sexta-feira, novembro 29, 2024
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Alê Silva faz vídeo de dancinha na Câmara e perde o rebolado

Ao transformar cenário da Câmara dos Deputados em picadeiro, deputada mostra que tem pouco o que fazer por lá

https://youtu.be/uQTGaHFvJWc

(DA REDAÇÃO) – A deputada de extrema direita Alê Silva (PSL-MG) usou o Salão Verde da Câmara dos Deputados para fazer um vídeo, com mais duas pessoas, todas sem máscara, com uma “dancinha”. A manifestação soou como um desprezo pela situação trágica do País, com mais de 410 mil mortos, no dia do massacre que matou 4 crianças e 1 professora em uma escola de Santa Catarina e também quando o Senado iniciou os trabalhos da CPI da Pandemia. O ato foi criticado pela oposição e expôs ao ridículo o parlamento brasileiro. Eleito com votos do Vale do Aço, Alê Silva tem caracterizado seu mandato pela defesa de atos antidemocráticos, a extrema bajulação das forças de segurança – só ficou contra com o superintendente da PF Alexandre Saraiva na maior apreensão de madeira ilegal do Pará para ficar a favor dos madeireiros e do ministro Ricardo Salles – e do Exército, a defesa do fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF). Intransigente na defesa do governo Bolsonaro, ela compõe a tropa de choque que sustenta as posições mais antidemocráticas e reacionárias do governo como o desmatamento da Amazônia, é contra o lockdown (sua hashtag é “o lockdonw também mata”), o discurso de ódio contra os opositores e teorias de conspiração contra comunismo, o socialismo e a China, entre outros disparates que podem ser conferidos em suas redes sociais.

EXPLICAÇÕES

Depois que “lacrou” com a dancinha no Salão Verde da Câmara dos Deputados, tendo a estátua de Ulysses Guimarães ao fundo, Alê Silva deu várias explicações distorcidas para seu ato tresloucado. A primeira foi que “não tinha ninguém lá”.

Depois tuitou:

1 – Esclarecendo: o vídeo com uma dancinha minha foi feito para uma seguidora que sofre de depressão profunda, que está passando por um momento crítico. Gravei para fazê-la feliz, como de fato a fiz, por alguns instantes. Foi gravado após horas e horas de sessão, quando (…)

2 – estávamos apenas eu e mais dois assessores no local, cujo local é público e já foi palco de uma série de manifestações. Esse vídeo, que foi direcionado a uma pessoa específica, vazou. O que eu não consigo entender que, como muitos disseram, num momento que o (…)

3 – Brasil está vivendo, num dia trágico como hoje, que um vídeo de 15”que foi gravado há dias, fosse incomodar tanto, a ponto da impressa se referir a ele em rede nacional. Valeu à pena? Valeu! A minha seguidora ficou feliz, por algumas horas se sentiu feliz, esqueceu a sua dor.

Por fim, justifica o ridículo com outro argumento: “Sabem por que vídeo de humor de deputada bolsonarista causa tanta revolta na esquerda? Porque não tem vídeo da gente carregando mala de dinheiro”.

ANTIDEMOCRÁTICA E REACIONÁRIA

Seja como for, no fim das contas, a deputada atingiu seu objetivo: ganhou até a mídia nacional, ainda que não com as melhores críticas, por bons exemplos de atuação parlamentar ou por relevantes serviços prestados ao País.

Aliás, no parlamento, sua atuação também tem sido marcada por posturas lastimáveis para uma pessoa que foi eleita por métodos democráticos, portanto, que deveria honrar as instituições que representa.

A deputada Alê Silva (PSL) foi uma dos 42 parlamentares a votarem contra a ratificação do texto da Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância. O texto foi aprovado pela Câmara dos Deputados com 417 votos favoráveis, 42 contrários e 3 abstenções. Outros 53 deputados não registraram presença em plenário.

Também foi contra a decisão da Câmara dos Deputados que decidiu manter a prisão em flagrante e sem fiança do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), detido no âmbito de inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga notícias falsas (fake news), calúnias, ameaças e infrações contra o tribunal e seus membros.

