(*) Mauro Falcão
Desde os tempos antigos, a humanidade reconhece a relação entre alimentação, saúde e doença. Hipócrates, o pai da medicina, afirmava que “se dermos tempo ao corpo para curar-se, ele o fará sozinho”. Essa compreensão atravessou os séculos e permanece nas grandes tradições religiosas — Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, Hinduísmo e Budismo — que incorporam o jejum como rito de purificação física e espiritual.
A ciência moderna começa a confirmar os fundamentos biológicos dessa sabedoria ancestral. O Prêmio Nobel de Medicina de 2016, concedido a Yoshinori Ohsumi, revelou que o processo de autofagia, ativado em estados de restrição alimentar, é essencial para a renovação celular, a longevidade e a resistência a doenças como o câncer. A autofagia elimina células defeituosas e fortalece o sistema imunológico, permitindo que o organismo se regenere a partir de seus próprios recursos.
Pesquisas recentes sobre o uso da aspirina na oncologia apontam na mesma direção: o medicamento pode modular vias metabólicas das células tumorais, ativando a enzima AMPK, que inibe o mTOR, promove a autofagia e reduz a capacidade de multiplicação das células cancerosas. A ciência, assim, redescobre a verdade intuída pelas antigas tradições: há uma ponte entre práticas naturais e mecanismos bioquímicos que sustentam a vida.
A pandemia de COVID-19 mostrou que, quando o interesse financeiro se alinha à urgência científica, o avanço ocorre em ritmo impressionante. Em poucos meses, surgiram vacinas eficazes — não apenas pela genialidade técnica, mas pela força de um mercado global que obrigou governos a adquiri-las a qualquer custo. O tempo da ciência, portanto, depende menos do impossível e mais de onde se decide investir.
Entretanto, há uma contradição evidente entre o diagnóstico e o tratamento oncológico. O exame PET Scan, baseado no consumo anormal de glicose por tumores, confirma que o câncer é essencialmente metabólico, alinhando-se às descobertas sobre jejum, autofagia e regulação energética. Mesmo assim, o sistema oncológico insiste em terapias citotóxicas, pois reconhecer a base metabólica da doença abalaria uma cadeia financeira bilionária sustentada pela sua continuidade.
O estacionamento científico da quimioterapia
A medicina convencional mantém-se centrada na quimioterapia, método criado nos anos 1940 que destrói o sistema imunológico e fragiliza o paciente. Se a modulação metabólica e a autofagia são caminhos comprovadamente eficazes, por que essa técnica ainda domina os protocolos clínicos? Porque a quimioterapia movimenta os maiores repasses públicos e sustenta economicamente hospitais, laboratórios e indústrias farmacêuticas — um modelo que lucra com o tratamento, não com a cura.
Após oito décadas de aplicação quimioterápica, o câncer continua entre as principais causas de morte. Repensar o paradigma oncológico é urgente. Estratégias que fortalecem o organismo e promovem a regeneração celular — como o jejum terapêutico e a ativação da autofagia — unem espiritualidade e ciência, apontando para uma medicina verdadeiramente hipocrática: aquela que cuida da vida antes de cuidar da doença.
(*) Mauro Falcão é pesquisador e escritor brasileiro.