(*) Fernando Benedito Jr.
Ciro, o Grande tem uma estratégia basilar para chegar à Presidência da República: tirar o PT do 2º turno, porque, em sua análise, qualquer um tem chances de vencer Bolsonaro nesta etapa da eleição, mas o PT tem menos chances. É de se supor que Ciro queira o apoio do PT, no caso dele chegar ao 2º turno numa disputa com Bolsonaro, afinal, com todo o anti-petismo e o processo de desconstrução do partido e de suas principais lideranças, o PT ainda é o partido de esquerda com maior capilaridade no País, tem a maior bancada na Câmara dos Deputados e grande expressão nacional. É no mínimo curiosa esta idéia de tentar destruir o principal aliado.
Na medida em que coloca como estratégia central a crítica contundente ao principal partido de esquerda, Ciro comete uma contradição grave. Enfraquece aquele que poderia ser seu maior aliado num eventual 2º turno em que ele estivesse à frente. A menos que não conte com isso ou prefira alianças mais ao centro, rumo à direita, com DEM, PROS, PP e outros partidos que hoje, em sua maioria, integram a base de Bolsonaro, o ex-ministro de Lula faz uma inflexão estranha. Pode ser também que tenha optado por endireitar de vez e não tenha interesse em alianças com a esquerda. Além de malhar o PT como o Judas da política nacional, Ciro nunca se refere às demais forças esquerdistas como PC do B, Psol e Rede, também importantes eleitoralmente num 2º turno.
Alvo fixo da mídia empresarial, da extrema direita e do governo, o PT parece ter entrado definitivamente na alça de mira de Ciro Gomes. É raríssimo um pronunciamento seu que não contenha fortes críticas ao PT.
Com seu potencial aliado ferido de morte, Ciro no 2º turno vai chamar o PT para ajudá-lo a ganhar as eleições, depois de se colocar na linha de frente do linchamento para torná-lo ainda mais combalido e esfrangalhado. Salvo engano, para vencer, o aliado precisaria estar forte e saudável.
É certo que o PT não irá a Paris, mas também não irá de bom grado e apaixonado com o pedetista a continuar essa estratégia estapafúrdia e tão benéfica ao que aí está.
(*) Fernando Benedito Jr. é editor do Diário Popular.