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Na semana passada contei aqui alguns motivos que teriam levado ao fim uma das maiores bandas do planeta Terra. Hoje, você acompanha detalhes da batalha judicial que iria perdurar por anos. Boa leitura!

A formação da Plastic Ono Band, grupo formado por Yoko e Lennon, foi uma saída que John encontrou para largar de vez os Beatles. E, verdadeiramente, a ideia de sair da banda cristalizou-se quando, em setembro de 1969, Yoko e Lennon foram recepcionados entusiasticamente como artistas no Concerto de Rock and Roll de Toronto. Lennon informou a sua decisão para Allan Klein, que estava cuidando dos negócios empresariais da banda após a morte de Brian, e para McCartney em 20 de setembro de 1969. Ironicamente, no outono do mesmo ano, a banda assinou um contrato negociando com a maior taxa de royalities. Esta foi à última demonstração de unidade do grupo, embora de natureza transitória. Outra divulgação revelou que o contrato de dissolução dos membros da banda foi até 1976 coletivamente e separadamente. Assim, este contrato renegociado precipitou o final das ações legais que revogou a parceria em 1972.

Apesar de seus esforços em estimular a banda, McCartney admitiu numa entrevista na revista americana Life que a banda estava desestruturada, desde novembro de 1969. Paul viu um conflito entre seu álbum solo, “McCartney”, e o projeto do álbum e do filme dos Beatles, “Let It Be”. “McCartney” foi lançado e a amargura de Paul por conta de alguns incidentes, como, por exemplo, o fato dele ter ficado insatisfeito com determinadas atitudes dos gerentes da banda, foi um fator contribuinte para sua declaração pública de que havia saído dos Beatles.

No começo de 1971, McCartney abriu uma ação judicial para a dissolução da relação contratual dos Beatles e, posteriormente, foi decretado. Pouco antes do fim dos Beatles, um tanto tímidos, e, posteriormente, de forma definitiva, todos os quatro membros lançaram álbuns solo. Alguns destes álbuns destacaram contribuições por outros ex-Beatles; o álbum Ringo (1973), de Starr, foi o único a incluir composições e apresentações do quarteto, embora em canções separadas.

Harrison mostrou sua consciência socio-política e ganhou respeito por sua contribuição como arranjador do “Concerto para Bangladesh” em Agosto de 1971, em Nova Iorque, com o maestro de sitar Ravi Shankar. Com exceção de uma sessão não-editada em 1974 (produzida mais tarde como A Toot and a Snore in ‘74), Lennon e McCartney nunca mais gravaram juntos.

Em 1975 expiram-se, legalmente, os direitos que a EMI-Capitol mantinha em cima do trabalho dos Beatles. Por causa dessa expiração do contrato que JPG&R tinham com a gravadora, a Capitol americana apressou determinadas produções com o intuito de receber dinheiro em cima da carreira do grupo, lançando cinco LPs: Rock ‘n’ Roll Music, com trilhas consideradas por muitos como puro rock´n´roll; The Beatles at the Hollywood Bowl, com canções gravadas ao vivo no Hollywood Bowl em Los Angeles durante a turnê de 1964 e 1965; Love Songs, com músicas gravadas entre 1962 e 1970; Rarities, álbum com faixas que nunca haviam sido realizadas nos EUA e Reel Music, uma compilação de faixas apresentadas em seus filmes. Houve também um lançamento “não autorizado” intitulado Live! at the Star-Club in Hamburg, Germany; 1962, uma gravação de uma antiga apresentação do grupo no Star Club, em Hamburgo, Alemanha, capturada em uma fita de má qualidade. De todas essas realizações póstumas, somente The Beatles at the Hollywood Bowl teve a aprovação de JPG&R.


No começo de 1971, McCartney abriu uma ação judicial para a dissolução
da relação contratual dos Beatles e, posteriormente, foi decretado

 

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco
E-mail: ronildobacardy@yahoo.com.br

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Na semana passada contei aqui os detalhes do fim derradeiro de uma das maiores bandas do planeta Terra. A partir de hoje, daremos início a uma nova fase em nossa coluna semanal. Vamos analisar de fato o que levou o fim da banda começando hoje com alguns motivos. Boa leitura!

