(*) Fernando Benedito Jr.
Não fosse a Agenda de Convergência uma iniciativa absolutamente importante, necessária, vital para o desenvolvimento do Vale do Aço, talvez nem fosse o caso de se entrar no mérito de uma autocrítica sobre seu papel. Mas é. Sua contribuição para as cidades e a população é, certamente, um dos grandes acertos que o Vale do Aço teve nos últimos anos. A constituição da Agenda é motivo de orgulho e uma ideia primorosa. Cumpre o papel de um parlamento regional (exceto pelo fato de não fazer leis e fiscalizar) ao reunir forças políticas e empresariais para buscar o desenvolvimento econômico e, com ele, alavancar outros aspectos da vida regional. Cumpre um papel que algumas das instituições que a compõem, não cumprem. Se o fizessem, a capacidade de obter conquistas para a região seria ainda maior.
A reforma e entrada em operação do Aeroporto Regional (depois de uma longa espera) e de uma companhia aérea ligando a região ao Aeroporto de Guarulhos (que não se sabe até quando opera), a instalação de uma Delegacia da Polícia Federal e aquisição de câmeras de vigilância, foram os principais saldos positivos apontados durante o ano de 2022. Claro, são mesmo grandes avanços, considerando o nível geral de atraso (principalmente nos últimos quatro anos), mas daí se vê que nessa altura do desenvolvimento humano e tecnológico, em pleno século XXI, ainda estamos longe das conquistas que realmente importam. E elas são muitas.
Em parte, talvez possa se atribuir tal situação à condescendência da Agenda de Convergência com o próprio atraso representado pelos governos de Minas e Federal. Certamente, para não causar atritos e obter as conquistas necessárias, ainda que mínimas, verdadeiras migalhas das obrigações que tais governos deveriam fazer mesmo sem serem provocados. É o caso por exemplo do próprio Aeroporto Regional ou de um reparo na BR-381, principal artéria de escoamento da produção, que demora meses. Então, para evitar perder o pouco que se tem, tolera-se tudo. Esta condescendência, não é só uma questão diplomática e política, de polidez e gentileza. É, na verdade um alinhamento quase incondicional ao conservadorismo representado por certas forças políticas que, ao fim e ao cabo, menosprezam o Vale do Aço pelo que ele representa. Deu-se tudo ao agronegócio nestes últimos quatro anos, já o setor industrial se contentou com as reformas trabalhistas, redução da carga tributária em alguns casos, que tiraram dos pobres e trabalhadores para dar aos ricos, fazendo-os mais ricos, como se isso fosse fazer girar a roda da economia. Não girou, como se viu. Ou girou ao contrário.
A composição majoritariamente conservadora da Agenda de Convergência, de certa forma, foi conivente com o pouco que recebeu. Aceitou, porque era isso ou era nada. E também porque veio daqueles que apoiavam, portanto, não podiam reclamar, como fariam se fossem governos de esquerda.
Esta é uma questão.
Outra é a pauta da Agenda de Convergência, que precisa buscar novas inspirações. É certo que não se pode abandonar a luta pela duplicação da BR-381 enquanto ela não for definitivamente concluída, mas isso não significa que não se possa, por exemplo, estimular o sistema de compartilhamento de bicicletas, sistemas de transporte mais inclusivos e menos poluentes, trens ligando as cidades da região, projetos ambientais, tecnológicos e outras iniciativas que ajudam a definir as cidades do futuro. O conceito das cidades inteligentes, que é um reflexo da evolução humana e que transforma os espaços urbanos em lugares mais acessíveis e inclusivos, por exemplo, é assunto que deveria estar na ordem do dia desde já.
Evidentemente, existem etapas que precisam ser cumpridas. Não adianta colocar um sistema de compartilhamento de bicicletas numa cidade onde não existe uma segurança eficaz. Não sobra uma.
Por outro lado, é preciso ter claro que a Agenda de Convergência não é uma prefeitura nem uma câmara municipal, mas tem papel imprescindível no desenvolvimento da região. Talvez até mais que alguns de seus pares. E sua importância reside nesta capacidade de impulsionar mudanças e avanços.
Ocorre que para avançar é preciso ter clareza e uma visão mais progressista do mundo e do que o faz melhor. Este é o calcanhar de Aquiles de uma autocrítica necessária à Agenda de Convergência para ir ainda mais longe do que já foi.
(*) Fernando Benedito Jr. é jornalista e editor do DP.