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Sobe número de internações por sintomas de pneumonia

SANTA MARIA – Subiu para 143 o número de pessoas internadas em Santa Maria e Porto Alegre, vítimas do incêndio na Boate Kiss, na madrugada do último domingo (26). São cerca de 20 pessoas a mais que procuraram os serviços de saúde porque estiveram na casa noturna no momento da tragédia e apresentaram sintomas como cansaço e falta de ar, típicos da pneumonite química que pode ocorrer até cinco dias depois do acidente. Essas pessoas estão internadas em observação e o quadro pode evoluir para a necessidade de respiração por aparelhos.

Os números foram divulgados pelo porta-voz da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), Neio Pereira. Segundo ele, o número de pessoas em estado crítico, com risco de morte, permanece em 75. Eles estão dentro de um grupo de 82 pessoas internadas em unidades de terapia intensiva (UTIs), sendo que desses, 57 estão em Porto Alegre e 25 em Santa Maria.

Segundo Pereira, há também a preocupação com os sintomas pós-trauma, que podem atingir as famílias à medida que o tempo da tragédia vai passando. “O estresse causado pelo trauma muitas vezes demora de 48h a 72h para aparecer. As pessoas começam a entrar em depressão pelo luto, o que é normal. Pessoas que estavam lá dentro e saíram, familiares que começam a apresentar alguns sintomas”, explicou o médico.

Por isso, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Santa Maria está atendendo, durante 24 horas, com equipes de psicólogos e psiquiatras, inclusive voluntários. As autoridades de saúde pedem que caso seja observada a necessidade de acompanhamento para pessoas que perderam parentes e amigos na tragédia, elas devem ser levadas ao Caps para atendimento.


Delegado confirma tentativa de suicídio de sócio da Boate Kiss
Santa Maria (RS)
– O delegado Marcelo Arigony, que cuida das investigações do incêndio na Boate Kiss, confirmou ontem (30) que um dos sócios da casa noturna, Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, tentou se matar na noite de anteontem (29). Kiko está internado, sob custódia, em um hospital na cidade de Cruz Alta e teria usado a mangueira do chuveiro para tentar se enforcar. “Mas ele está bem e foi agora algemado na cama para evitar novas tentativas”, disse o delegado.

Elissandro Spohr está preso temporariamente por cinco dias e deve ser posto em liberdade na sexta-feira (1º). Além dele, estão presos dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira e o outro sócio da boate, Mauro Hoffman. Ontem o delegado Arigony disse que está com dificuldades de conseguir prorrogar a prisão dos quatro por motivos legais.
“Pedimos a prisão temporária por 30 dias e só conseguimos cinco. Agora precisamos renovar essas prisões e estamos com dificuldade. Não é culpa do promotor, do juiz ou do delegado, é a legislação que exige requisitos muito específicos”, explicou Arigony.
Segundo ele, há uma preocupação com a preservação de provas e que os suspeitos possam corromper testemunhas. “Um deles [sócio da boate], por exemplo, tem muita influência sobre os funcionários”, explicou.


Fumaça tomou conta da boate e impediu que as pessoas enxergassem a saída

Advogado de empresário diz que operação de resgate foi “desastrosa”
SANTA MARIA (RS)
– O advogado Jader Marques, que representa Elissandro Callegaro Spohr, um dos sócios da Boate Kiss, disse ontem (30) que o estabelecimento estava em “plena condição” de funcionamento no momento do incêndio. Para ele, o que ocorreu na noite da tragédia foi uma “desastrosa” operação de resgate por parte do Corpo de Bombeiros.

“Foi uma desastrosa e deficiente operação dos bombeiros. Os bombeiros estavam com máscaras devidas, estavam com equipamento? Não. Mais grave do que isso, eles próprios, se sentindo impotentes, usaram os civis [para auxiliar no resgate]”, disse em entrevista coletiva.
Marques destacou, no entanto, que vários fatores contribuíram para o episódio, além da deficiência dos bombeiros. “Desde as autorizações, a banda [que usou os fogos], os bombeiros, não foi uma só causa, estamos diante de um fato que poderia ter acontecido em qualquer casa aqui em Santa Maria”, disse.