O motivo do fim da banda ainda é muito discutido e pode ser descrito como uma série de eventos que, resumidamente, os itens abaixo pretendem desenvolver.

Morte de Epstein: Brian Epstein foi indiscutivelmente o homem mais influente no lançamento e na promoção da popularidade do grupo no mundo inteiro. Por ser o empresário da banda, ele pôde manter o grupo reunido e mediar determinados conflitos que o quarteto viesse a desenvolver entre si, mantendo-se na postura de ser a última palavra, a última decisão. Quando morreu em 1967, deixou um vazio na banda. McCartney provavelmente sentiu a situação precária e procurou iniciar projetos que estimulassem a banda. Em última instância, a discórdia sobre liderança gerencial seria um dos fatores precipitantes para a banda se dissolver.

George Harrison como compositor: Nos primeiros anos, John e Paul eram os únicos compositores da banda, enquanto que George e Ringo desempenhavam suas funções como baterista e guitarrista, respectivamente. No entanto, de 1965 adiante, as composições de Harrison ganharam maturidade e tornaram-se mais atraentes em suas qualidades. Gradualmente os outros membros reconheciam seu talento como compositor, mas cada vez mais George começou a se frustrar pelo fato da maioria de suas ideias e canções terem como fim a rejeição. Isso gerou confusão e, consecutivamente, desavenças, principalmente entre Lennon e McCartney.

Dificuldade em colaboração: De uma forma ou de outra, após o grupo parar de excursionar, cada um dos integrantes começaram a seguir comportamentos autônomos: enquanto McCartney via interesse no estilo pop e nas tendências da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, Lennon tendia à música introspectiva e experimental, enquanto que Harrison, por sua vez, estava cada vez mais entusiasmado com a música indiana. Por conseguinte, Paul começou a assumir o papel de líder dos projetos artísticos dos Beatles. Além de cada membro ter começado a desenvolver uma agenda cujos eventos exigiam cada vez mais individualidade.

Yoko Ono: Lennon estava em um frágil estado de espírito após o regresso da banda a partir de suas estadias na Índia, no início de 1968. Ficou ressentido e desiludido com o fato do Maharishi não ter preenchido suas expectativas. Lennon começou a desenvolver um imenso interesse na artista nipo-americana, Yoko Ono, que reuniu o músico britânico em uma de suas exposições em 1966. Tiveram uma relação platônica até a primavera de 1968. Enquanto a esposa de Lennon, Cynthia, estava de férias, ele e Yoko lançaram uma fita que mais tarde seria lançada como a famosa e polêmica “Unfinished Music No.1: Two Virgins”. Até esse momento, os dois não estavam completamente entretidos entre si, pois o acordo da banda era que suas namoradas ou esposas não interferissem nos estúdios. Contudo, como a produção artística de Lennon cresceu sob influência de Yoko Ono, cada vez mais ele quis que ela entrasse nos processos de produção dos Beatles e, consecutivamente, ela passou a frequentar os estúdios de gravação. Ono foi acusada por muitos fãs de ter “dividido os Beatles”, enquanto que outros argumentam que a sua presença não era nenhum problema, e que os Beatles realmente se separaram por outras razões. Em 2012, McCartney garantiu que Yoko Ono, não foi a responsável pelo fim dos Beatles, em 1970. “Ela certamente não separou o grupo, o grupo já estava se separando”, afirmou Paul em entrevista concedida ao repórter britânico David Frost. Dessa forma, o músico põe fim a décadas de acusações contra Yoko.


Nesta montagem bem humorada, a pergunta que não quer calar!

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui alguns detalhes do início da agonia que reinava entre os nossos meninos. O caminho para a dissolução de uma das maiores bandas do planeta Terra estava aberto. Hoje, você acompanha mais um capítulo desta agonia pelo fim derradeiro. Boa leitura!

Embora Yoko seja geralmente descrita como uma mulher ambiciosa que perseguia John obstinadamente, ela também teve sua parcela de dor e decepção durante os tempos difíceis que viriam, perdendo contato com sua filha, Kyoko, e deixando de lado sua promissora carreira artística por causa de Lennon.
Anos mais tarde, Yoko iria desabafar: “Sacrifiquei tudo por este homem”. A imprensa e os fãs a ridicularizavam: era chamada de “japa”, “china” e “amarela”, e Lennon às vezes precisava protegê-la de agressões físicas. Esse julgamento alimentou a raiva de Lennon, mas pareceu pequeno quando comparado ao que aconteceu quando ele levou Yoko ao “mundo” dos Beatles.

