domingo, novembro 24, 2024
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A simpatia do hacker

Delgatti pode não ser herói, mas está na categoria de um Assange, Snowden ou de Kevin Mitnick

(*) Fernando Benedito Jr.

Em seu depoimento à CPI do 8/1 o hacker Walter Delgatti faz revelações interessantes, como o empenho do ex-presidente em destruir a democracia a qualquer custo. Entre outras coisas, prometeu indulto se Delgatti conseguisse invadir as urnas eletrônicas para endossar o discurso bolsonarista contra o sistema eleitoral.

Mas o que chamou a atenção foi a tranquilidade de Delgatti, uma quase simpatia ao assumir tudo e responder tudo que lhe foi perguntado mesmo tendo garantido o direito ao silêncio. Fez o contrário do que faz a maioria dos depoentes, que mentem, tergiversam, silenciam, culpam os outros, enfim, faltam com a verdade. Ele não. Foi sincero, ainda que lhe custe alguns processos a mais.

O senador Sérgio Moro tentou desqualificá-lo. O chamou de estelionatário, golpista, bandido e acusou a CPI de querer transformá-lo em herói. Delgatti foi o responsável pela Vazajato, destruiu as tramoias de Moro e revelou sua cumplicidade com o Ministério Público, seus conchavos com Dellagnol. Delgatti pode não ser um herói, mas está na categoria de Julian Assange, de um Edward Snowden, do Anonymous ou de Kevin Mitnick. Seu único problema é que não tem lado nem causa. Faz da pirataria um negócio e pronto. Com a Vazajato, acabou ajudando Lula, mas depois foi ter com Bolsonaro, com Carla Zambeli e outros. Não tem muito apego ideológico, digamos. Ou vai com quem pagar mais. Mas que sua atividade é interessante, isso é! Ter acesso ao que se passa no submundo das redes sociais é o desejo de 11 entre 10 nerds, aficionados pelo mundo virtual e afins. É como poder se transformar numa mosca e ver tudo o que os outros não vêem, como poder ler a mente dos outros. Algo assim.

Indagado na CPI, não cortou volta:

– O senhor tentou invadir as urnas eletrônicas?

– Tentei. Tentei, mas não consegui porque o código-fonte fica em um cofre e as urnas não estão interligadas à internet – foi direto e ainda deu aulinha.

– Então o senhor confirma que as urnas são seguras?

– Sim. São seguras.

Deve ter sido aí que Bolsonaro o demitiu. “Porra, te contratei pra faudar, seu incompetente”.

Devaneios à parte, o hacker falou que toma uns comprimidos controlados. Pode ser álibi, hábito ou alguma deficiência mesmo, o que é bem provável.

Uma coisa é certa: se tivesse poupado Bolsonaro ou estivesse do seu lado, a esta altura já seria herói nacional com direito a estátua, bandeira e medalha de honra. E poderia pedir pix à vontade.

Mas é uma simpatia, o rapaz. A Zambelli, claro, não acha.

(*) Fernando Benedito Jr. é editor do DP.

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