Segundo o advogado, a documentação estava em dia, e a boate tinha um Alvará de Prevenção e Proteção contra Incêndio que comprova que o Corpo de Bombeiros foi ao local e fez vistoria. Questionado sobre a validade do documento, Marques reconheceu que estava vencido.
“O alvará venceu, mas o que isso provoca? Nenhuma consequência. Em agosto [de 2012] expirou o papel do alvará. Mas nas condições da casa não houve alteração de nada. Não houve uma sequer alteração da casa. O que havia era um problema documental.”

Em nota, o Corpo de Bombeiros diz que, mesmo com o alvará vencido, a boate poderia funcionar, pois não há previsão legal para interdição imediata. “De acordo com o alvará anterior [vencido em agosto de 2012], os sistemas de prevenção de incêndio previstos na lei estavam instalados e operantes. Assim, enquanto tramita o pedido de renovação do alvará, não há previsão legal para interdição imediata determinada pelo Corpo de Bombeiros, cuja competência é limitada às questões relacionadas ao sistema de prevenção de incêndio”, diz o texto do documento, divulgado no final da noite de anteontem (29).

POLÍCIA FAZ RECONSTITUIÇÃO DO INCÊNDIO
SANTA MARIA (RS)
– A Polícia Civil fez ontem (30) uma reconstituição do incêndio da Boate Kiss, ocorrido na madrugada de domingo (27). Testemunhas indicaram aos policiais o local exato onde o fogo começou – no teto sobre o palco onde estava o vocalista da banda – e relataram que o extintor de incêndio usado por um dos músicos não funcionou.

Além da reconstituição, também foram ouvidas 14 pessoas pela polícia. Os depoimentos mostraram que a fumaça preta tomou toda a boate no prazo de 40 segundos a um minuto, impedindo as pessoas de enxergarem.
“Isso explica de as pessoas terem ido para o banheiro. Uma pessoa disse que as únicas luzes que se enxergavam era a luz verde do banheiro e uma luz verde em outro local. Eles foram conduzidos para o banheiro pensando que fosse a saída”, disse o delegado regional da Polícia Civil, Marcelo Arigony.

Os funcionários que prestaram depoimento disseram ainda que nunca receberam nenhum tipo de treinamento contra incêndio, e que na noite da tragédia foram preparadas mil comandas para o público, acima da capacidade da casa, de 691 pessoas. No entanto, ainda não se sabe se todas foram usadas.

Um dos funcionários disse que ele próprio instalou a espuma isolante no local, utilizada como proteção acústica desde meados de 2012. Há indícios, segundo a polícia, de que o material usado não era adequado e durante a queima produziu gases tóxicos, que provocaram as mortes. Segundo as investigações, ainda não há comprovação de que as autoridades tenham sido avisadas da instalação do produto.

O advogado Jader Marques, que representa Elissandro Callegaro Spohr – um dos sócios da Boate Kiss -, disse ontem que o cliente contou com a assessoria de especialistas para comprar a espuma. Ele não informou, no entanto, os nomes dos profissionais e nem se a boate comunicou à prefeitura ou aos bombeiros a instalação do produto.
“Na verdade, tudo que estiver fora do plano técnico da boate, porque é um estabelecimento que vai receber o público, ele tem que obedecer ao plano aprovado pelo bombeiro, e pela prefeitura. Tudo que está fora disso eu diria que é amador, é irregular”, disse o delegado Arigony.

De acordo com o delegado, existem indícios de que a casa nortuna estava com público acima do permitido. Em entrevista, o secretário de saúde da cidade informou que foram feitos 500 atendimentos (nos hospitais) no dia da tragédia. “Quinhentos [atendimentos] mais duzentos e tantos [mortos}, a capacidade era 691, então já extrapolou”, ressaltou

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