O grupo raramente permitia que convidados aparecessem no estúdio, e nunca tolerou que ninguém – além do produtor George Martin ou talvez um engenheiro de som, como Geoff Emerick – desse opiniões sobre um trabalho ainda em produção. Mas Lennon não levou Yoko como convidada: levou-a como colaboradora. Ela ficava sentada com John no chão do estúdio; conversava com ele ao pé do ouvido e o acompanhava toda vez que ele saía da sala. Na primeira vez em que ela falou no estúdio, dando conselhos sobre o vocal de John, o silêncio imperou. Paul disse: “Alguém falou alguma coisa? Você falou, George? Seus lábios nem se mexeram!”

Lennon não era o tipo de pessoa que recuava. E, embora alguns achassem as colaborações de Lennon e Yoko indulgentes ou ridículas, McCartney percebeu que ela deixava Lennon mais confiante. Entretanto, a nova parceria de Lennon com Ono significava que ele e McCartney raramente voltariam a compor juntos.
Em busca daquele mesmo espírito, Lennon teria dito a George Martin: “Não quero nada dessas suas merdas de produção. Queremos um álbum honesto nada de edição, overdubbing. Vamos gravar, e o que sair, saiu”. Anos mais tarde, ao se referir sobre o álbum Let It Be, Lennon simplesmente classificou o disco como “shit” (merda), pelo fato do produtor Phil Spector ter introduzido uma série de metais nas músicas.

McCartney trouxe um segundo produtor, Glyn Johns, o que foi um consolo a Martin: para alcançar o tipo de performance natural que os Beatles queriam, eram necessários ensaios infinitos para que as músicas pudessem ser gravadas em uma única tentativa. Martin achava os ensaios tão entediantes que raramente comparecia. De cara, problemas atormentaram o projeto.

Como a banda queria filmar os ensaios – que ficariam conhecidos posteriormente como “as sessões de ‘Get Back’”, nome original da ideia que seria lançada como Let It Be – a banda teve de se estabelecer no Twickenham Film Studios, o que significava que tinham de obedecer aos horários de trabalho determinados pelo sindicato (das 9h às 17h), que de maneira alguma coincidiam com o horário de trabalho dos Beatles.

Nada disso teria sido tão ruim se eles tivessem conseguido manter o entusiasmo, mas na manhã de 2 de janeiro de 1969, quando os ensaios começaram, ninguém além de Paul parecia se lembrar do motivo de eles estarem lá. Embora as sessões tenham sido surpreendentemente produtivas – os Beatles tocaram 52 músicas novas naquele mês, muitas das quais acabariam entrando em Abbey Road ou ficando entre o melhor material dos álbuns solo dos membros da banda -, toda a mágoa acumulada viria à tona. (continua…).


Yoko ficava sentada com John no chão do estúdio; conversava com ele ao pé do ouvido e o acompanhava
toda vez que ele saía da sala

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui alguns detalhes da gravação dos álbuns Magical Mystery Tour e Yellow Submarine, além ainda do show no telhado da Apple em 1969. Hoje, você acompanha o início da agonia pelo fim derradeiro. Boa leitura!


Da Glória à Agonia

Era um dia frio, em janeiro de 1969, e os Beatles estavam sentados em um grande estúdio no Twickenham Film Studios, em Londres, acompanhados das piores pessoas com quem poderiam estar: os próprios Beatles.

A banda havia passado dias tentando escrever e ensaiar novo material para um show ao vivo já pré-agendado – o primeiro desde agosto de 1966 – mas as coisas não iam bem. O único entre eles a demonstrar algum tipo de senso de urgência era Paul McCartney.

