(*) Fernando Benedito Jr.
Para integrar o governo Bolsonaro, em primeiro lugar é preciso ser submisso. Não se pode ter opinião própria e, principalmente, não ser muito inteligente (se for, tem que fingir que não é). Também não pode ter popularidade, para não ameaçar o chefe, o que em breve não será mais um problema, porque tudo indica que o índice de popularidade do chefe não será grande coisa assim que mereça ser ameaçada. Se a pessoa no cargo puder defender tortura, ditadura, terra plana, cloroquina, uso de arma, violência, ganha pontos no currículo. Ah, se for general ou militar, mesmo que a graduação não seja lá grande coisa, o cacife sobe de maneira descontrolada. Se juntar todos estes critérios, então, arrasou. É o nome!
Para quem afirmava que teria um ministério absolutamente técnico, Bolsonaro fez um desvio de rota e tanto. Estão aí os generais, Damares, Regina Duarte, Abraham Weintraub, como prova. O governo está quase chegando no ponto, faltando acertar apenas o Ministério da Saúde. No geral, os quesitos estão praticamente preenchidos, com alguns escorregões aqui e acolá, mas nada que comprometa o grau de incompetência, de absurdos e de demência que deve caracterizar o governo, conforme a vontade do clã Bolsonaro.
Resumindo: o governo já ia mal antes da pandemia, registrava um alto índice de desemprego, de queda na produção, arrematada por um PIB de 1,1%, investimentos públicos e privados paralisados, empresas quebrando, dólar nas alturas. Com a chegada do vírus as coisas pioraram catastroficamente e a economia parou de vez. Só vai ser retomada depois que a curva de contaminação e mortes se achatar, o que só será possível com mais isolamento social e mais paralisia para que as coisas voltam a funcionar mais rapidamente. Na contramão da lógica e a favor do negacionismo, o presidente e seus apoiadores querem o retorno imediato das atividades comerciais e industriais, empurrando o povo para o abismo da morte e da contaminação em nome do capital. O presidente sabe que se não resolver o problema econômico, não haverá 2022. Só que antes de resolver o problema econômico, tem que resolver a pandemia, o que, por falta de competência e de conhecimento, não está dando conta de fazer.
Por tudo o que se vê, não é difícil concluir que no País há algo fora da curva. E não é só o coronavírus.
(*) Fernando Benedito Jr. É editor do Diário Popular.