Seguidora fiel de Bolsonaro, o copia até nas chulas e mal educadas grosserias que pratica contra a imprensa. “E aí? A senhora também está louca para dar… furo?” Disse ela, uma mulher, descendo ao mesmo nível de Bolsonaro, em relação à jornalista Vera Magalhães, do Estado de S. Paulo e apresentadora do Roda Viva, na TV Cultura, que envolveu o presidente na divulgação dos atos contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Alê Silva tuitou a pérola de trocadilho de tiozão, tentando buscar seu lugar ao sol, para compensar a ausência ao lado de Eduardo Bolsonaro em seu discurso na Câmara defendendo o pai, secundado pela bancada direitista de mulheres. O fato ocorreu após o achincalhe contra a jornalista da Folha de S. Paulo, Patricia Campos Melo, que denunciou disparo de fake news durante a campanha de Bolsonaro. Campos Melo venceu ação judicial contra o presidente.

POUCO RESULTADO

Enquanto se preocupa em fazer dancinhas para o tik-tok, A Câmara dos Deputados segue seu ritmo sem contar muito com o papel parlamentar que Alê Silva deveria desempenhar. De 120 proposições legislativas, teve apenas 6 relatadas, em 2019, já em 2020, teve 46 proposições feitas e 1 relatada; e este ano teve 59 proposições e 2 relatadas.  

Segundo a Câmara dos Deputados, desde que assumiu seu mandato, em 2019, a deputada já faltou 75 vezes em sessões em Plenários e comissões temáticas.

Foram 66 ausências só no primeiro ano: 6 em Plenário e 60 em comissões. Dessas, apenas 10 foram justificadas. No ano passado, mais 7 ausências: 3 em Plenário e 4 em comissões. Desde fevereiro, quando começaram os trabalhos, Alê Silva tem 2 ausências não justificadas em comissões.

Alê Silva recebe mensalmente R$ 24.854,48, livres de descontos.

Nesse ano, já gastou 60.17% de sua verba de gabinete (R$ 268.771,82).

Seus 8 assessores recebem salários entre R$ 4.139,32 a R$ 11.705,45, além de R$ 1.808,20 em benefícios.

“É muito dinheiro jogado fora para transformar a Câmara de Deputados em picadeiro”,  critica o site Congresso em Foco.

CRÍTICAS À DANCINHA

A deputada Perpétua de Almeida (PCdoB-AC) foi uma das que publicou o vídeo e questionou: “A deputada bolsonarista, Alê Silva, não tem mesmo o que fazer na Câmara?! O Brasil com mais de 400 mil mortes e essa criatura usa as dependências da Câmara p/ fazer dancinha?!!”. Procurada pela coluna, Alê Silva disse não ter visto a atitude como desrespeitosa e rebateu as críticas. “Você já visitou o meu canal do Tik-tok? Está cheio de vídeo humorístico lá. Assim, com o Brasil pegando fogo, com atentado daquele tamanho lá em Santa Catarina em que esfaquearam crianças e professoras, vocês estão preocupados com um vídeo de humor que eu faço no meu canalzinho no tik-tok. Eu não acredito”, disse. A deputada falou que costuma fazer essas “brincadeiras”.

“NÃO TINHA NINGÉM LÁ”

Questionada se sua atitude não poderia ser uma quebra de decoro, a parlamentar rebateu. “Não. Não tinha ninguém lá”. Indagada sobre a imagem da Câmara que fica exposta com o vídeo, Alê Silva disse que “não tinha nome da Câmara, não tinha nada”. Informada pela coluna que havia a imagem da estátua de Ulysses Guimarães aparecendo no vídeo, a deputada se desculpou pela primeira vez: “Ai eu nem vi. Desculpa. Não vi”.

O que é quebra de decoro? O artigo 5 do Código de Ética da Câmara, em seu inciso II, inclui nas condutas que atentam contra o decoro parlamentar, “praticar atos que infrinjam as regras de boa conduta nas dependências da Casa”. Segundo o artigo 240 do regimento interno da Casa, o ato de quebra de pode causar a perda de mandato da parlamentar, caso seja assim entendido pelos colegas deputados.

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