“Não sei por que qualquer um de vocês se envolveu nisso se não há interesse”, disse aos outros Beatles. “Para quê? Não pode ser que seja pelo dinheiro. Por que vocês estão aqui? Eu estou porque quero fazer um show, mas não vejo nenhum tipo de apoio”. Paul olhou para seus companheiros de banda, seus amigos de longa data – John, George e Ringo – e os olhares que recebeu de volta não tinham expressão alguma. “Há duas opções: fazemos ou não fazemos; e eu quero uma decisão”, disse ele instantes depois. “Porque não estou nem um pouco interessado em perder meu tempo aqui, de bobeira, enquanto todo mundo tenta resolver o que quer fazer”. Paul esperou, mas não teve resposta.

De novo, os mesmos olhares vazios. E esse estava longe de ser o pior momento pelo qual o grupo viria a passar naquele período. Em seus últimos momentos de vida, os Beatles protagonizaram uma das mais misteriosas e complicadas histórias de fim de romance do século 20. E também a mais triste delas. Aquelas sessões de gravação – para o que viria a ser o filme e o disco Let It Be – começaram inspiradas, mas havia muita coisa errada acontecendo quando McCartney finalmente fez seu apelo.

Desde o ano anterior, o sentido de parceria da banda vinha se desgastando. A longa amizade de John e Paul, em particular, passava por mudanças radicais. Lennon, fundador da banda, tinha, de certa forma, aberto mão da liderança do grupo; mais que isso, começava a sentir que não queria mais ficar confinado nos limites dos Beatles.

McCartney, por sua vez, amava o grupo profundamente. Era deles a melhor parceria da história da música pop. Mas, no fundo, a aventura dos Beatles era forjada pelo temperamento e pelas necessidades de Lennon: ele tinha formado a banda para diminuir a ansiedade e a dor depois que sua mãe, Julia, cedeu sua custódia para a irmã dela, ao mesmo tempo que o pai também se afastava de sua vida. De certa forma, era assim que Lennon funcionava, mas naquele momento estava passando por uma fase de mudanças importantes.
John acreditava estar acorrentado a uma vida doméstica entediante e sem amor e se sentia muito distante de Paul, um homem famoso e livre, vivendo em Londres, participando dos eventos culturais e tendo contato com uma vasta gama de arte de vanguarda. O fim estava próximo. (continua…).


Era um dia frio, em janeiro de 1969, e os Beatles estavam sentados em um grande estúdio em Londres,
acompanhados das piores pessoas com quem poderiam estar: os próprios Beatles!

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Na semana passada contei aqui alguns detalhes da gravação do Álbum Branco e o surgimento de uma pessoa que vai marcar a vida de nossos meninos: Yoko Ono. Hoje, você acompanha tudo sobre dois álbuns que marcaram toda esta lenda beatlemaníaca e o show derradeiro no telhado da Apple. Boa leitura!

Antes do “Álbum Branco”, JPG & R colocaram no mercado dois novos álbuns: Magical Mystery Tour, em 24 de novembro de 1967 e Yellow Submarine, em 13 de Janeiro de 1969. Em 1967 as turbulências começam a surgir, especialmente depois da morte do empresário Brian Epstein, vítima de uma overdose de comprimidos, que sempre tinha sido uma espécie de apaziguador na banda.

Ainda em estado de choque, McCartney assumiu as rédeas e pôs o povo para trabalhar em cima de um filme pra ser exibido na televisão na época do natal. Dessa vez eles não fariam uma fita cheia de risos e brincadeiras, mas sim uma obra mais experimental e improvisada. O conceito era simples: um grupo de pessoas viajando em um ônibus sem saber o destino. O resultado final não foi dos mais felizes e a banda pela primeira vez se viu coberta de críticas.

A trilha-sonora foi editada em um formato não muito convencional: um compacto duplo com seis faixas. Dessas o maior destaque vai para I Am The Walrus, uma grande viagem de Lennon que com as imagens do filme fica ainda melhor. Nos Estados Unidos, Magical saiu como um LP convencional. Para completar o disco foram usadas as faixas dos compactos recentes. Como entre essas músicas estavam Penny Lane e Strawberry Fields Forever, talvez o mais célebre single de todo o pop e mais All You Need Is Love, os americanos acabaram por transformar o que seria um disco menor em uma grande obra.

