sábado, junho 21, 2025
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InícioOpiniãoA classe média está sendo apagada e ninguém parece notar

A classe média está sendo apagada e ninguém parece notar

(*) Thales Aguiar

Caros leitores, nos anos 90, pertencer à classe média era sinônimo de um certo prestígio. Casa própria, carro quitado, filhos na faculdade e férias com algum conforto. Em 2025, esse mesmo grupo sobrevive em um campo minado entre o endividamento, o desemprego disfarçado e a perda contínua de direitos. Mas por que ninguém fala sobre o colapso silencioso da classe média brasileira? Segundo o IBGE, cerca de 50% dos brasileiros são considerados classe média. Mas o conceito é cada vez mais ilusório. Uma família com renda mensal de R$ 3.000 a R$ 6.000 enfrenta custos que outrora pertenciam às elites. Saúde privada, educação de qualidade e segurança, porque o Estado deixou de garanti-los. O que era opção virou necessidade. E o que era estabilidade virou ansiedade permanente. Esse apagamento é estrutural e proposital. O modelo econômico adotado nos últimos anos empurrou a classe média para o abismo do crédito. São mais de 70 milhões de brasileiros inadimplentes, segundo o Serasa. A educação superior virou um passaporte para o desemprego qualificado. A casa própria, sonho da década passada, virou prisão hipotecária.

Mais grave que a perda de renda é a perda de pertencimento social. A classe média brasileira foi convencida a se identificar com a elite, a rejeitar políticas redistributivas e a culpar os mais pobres por seus próprios fracassos. O resultado? Isolamento, ressentimento político e apoio a projetos que aprofundam sua própria ruína. Enquanto isso, grandes fortunas seguem isentas, lucros de bancos batem recordes e o Estado, ao invés de proteger, transfere recursos para o topo da pirâmide. A classe média, ao contrário do que imagina, não é o motor do país, é o amortecedor. Amortece crises, sustenta o consumo e silencia diante dos abusos.

Se não trouxermos esse debate para o centro da arena pública, perderemos mais que salários ou status. Perderemos nossa capacidade de indignação. Precisamos parar de romantizar a meritocracia e encarar os fatos. A classe média está sendo esvaziada em nome de um Brasil mais desigual, mais violento e menos democrático. O silêncio sobre isso é estratégico. E nossa resposta precisa ser política, crítica e urgente. Porque quando a classe média desaparece, a democracia entra em risco. E o Brasil se torna um país de poucos para poucos.

(*) Thales Aguiar é jornalista e escritor. Especialista em Ciência Política

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