Cultura

Só sei que nada sei

(*) Walber Gonçalves de Souza

 

Admitir que precisamos evoluir constantemente talvez seja um dos nossos maiores desafios, combater a ignorância e perseguir a sabedoria um dos nossos mais sublimes objetivos.

O contrário representa estagnação, regressão, significa mergulhar na autossuficiência que proporciona a intolerância, o fundamentalismo, a incapacidade de autocrítica e o pior, a impossibilidade de desenvolvimento em todos os seus níveis e sentidos.

Quando o filósofo proclamou “só sei que nada sei”, na verdade com esta atitude ele admitiasua própria ignorância colocando-se num estado de perpétua aprendizagem. E ainda segundo seus argumentos, quanto mais ele estudava, quanto mais ele conhecia, mais ele admitia que não sabia nada. Justamente porque o conhecimento proporciona cada vez mais o espaço para novas descobertas formando um ciclo vicioso que embasa a arte do saber.

Admitir a pequenez, a ignorância, não deveria ser um ato vergonhoso, mas pelo contrário, torna-se um gesto grandioso. Precisamos querer crescer, desenvolver, evoluir e isto só acontece quando admitimos para nós mesmos que sempre temos algo a buscar a aprender.

Um passo importante é repensar nossas crenças e convicções a todo instante, pois como o mundo está numa constante metamorfose, pode ser que nossos pensamentos também precisem passar por reformulações. Quebrar paradigmas torna-se quase uma necessidade na guerra contra a ignorância.

Pouco adianta também ter livros e não ler; estar na escola e não estudar; conversar, mas não dialogar; enfim, são inúmeras as situações do cotidiano que nos desafiam a todo o instante. Todavia, cabe sempre a cada um de nós admitir ou não o nosso estado de ignorância. E posteriormente querer sair dele, pois só admitir também muito pouco ou quase nada resolve ou modifica a realidade.

Geralmente gostamos de nos esconder por detrás da nossa cultura, sempre a usamos para justificar nossos atos, independente do que seja, se faz sentido ou não. Indiscutivelmente sabemos da importância da cultura para qualquer povo ou pessoa, mas esquecemos que ela também deve passar pelo crivo do desenvolvimento humano, da autocrítica, da capacidade de resignar-se e tornar-se literalmente mais humana. Devemos ter a coragem de admitir que nem tudo que faz parte da cultura de um povo é benéfico para o próprio povo.São tantos absurdos culturais que existem pelo mundo que precisam ser repensados.

A história nos mostra que as nações que se desenvolveram primeiramente admitiram que precisam sair do estágio cultural e intelectual no qual se encontravam. Precisam quebrar paradigmas, admitir as fragilidades, buscar constantemente e incansavelmente o conhecimento. Enfim, trilhar esta rota que nunca tem fim.

Somos um povo que tem tudo para prosperar, mas é preciso admitir: “só sei que nada sei”.

 

(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

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