Em 13 de Janeiro de 1969, sai Yellow Submarine. Apesar de só ter saído em 69 a trilha do desenho animado tem mais a ver com o clima psicodélico e alegre de dois anos antes. Metade do disco é composto pela trilha incidental do filme composta pelo produtor da banda George Martin e não conta com nenhum Beatle a não ser na composição de Yellow Submarine, que aparece em uma versão orquestrada.
Na outra parte além da faixa título e de All You Need Is Love, ambas já lançadas, apenas outras quatro músicas. Hey Bulldog um rock de Lennon, é de longe a melhor delas. All Together Now é mais uma música de McCartney com jeito de cantiga de roda e duas faixas de George – Only A Northern Song e It´s All Too Much.

A Saideira
Em janeiro de 1969, os Beatles iniciaram um projeto cinematográfico que documentaria a realização de sua próxima gravação, originalmente intitulado Get Back. Durante as sessões de gravação, a banda realizou sua última apresentação ao vivo no último andar do edifício da Apple, em Londres, na tarde fria de 30 de janeiro de 1969.

A maior parte da apresentação foi filmada e, posteriormente, incluída no filme Let It Be. A ideia de tocar no telhado do prédio foi de Lennon. O concerto parou a rua inteira do prédio e, rapidamente, o lugar ficou lotado de pessoas; inclusive, os vizinhos da região logo espreitavam das sacadas o concerto.

Os Beatles tocaram durante quarenta minutos até a polícia local interferir pedindo que abaixassem o volume dos instrumentos; Mal Evans explicou que não era qualquer pessoa que estava tocando, e sim os Beatles. A apresentação terminou antes do previsto, e tornou-se famosa. (continua…).


Durante as sessões de gravação de Get Back, a banda realizou sua última apresentação ao vivo no último
andar do edifício da Apple, em Londres, na tarde fria de 30 de janeiro de 1969

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco
E-mail: ronildobacardy@yahoo.com.br

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Na semana passada contei aqui os detalhes do encontro que JPG & R tiveram o guru Maharishi e a viagem para a Índia. Hoje, você fica sabendo detalhes da morte do empresário Brian Epstein e a tentativa do grupo de seguir em frente. Boa leitura!

No dia 27 de agosto de 1967, Brian Epstein é encontrado morto em seu quarto, aos 32 anos. No laudo, constava “morte acidental” por overdose de Carbitol, um medicamento para insônia. Brian Epstein era homossexual, o que se tornou público somente tempos depois de sua morte. A homossexualidade de Brian era conhecida entre os mais próximos, inclusive os Beatles.

Devido a uma maior proximidade que ele tinha com John Lennon surgiram rumores que os dois tiveram um breve caso, quando em viagem para Espanha, em abril de 1963. Em entrevista a Playboy em 1980, Lennon negou o caso dizendo que isto nunca foi consumado, mas tiveram um relacionamento muito próximo.

Pouco após começar a empresariar os Beatles, Brian começou a tomar anfetaminas o que era legal naquela época. Para ele, era o único meio de manter-se acordado até altas horas durante as exaustivas tournês. Brian se envolveu mais tarde no uso de outras drogas como maconha e LSD. Pouco antes de sua morte, Brian passou um tempo na clínica Priory tentando se livrar do uso de anfetaminas e de sua insônia.

Sua última visita aos estúdios de gravação foi em 23 de agosto. No dia seguinte ele partiu para sua casa no campo em Uckfield, Sussex, para férias bancárias, o “Bank Holiday”, na Inglaterra. Chegando em Uckfield, Brian resolveu voltar a Londres. Embora estivessem em Bangor, na Índia, os Beatles ficaram sabendo que Brian havia morrido.
Regressando da Índia, John Lennon e Paul foram para Nova Iorque anunciar a formação da Apple Records, uma corporação multimédia fundada em janeiro de 1968 pela banda com o intuito de substituir a sua empresa anterior (Beatles Ltd.), e de modo a formar um conglomerado.


No dia 27 de agosto de 1967 Brian Epstein é encontrado morto em seu quarto, aos 32 anos. No laudo,
constava “morte acidental” por overdose de Carbitol, um medicamento para insônia

Com a morte de Epstein, o grupo necessitava de um novo empresário: em relação ao lado empresarial, Lennon, Harrison e Starr queriam o gerente nova-iorquino Allen Klein para gerir os Beatles, mas McCartney queria o empresário Lee Eastman, pelo fato de ele ser o pai da então namorada e futura esposa de Paul, Linda. Os outros três membros viam em Eastman um empresário que colocaria os interesses de Paul antes das do grupo.

