do caminho qualquer intervenção, ainda que de aliados, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
“Aqui nos EUA tivemos que driblar a ideia plantada aqui pelos aliados dele [do governador paulista], de que ‘Tarcísio = Bolsonaro’, uma clara mensagem de que os EUA não precisariam entrar nesta briga, pois com TF ou vc, Trump teria um aliado na presidência do Brasil em 2027. Agora ele quer posar de salvador da pátria. Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer. E pode ter certeza, uma ‘solução Tarcísio’ passa longe de resolver o problema, vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima”.
Ao final, pleno de incertezas, Eduardo aproveita para menosprezar seus coleguinhas que vão aplicar a Lei Magnitisky contra Alexandre de Moraes.
Por último e não menos importante: até que ponto os líderes republicanos norte-americanos vão tolerar Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueredo batendo à porta cotidianamente pedindo sanções, tarifas e barreiras que prejudicam todo o povo brasileiro e, por tabela, o norte-americano, bagunçam o mercado e criam crises comerciais para salvar um “aliado” que sequer conhecem e que está longe, muito longe, de poder ajudá-los a explorar e dominar o mercado brasileiro e suas riquezas.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.