Foto: Seu Jorge e Wagner Moura nos bastidores de Marighella; diretor afirma que filme sofreu censura
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Um dos filmes mais aguardados de 2021, Marighella, após sofrer com adiamentos por conta da pandemia de Covid-19, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4). O filme sofreu censura do governo de Jair Bolsonaro para não chegar aos cinemas. Wagner Moura, diretor do longa, detonou o presidente e afirmou que a nova direção da Ancine (Agência Nacional de Cinema) fez de tudo para atrapalhar o desenvolvimento da produção. Em bate-papo com a imprensa para a divulgação de Marighella, do qual o Notícias da TV participou, Moura foi categórico ao ser questionado sobre uma possível censura intencional por parte do governo de Bolsonaro.
“Não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado. Era uma época na qual [Jair] Bolsonaro falava em filtrar e regular a Ancine. O Crivella [ex-prefeito do Rio de Janeiro] cancelou HQs de dois personagens homens beijando na boca, os filhos do presidente comemoram”, pontuou o cineasta
A opinião de Moura de que Marighella sofreu com a censura do governo federal foi corroborada por Andrea Barata Ribeira, produtora da O2 Filmes e uma das principais executivas do longa. “Durante 18 anos, a Ancine lutava ao lado dos produtores. Há dois, ela foi desmontada, e isso já é uma forma de censura. Tiraram a antiga diretoria e colocaram outra que não ajuda. Não foi possível resolver alguns problemas corriqueiros de produção por censura. Teve censura, simA todos os filmes brasileiros, não apenas contra Marighella”, acrescentou.
O resgate da imagem de Marighella Para Wagner, o principal incentivo para transformar a vida de Carlos Marighella (1911-1969) em filme foi a necessidade de recontar a história de um dos principais ativistas políticos que participaram da luta armada contra a Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil e que chegou a ser considerado pelos governistas o “inimigo número um do país”.
De acordo com o diretor, os livros de história retiraram Marighella do imaginário da população e não dão a importância devida ao político no combate aos militares que perseguiam políticos e cidadãos contrários à ditadura.
Eu sempre fui fascinado por histórias de revoltas populares e me incomodava a forma como elas eram retratadas. Com esse filme, eu queria trazer Marighella de volta para o imaginário brasileiro. Tirar o seu nome do silêncio. Foi muito difícil, o filme foi atacado do começo ao fim. Eu não poderia estar mais feliz de lança-lo neste momento.
Moura ainda abordou a escolha de Seu Jorge para o papel principal. Anteriormente, o astro de Tropa de Elite (2007) revelou que a sua primeira opção era o rapper Mano Brown, tanto pelo tom da pele –Marighella também é filho de pai branco e mãe negra– quanto pela simbologia de um poeta negro que luta por seu povo.
Ao precisar reescalar seu protagonista após a saída de Brown do projeto, o diretor pontuou que não queria repetir o embranquecimento clássico de outras produções do cinema. E que a opção por Seu Jorge, um negro com tom de pele mais escuro, reforça a negritude de Marighella e a importância de sua imagem para as camadas mais pobres do Brasil.
“Seus avós eram escravos sudaneses. Eram pretos muçulmanos, sabiam ler, entendiam de matemática. Seu grupo deu trabalho para os senhores de engenho no Brasil Imperial. Desconectar essa herança de Marighella, da luta desse cara, era um desserviço. Eu queria um ator negro, não queria repetir o embranquecimento clássico. Quando eu reafirmei a negritude de Marighella, eu fui contra o oposto da historia do audiovisual brasileiro. Acertei sem querer”, finalizou.