No finalzinho de 1967, os Beatles recebem sua grande primeira crítica da imprensa britânica, crítica essa que era um conjunto de opiniões depreciativas sobre o filme de televisão surrealista Magical Mistery Tour. A trilha sonora de Magical Mistery Tour foi lançada no Reino Unido em um LP duplo, e nos Estados Unidos em um LP completo.

Em meados de 1968 a banda manteve-se ocupada no processo de gravação do álbum duplo The Beatles, conhecido popularmente como “Álbum Branco” por conta da capa ter cobertura branca. Essas sessões foram o cenário de desentendimentos entre os integrantes, com Starr deixando temporariamente a banda. Com isso, Paul assumiu a bateria e instrumentos de percussão nas faixas “Martha My Dear”, “Wild Honey Pie”, “Dear Prudence” e “Back in the USSR”. (continua…).


(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui os detalhes das canções “Sgt. Peppers…” e “Penny Lane”, que mesmo com sucesso enorme ficaram de fora do álbum do Sargento Pimenta. Hoje, você fica sabendo detalhes do encontro que JPG & R tiveram com o guru Maharishi e a viagem para a Índia. Boa leitura!

Tempo de Espiritualidade
Em 1967, a Meditação Transcendental atraiu a atenção de George Harrison, que entusiasmado pela leitura de Autobiografia de um Iogue do Paramahansa Yogananda contagiou os outros Beatles com os seus anseios místicos. Assim, em 24 de agosto de 1967, os Beatles encontraram-se com o Maharishi Mahesh Yogi no Hotel Hilton de Londres. Poucos dias depois, foram para Bangor, norte do País de Gales, para assistirem uma conferência “inicial” de fim de semana. Lá, o Maharishi deu a cada um deles um mantra.

Maharishi, algo agastado com a cisão ocorrida no movimento inglês, não desperdiçou esta oportunidade única de se associar às pessoas mais famosas e populares do seu tempo e de divulgar a Meditação Transcendental junto das massas juvenis. Foi o que aconteceu: em breve, milhares de jovens hippies e de estudantes acorriam às palestras que o sorridente e pequeno guru – ele tinha 1,65m – dava nas universidades e nos centros de Meditação Transcendental nos EUA e da Grã-Bretanha, para aprenderem a meditar à semelhança dos seus ídolos, os Beatles.

Em 1968, os Beatles viajaram com Maharishi até à sua Academia de Meditação em Rishikesh, nos Himalaias, na companhia de outras celebridades como Mia Farrow, Donovan e Mike Love dos Beach Boys. Os Beatles relaxaram, meditaram, mas também, ao que parece, consumiram drogas leves, sem o conhecimento de Maharishi. Segundo a lenda beatlemaníaca, foi um dos períodos mais produtivos de John Lennon, que escrevia várias canções por dia, que mais tarde fariam parte do White Album, mais conhecido como “Álbum Branco”.

Contudo, teria havido um desentendimento entre os Beatles e Maharishi, por conta de chegar ao conhecimento de Maharishi de que os Beatles estariam tomando drogas dentro de sua Academia de Meditação em Rishikesh o que deixou Maharishi muito incomodado por esta atitude no que resultou na saída dos Beatles da Academia de Meditação.
Os Beatles não gostaram de ser repreendidos por Maharishi por estarem tomando drogas onde era suposto seguirem uma rotina dedicada inteiramente para a espiritualidade, mas também por rumores de que Maharishi havia dado uma cantada em Mia Farrow e que ele mantinha relações sexuais com suas discípulas, já que a meditação pregava que eles eram “homens acima do sexo” e isso pode ser visto na música dos Beatles, “Sexy Sadie”, por exemplo. (continua…).

 

 

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui os detalhes dos novos álbuns de nossos meninos: “Revólver” e “Sgt. Peppers…”, além ainda do último show “ao vivo” de JPG & R.. Hoje, você fica sabendo detalhes de duas canções que marcaram o mundo imaginário dos Beatles. Boa leitura!

