Anvisa fala em pressão política para destravar liberação de vacina russa
BRASÍLIA – A Anvisa reagiu nesta quarta-feira (4) à mais ostensiva tentativa de politizar as vacinas contra a Covid-19. O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ameaçou “enquadrar” a agência para que aprove o uso emergencial de 11 vacinas. Segundo Barros, os diretores da Anvisa “não estão nem aí” para a pandemia. O presidente da agência, Antonio Barra Torres, chamou o deputado às falas, afirmando que ou o parlamentar deve formalizar denúncias que tenha contra a Anvisa ou se retratar. Com a repercussão, o presidente Jair Bolsonaro acabou desautorizando o líder, dizendo que a Anvisa “não pode sofrer pressão”.
SPUTINIK V
No cerne da polêmica está a liberação da vacina russa Sputnik V, apelidada de “vacina do Centrão” e “vacina do Bolsonaro”. Ela é objeto de um lobby intenso, comandado pelo ex-deputado e ex-governador do DF Rogério Rosso (PSD), que tem grande trânsito junto ao Centrão. Segundo o presidente da Anvisa, nos 22 anos da agência “pouquíssimas vezes houve tanta movimentação política”. A questão é que, não testada no Brasil em fase 3, a Sputnik V pode livrar o governo federal da incômoda dependência da CoronaVac, importada e produzida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo.
MUDANÇA NO PROTOCOLO
A Anvisa também alterou suas regras para conceder autorização de uso emergencial a vacinas — deixa de ser necessário que o imunizante tenha passado ou esteja passando por testes de fase 3 no Brasil. A decisão beneficia diretamente Sputnik V e Covaxin, produzidas na Rússia e na Índia, respectivamente. Na entrevista coletiva em que a Anvisa anunciou a mudança ainda estava em andamento quando o Ministério da Saúde anunciou que pretende comprar 30 milhões de doses de ambas. O negócio deve ser acertado na sexta-feira. As vacinas podem chegar ainda este mês, mas sua aplicação segue dependendo de uma confirmação final da Anvisa. Produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, a Covaxin estava sendo negociada inicialmente por empresas privadas.
Apesar da mudança de posição na Anvisa, a Covaxin deve fazer testes de fase 3 no Brasil, conduzidos pelo Instituto Albert Einstein.