Carlos Bolsonaro, líder do Gabinete do Ódio e da campanha eleitoral do pai, ocupa espaço de ministros de Estado durante viagem à Rússia, paraíso de hackers e golpistas desestabilizadores de regimes
(*) Fernando Benedito Jr.
O que se viu de assassinato de reputações nas últimas eleições no Brasil é coisa fantástica, tanto no sentido mesmo de inacreditável, quanto da impunidade e impotência diante da virulência dos ataques. Diante do massacre midiático sobre o sítio de Atibaia, o triplex do Guaraujá, a boiada do filho do Lula que era sócio da JBS, da mamadeira de piroca, da demonização da Manuela D’Ávila e da esquerda em geral, não restou muito além do silêncio, até porque qualquer fala somente aumentaria repercussão das mentiras e, uma vez viralizadas as fake news, pouco restava a fazer. Nem TSE, nem STF, nada nem ninguém ainda estava preparado para enfrentar aquela situação numa eleição. Hoje, as instituições de defesa da democracia começam a tentar armar uma linha de defesa contra novas investidas, mas parecem ainda longe de conseguir impedi-las antes que aconteçam. E, depois que acontecem, não adianta mais.
A lógica do marketing viral na política é perversa e segue uma matemática de algoritmos bem desenvolvidos pela Cambridge Analytica e aprimorada por Steve Banon para destruir reputações, os pilares da democracia e depois ela própria. Daí, os ataques nas redes, secundados por cercos físicos aos STF, discursos em frente aos quartéis militares e no 7 de setembo. Por si só, tais ataques deveriam ser punidos imediatamente, sem esperar que as ameaças se tornem realidade.
A máquina de mentiras bolsonarista, orquestrada pelo vereador Carlos Bolsonaro, chefe do Gabinete do Ódio e principal “estrategista” eleitoral do pai (o que significa dizer especialista em criar mentiras, um “lie teller”) já está em plena atividade. Segundo ela, a narrativa mentirosa, além da interminável ameaça comunista representada pela esquerda, que vai destruir famílias e a moral conservadora, outros espectros já começam a rondar o quintal dos milicianos: revivem o fantasma da facada no atentado que teria sido encomendado pela esquerda (leia-se PT), embora todas as provas da Polícia Federal do presidente digam o contrário; requentam a prisão de Lula e os casos de corrupção do PT, como se o atual governo fosse imaculado e suas políticas não fossem um desastre; a historinha da volta da mamata contada por Mário Frias, a defesa das armas, da emaixada brasileira em Jerusalém e tudo aquilo que foi prometido antes e não foi cumprido, etc.
Não à toa Jair Bolsonaro tem manifestado resistência à possibilidade de nomear um marqueteiro para as eleições desde ano e o motivo apesar da insistência dos aliados do “Centrão”, que querem ter controle da campanha e do dinheiro que dela possa advir, é dar protagonismo ao filho “02”, Carlos Bolsonaro, sobretudo na condução das redes sociais.
“Bolsonaro diz ter total confiança na atuação do vereador carioca pelo Republicanos, acostumado a gerenciar as mídias digitais do pai desde a vitoriosa empreitada em 2018. De acordo com o desenho original da chapa, caberia a Carlos a formulação de estratégias, linguagens e, sobretudo, os alvos em potencial – como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT) e o ex-juiz Sergio Moro, que deve concorrer pelo Podemos”, afirma o UOL.
Ainda segundo o portal, “a internet é um terreno fundamental para os bolsonaristas, e o patriarca não abre mão de fomentar, na esfera digital, o engajamento de sua base. Na visão dele, pavimentar esse caminho garantiria, no mínimo, a ida ao segundo turno. Além do Twitter e do Facebook, os dois canais preferenciais, Bolsonaro aposta alto no compartilhamento de conteúdo via Telegram —aplicativo russo que tem pouca moderação e estrutura propícia à disseminação de fake news, mensagens de ódio e informações distorcidas. O app está na mira do TSE (Tribunal Superior Eleitoral)”.
A observação vem a propósito da recente visita de Bolsonaro à Rússia, considerado o paraíso dos hackers e do marketing político destruidor nas redes sociais. Daí, da Rússia, e do Leste Europeu, partem ataques capazes de paralisar um país e suas principais estruturas de poder econômico, político e judicial.
“The Intercept” publica fotografia do protagonismo do chefe do Gabinete do Ódio na recente viagem à Rússia, mostrando “o filho de um presidente e vereador de um município brasileiro sentado à mesa com autoridades de outra nação como se fosse um diplomata ou um Ministro de Estado”.
“Se você olhar direitinho, vai ver o Walter Braga Netto, Ministro da Defesa, quase caindo da mesa. Outros dois ministros estão fora da mesa: Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno. Há muito tempo que os generais topam ser humilhados em troca de mamatas como acúmulo de salários e outras benesses. Mas não é disso que vamos falar. O que Carlos Bolsonaro foi fazer na Rússia? Com quem ele se encontrou? Quem bancou a viagem dele? Quem o acompanhou? Ele encontrou autoridades russas sozinho?” – indaga The Intercept.
E o próprio site responde: “O planeta inteiro sabe da disposição de Moscou para desestabilizar democracias com tropas digitais e outras artimanhas modernas. Daí que não é absurdo questionar: foi atrás disso que Carlos viajou?”
The Intercept observa ainda que “como eles não fazem a mínima questão de serem discretos. O filho do presidente poderia não aparecer ou até viajar em outro momento. É curioso, mas não surpreende. Aparecer, aparecer muito, passar uma imagem de que não teme nada nem ninguém é parte da estratégia bolsonarista. Isso não é novidade, é o bê-a-bá do fascismo. O mesmo Bolsonaro que aparenta ser um homem simples, gente como a gente, precisa também se mostrar destemido, capaz de colocar pra fora tudo aquilo que um cidadão comum falaria, mas não tem coragem; capaz de ir contra o sistema, o STF, os comunistas”.
“Ou seja: não adianta nos enganarmos achando que Carlos Bolsonaro só quis causar um rebuliço nas redes sociais: eles estão em campanha e com a faca nos dentes. Estão em campanha para conquistar votos e ao mesmo tempo trabalhando para encontrar meios de melar as eleições”, arremata o site.
Diante da poderosa máquina de mentiras e de difusão do ódio, a esqueda ainda não apresentou uma alternativa, nem o judiciário se posicionou de maneira categórica. Tomara que ajam rápido, antes que seja tarade.
(*) Fernando Benedito Júnior é editor do DP.