Campos de Morango Para Sempre
Em Novembro e Dezembro de 1966, e até janeiro de 1967, os Beatles gravaram dois compactos durante as sessões do Sgt. Pepper: “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lane”, mas elas acabaram não entrando no álbum. “Strawberry…”, escrita por Lennon. Diz respeito a um orfanato patrocinado pelo Exército de Salvação Inglês, chamado “Strawberry Field Children’s home”, que se localizava perto da casa de John em Woolton, Liverpool, número 25 da Avenida Beaconsfield, e onde ele pulava o muro e brincava durante a infância no espaço arborizado, com alguns amigos, entre eles, Ivan Vaughan.

John começou a escrevê-la em finais de 1966, em Almeria, Espanha, durante as filmagens de How I Won the War – aqui no Brasil “Como Eu Ganhei a Guerra” – de Richard Lester, o mesmo diretor de A Hard Day’s Night. Tia Mimi sempre levava John a festivais de verão que aconteciam no orfanato de Strawberry Field.
Tecnicamente, a estrutura desta canção é escrita com uma chave de Si bemol maior. Ela começa com uma introdução de mellotron – escrita e desempenhada por McCartney – e depois continua no refrão. Depois de um curto silêncio dos instrumentos, a canção volta para “tenebrosos” sons distintos com notas dissonantes, espalhadas com a bateria, e depois Lennon diz: “cranberry sauce”, ou seja, doce de oxicoco.

Nessa mesma canção, John diz: “Eu enterrei Paul” e a canção foi incluída na lista de itens que reúnem fatos onde os Beatles queriam mostrar que Paul estava morto e que outro cantor o substituía.
A recepção da canção foi satisfatória: atingiu o oitavo lugar na parada dos Estados Unidos, onde numerosos críticos a consideraram a melhor canção do grupo.

Em contraste com “Strawberry…”, onde Lennon inspirou-se em recordações do passado, “Penny Lane”, escrita por Paul, que traz melodia e ritmo menos “tenebrosos” que a anterior, também faz menção à recordações de McCartney: o cruzamento de cinco ruas formando uma rótula de trânsito em Liverpool, chamado “Penny Lane Roundabout”, é uma área, hoje muito famosa por causa da canção, perto de onde John e George nasceram e, consecutivamente, onde os Beatles frequentavam muito.

Na letra da canção, é como se Paul fosse o guia-turístico de uma excursão para o local: ele refere-se, por exemplo, a um “barbeiro mostrando fotografias de cada cabeça que teve o prazer de conhecer”, chamado Tony Slavin, que era o local onde Mr. Bioletti, o barbeiro, trabalhava e onde a barbearia funcionava – e a outros pontos da cidade; Paul diz na canção: “Penny Lane está em meus ouvidos e em meus olhos”.

Ao contrário do vídeo promocional de “Strawberry…”, o qual o grupo gravou em outro local que não o orfanato, o vídeo musical de “Penny Lane” foi filmado na própria Penny Lane. Entre os instrumentos usados no som, destacam-se a conga, o flautim e os pianos, ao todo quatro.
A canção também obteve uma recepção satisfatória: alcançou o primeiro lugar na Billboard Hot 100 por uma semana. (continua…).


Em novembro e dezembro de 1966, e até janeiro de 1967, os Beatles gravaram dois compactos durante as
sessões do Sgt. Pepper: “Strawberry Fields Forever” e “Penny Lane”, mas elas acabaram não entrando no álbum


(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui os detalhes da humilhação que nossos meninos sofreram nas Filipinas, os prêmios na Inglaterra e a grande preocupação que o Rei do Rock estava tendo com eles. Hoje, você fica sabendo detalhes dos novo álbuns “Revolver” e “Sgt. Peppers…” e ainda o último show ao vivo. Boa leitura!

Mais maduros, musical e pessoalmente, os Beatles dedicaram-se na gravação do “Revolver”, em que, em cada gravador um técnico operava e o outro segurava com um lápis a extremidade de laço feito pelas pontas das fitas emendadas; o resultado foi uma mistura de rock psicodélico, balada, R&B, soul e world music. Neste álbum, JPG & R já começam a utilizar os instrumentos de metais e até já contam com músicos de estúdio. Um exemplo claro é a música: “Got to get you into my life”, com McCartney ocupando os solos principais, cabendo a John e Harrison usarem as guitarras rítmicas e solo e Ringo na Bateria. Outras duas canções chamam a atenção: “Taxman”, de George Harrison e “Dr Robert”, que segundo a lenda beatlemaníaca era o médico que receitava as famosas pílulas para nossos meninos ficarem “acordados”.


