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Talibã chega ao poder com estrutura política, econômica, judicial e militar

Foto: Combatentes do Talibã assumem o controle do palácio presidencial afegão em Cabul, capital do Afeganistão, após o presidente Ashraf Ghani fugir do país em 15 de agosto de 2021

O Talibã, que tomou o Afeganistão e derrubou o governo civil do país neste fim de semana, já chega com uma estrutura de poder pronta

CABUL – O grupo fundamentalista islâmico que controlou o Afeganistão entre 1996 e 2001 tem um líder supremo, um conselho com 26 membros e um “gabinete de ministros” que supervisiona atividades em diferentes áreas, como militar e econômica.

O grupo é tão organizado que tem também uma representação internacional em Doha, onde foram tratadas as negociações de paz com os Estados Unidos.

Apesar disso, os membros do Talibã estão em movimento o tempo todo, sem infraestrutura fixa.

SURGIMENTO

O grupo surgiu nos anos 1990 após a retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, nascido dentro de seminários religiosos que pregavam uma forma fundamentalista de islamismo sunita.

Já no fim daquela década, o grupo havia conquistado grande parte do Afeganistão. Desde então e de 2001, com a invasão americana que tirou o Talibã do poder, seus líderes sofreram baixas e foram sendo substituídos até chegar à formação atual.

LÍDER TALIBÃ

Em 2016, o ex-chefe do Talibã Akhtar Mohammad Mansour foi morto em um ataque de drone dos Estados Unidos.

Mansour havia assumido a liderança no lugar do fundador e principal líder do Talibã, Mullah Mohammed Omar, em 2013. Omar, por sua vez, havia morrido após problemas de saúde – e o Talibã escondeu sua morte durante dois anos.

Depois que Mansour morreu em 2016, quem assumiu a liderança do grupo foi Mawlawi Hibatullah Akhundzada – e é ele quem está na liderança do Talibã até hoje.

Akhundzada esteve envolvido na resistência islâmica contra a campanha militar soviética no Afeganistão na década de 1980. Quando assumiu, sua reputação era mais a de um líder religioso do que a de um comandante militar. Viveu grande parte de sua vida no Afeganistão.

Ele é uma figura importante nos tribunais do Talibã há anos. Acredita-se que tenha emitido decisões apoiando punições islâmicas – como execuções públicas de assassinos e adúlteros condenados e amputações de condenados por roubo.

CHEFE POLÍTICO E ESCRITÓRIO EM DOHA

Apesar de Akhundzada ser líder geral do Talibã, quem mais aparece publicamente é Mullah Abdul Ghani Baradar, um dos fundadores do grupo e seu chefe político.

Depois de ajudar a fundar o Talibã nos anos 1990, Baradar se consolidou como um comandante e estrategista militar. Acreditava-se que ele comandava também as finanças do grupo.

Baradar teve responsabilidades importantes em quase todas as principais guerras no Afeganistão e permaneceu como o principal comandante da formação do Talibã na região oeste do país, em Herat, bem como em Cabul.

Na época em que o Talibã foi derrubado, ele era o vice-ministro da defesa.

Baradar acabou sendo capturado em um ataque conjunto dos EUA e do Paquistão no sul do Paquistão em fevereiro de 2010. Anos depois, autoridades paquistanesas o libertaram dentro de um contexto de esforços dos Estados Unidos para reativar as negociações de paz entre os militantes e o governo afegão.

Quando foi solto, Baradar foi apontado como chefe do escritório diplomático do Talibã em Doha. Esse escritório foi aberto em 2013 com para facilitar as conversas de paz com os EUA e o governo afegão a partir da retirada de tropas americanas. Negociações diretas com os Estados Unidos foram feitas e um acordo de paz foi fechado em 2020. Apesar disso, o Talibã tomou diversas províncias do Afeganistão até derrubar Cabul neste domingo (15).

CHEFE MILITAR

O Talibã também tem um chefe militar – e ele é filho de Mullah Mohammed Omar, fundador e principal líder do Talibã morto em 2013 após problemas de saúde. Seu nome é Mullah Muhammad Yaqoob. Yaqoob foi “promovido” rapidamente dentro do Talibã por ser filho de Omar.

Abaixo dele, há 5 mil unidades militares do Talibã espalhadas pelo Afeganistão, dedicadas ao suprimento ou apoio de logística, treinamento, homens-bomba, armamento e explosivos.

Também há delegados que supervisionam as regiões oeste e sul do país e as regiões leste e norte.

A REDE HAQQANI

Ligado ao Talibã, o grupo guerrilheiro Rede Haqqani luta contra as forças americanas, a OTAN e o governo afegão, e é responsável pelos mais violentos ataques dentro do Afeganistão.

Hoje, quem comanda o grupo é Sirajuddin Haqqani, filho do antigo líder, Jalaluddin Haqqani. O Talibã anunciou em 2018 que ele havia morrido após anos doente.

A rede Haqqani é um dos vários grupos militantes que operaram em áreas tribais ao longo da fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão após a campanha militar americana que derrubou o Talibã em 2001.

O grupo, que supostamente opera em grande parte no Paquistão, é responsável por alguns dos ataques mais letais no Afeganistão, incluindo a explosão de um caminhão-bomba em Cabul em 2017 que matou mais de 150 pessoas.

CONSELHO E GABINETE DE MINISTROS

Além de ter líderes em cada área, o Talibã tem também um conselho decisório de líderes composto por 26 membros. Esse conselho é chamado de Rahbari Shura, também chamado de “Quetta Shura” por causa de uma cidade paquistanesa com esse nome onde os membros supostamente se reuniriam. Islamabad, contudo, nega a existência da Quetta Shura.

Um “espelho” dos ministérios afegãos também existe dentro do Talibã. São comissões para diferentes áreas, como militar, inteligência, política, economia e mais 13 outras.

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