(*) Fernando Benedito Jr.
Nunca tantos brasileiros entenderam tanto de geopolítica. Nada a se estranhar já que também são experts em vacina, medicina, física quântica e outros temas não menos complicados. O que se estranha é a carga de ódio que vem junto com este “aprendizado”. No caso da geopolítica, por exemplo, de uns tempos para cá, mais precisamente nos últimos quatro anos os brasileiros aprenderam-na juntamente com economia e xenofobia.
Sabem tudo sobre a Venezuela, mesmo sem nunca terem ido lá. Inclusive, tem um metrô que está lá, sabe-se lá onde, talvez Caracas, mas segundo dizem os bolsonaristas, deveria estar em Belo Horizonte. Também tem uma refinaria lá que deveria estar aqui em algum lugar…
Se a pessoa não vota em Bolsonaro e ainda por cima se for lulista, ela tem que ir para Cuba, queira ou não. Ou para a China, que é mais longe. Se bem que o problema parece ser com os povos da América Latina (afinal, foi aqui no continente que os direitistas xenófobos sofreram as mais recentes e dolorosas derrotas). Quando se trata de colapso econômico, além da Venezuela, a Argentina é o exemplo mais próximo. A comparação é inevitável: “Se o PT ganhar vamos virar a Venezuela. Veja o que está acontecendo com a Argentina”. Já tem um combo pronto.
A Bolívia, então, é tratada como pária pelos bolsonaristas. Eles assimilaram direitinho as lições ensinadas pelos brancos racistas, xenófobos e ricos dos comitês cívicos de Santa Cruz de la Sierra. Se a ideia for matar índigenas, destruir sua cultura, impedir sua chegada ao poder político, então, o apoio é geral e irrestrito. A Bolívia só não é pária quando serve para os brancos brasileiros estudarem medicina lá. Vão lá, aprendem direita e medicina e voltam para tentar o Revalida. Muitos são reprovados.
A vizinhança com os povos latinoamericanos sempre foi motivo de orgulho para milhões de brasileiros. Buenos Aires sempre foi e continuará sendo um destino maravilhoso, de tango, cafés, cultura irretocável. Uruguai, Chile, Colômbia, Cuba, Venezuela, Bolívia com seus povos indígenas, negros, brancos, suas arquiteturas, suas praças, ruas largas, sua rica gastronomia, seus vinhos, as igrejas coloniais, seguirão sendo lugares maravilhosos para conhecer e viver, antes, durante e depois de Bolsonaro e seus adoradores.
E, não, a maioria dos brasileiros não deseja que os povos latinoamericanos vivam mal, em colapso econômico, em sofrimento.
Ao contrário, torce para que a América Latina viva bem e livre, estável e desenvolvida, solidária e fraterna, sem a xenofobia e o ódio que tentam difundir com preconceitos.
(*) Fernando Benedito Jr.é editor do DP.