(DA REDAÇÃO) – O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que a suspensão pela AnvIsa dos estudos clínicos da Coronavac no Brasil “é mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.
O presidente fez a declaração no Facebook em resposta a um seguidor que lhe perguntou se o imunizante contra Covid-19 em desenvolvimento pela farmacêutica chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan seria comprada pelo governo federal.
“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar todos os paulistanos a tomar”, escreveu o presidente como resposta. “O presidente [Bolsonaro] disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que o Jair Bolsonaro ganha”.
GUERRA DAS VACINAS
A decisão da Anvisa parece ter sido mais um episódio da “guerra das vacinas”, um processo de politização da imunização contra o coronavírus estabelecida pelo presidente contra João Doria, tendo em vista a eleição de 2022. A decisão é mais uma atitude do presidente de descaso e negligência no combate à pandemia, que teve, entre outros lances, a negação do vírus, teorias de conspiração contra a China, desrespeito ao uso de máscara e do isolamento social, insistência no uso da cloroquina no combate à Covid-19 e, agora, negação da obrigatoriedade da vacina. Os posicionamentos de Bolsonaro em relação ao combate à pandemia levaram ao pedido de demissão dos ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich
Embora pertença aos círculos militares próximos de Bolsonaro e seja um estrito cumpridor de ordens, assim como o atual ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello (que foi colocado fora de combate pelo novo coronavírus), o presidente da Anvisa, o contra-almirante Antonio Barra Torres, nega que a suspensão dos testes seja mais um episódio da “guerra das vacinas” e repete o mantra de que a decisão é técnica e só foi tomada após os estudos feitos pela Anvisa. Antes de ser nomeado presidente do órgão, Barra Tores vinha atuando como diretor na agência e desde janeiro respondia como diretor-substituto. Barra Torres é formado em medicina pela Fundação Técnico-educacional Souza Marques, no Rio. Fez residência em cirurgia vascular e pós-graduação na área de gestão. Passou 32 anos na carreira militar e chegou ao terceiro posto da hierarquia da Marinha.
ANÚNCIO DE DÓRIA
A decisão da Anvisa ocorreu no mesmo dia em que o governador de São Paulo João Dória anunciou que o estado iria receber as 120 mil primeiras doses da vacina contra Covid-19 no dia 20 de novembro.
“Esta data está confirmada. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já havia autorizado, e agora as autoridades sanitárias da China também deram autorização para importação, dos lotes de 6 milhões de vacinas pelo Instituto Butantan. As primeiras 120 mil doses chegam no dia 20 de novembro no aeroporto internacional de Guarulhos em São Paulo”, afirmou Doria durante coletiva de imprensa no próprio Instituto Butantan, em São Paulo.
Segundo Doria, o acordo entre Butantan e Sinovac fará com que o Brasil seja o primeiro país do continente americano a contar com uma vacina contra a Covid-19.
MORTE
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou, em nota, que suspendeu os estudos clínicos da vacina Coronavac, uma das que estão em estudo contra o novo coronavírus. A suspensão ocorreu por causa de um “evento adverso grave” ocorrido. A Anvisa não informou qual evento seria. Pode ser desde a internação de um voluntário até a sua morte. Entretanto, segundo informações do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, em entrevista à TV Cultura, o caso nada tem a ver com a Coronavac e que por isso, se surpreendeu com a decisão da agência. “A Anvisa foi notificada de um óbito, não de um efeito adverso”. O efeito adverso em questão foi a morte de um voluntário de 33 anos, morador de São Paulo, no dia 29 de outubro. As autoridades de saúde do estado receberam nesta segunda (9) a informação de que o óbito não está relacionado com a vacina, embora não haja dados públicos, como por exemplo se o voluntário havia recebido uma dose do imunizante ou um placebo.
PROCEDIMENTO NORMAL
Agora, a agência reguladora vai analisar os dados observados até o momento e julgar sobre o risco/benefício da continuidade do estudo. Esse tipo de interrupção nos estudos, segundo a Anvisa, é parte dos procedimentos de Boas Práticas Clínicas para estudos desenvolvidos no Brasil.
“Com a interrupção do estudo, nenhum novo voluntário poderá ser vacinado. A Anvisa reitera que, segundo regulamentos nacionais e internacionais de Boas Práticas Clínicas, os dados sobre voluntários de pesquisas clínicas devem ser mantidos em sigilo, em conformidade com princípios de confidencialidade, dignidade humana e proteção dos participantes”, acrescentou a agência, em nota.
Dez dias antes do “evento adverso grave” ser registrado, ela foi considerada a vacina mais segura dentre todas as testadas pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.