Em 29 de agosto de 1966, os Beatles realizam seu último concerto ao vivo: show aconteceu no Monster
Park, São Francisco e a partir de então, a banda concentrou-se apenas em gravações

ÚLTIMO CONCERTO
Em 29 de agosto de 1966, os Beatles realizam seu último concerto ao vivo. O show aconteceu no Monster Park, São Francisco. A partir de então, a banda concentrou-se apenas em gravações. Estes foram os momentos mais criativos do grupo. Depois de Revolver, JPG & R voltam a Abbey Road. Cerca de sete meses depois – 24 de novembro – e começam a produzir aquele que seria considerado o álbum do século XX: “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”.

Este seria o oitavo álbum da banda e foi o que mais deu trabalho para Brian Epstein. Foram ao todo, 129 sessões e foi lançado em 1 de junho de 1967. O álbum os popularizou ainda mais.
Outra coisa que a gente pode falar que tornou os Beatles mais populares ainda foi a apresentação no programa Our World, o primeiro programa do mundo ao vivo a transmitir, via satélite, imagens para o mundo inteiro. Os Beatles foram transmitidos diretamente do Abbey Road Studios e a nova canção, “All You Need Is Love”, escrita por Lennon, foi gravada ao vivo durante a apresentação.

A canção trazia uma mensagem de paz nos tempos da Guerra do Vietnã. Os Beatles convidaram vários amigos para participar do evento, cantando o coro da canção, entre eles: Mick Jagger, Eric Clapton, Marianne Faithfull, Keith Moon e Graham Nash. O programa foi visto por cerca de 350 milhões de pessoas em 26 países. (continua…).

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui os detalhes do “pedido de desculpas” que Lennon deu meses depois, após a polêmica declaração de que “os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo”. Hoje você acompanha mais uma polêmica na vida de nossos meninos, mas com saldo positivo. Boa leitura!

Humilhação nas Filipinas, prêmios na Inglaterra e preocupação na América
Embora as Filipinas estivessem sob a ditadura de Ferdinando Marcos, na capital Manilha os Beatles foram recepcionados por cinquenta mil fãs que se aglomeraram no aeroporto. A polícia filipina os separaram de Epstein e apreendeu sua bagagem, que continha maconha: isto provocou problemas com as autoridades locais. Epstein obteve controle e, no dia seguinte, deram dois concertos no estádio superlotado Rizal Memorial Football Stadium. Após as apresentações, a primeira-dama Imelda Marcos organizou uma recepção no palácio presidencial para trezentos filhos de oficiais da alta patente do exército daquele país e gostaria de apresentá-los ao grupo. O não comparecimento à recepção promoveu consequências inesquecíveis.

No dia seguinte, jornais filipinos traziam manchetes com expressões do tipo “Imelda plantada” (The Manila Times), destacando que os Beatles haviam esnobado a primeira-dama. Por causa desses acontecimentos, Epstein tentou esclarecer o mal-entendido numa coletiva, mas a transmissão sofreu interrupções técnicas. O tratamento dos empregados no hotel tornaram-se frios depois do ocorrido e houve até ameaças de bombardeios onde os Beatles estavam hospedados.

O grupo foi abordado pelo responsável do Escritório de Rendas Internas que disse que os Beatles não deixariam o país até pagarem os impostos que não haviam dado desde a chegada; Epstein pagou dezoito mil dólares. JPG & R tiveram que fazer a pé a caminhada até o avião e aproximadamente trezentos pessoas aguardavam a banda no aeroporto; na despedida, foram cuspidos, empurrados e agredidos; a renda que conseguiram nos dois concertos foi confiscada; depois de quarenta minutos de confusão, decolaram.

De volta a Inglaterra, eufórica pela conquista da Copa do Mundo de Futebol de 1966, o grupo presenciou boas notícias, como os três troféus Ivor Novello – premiação máxima da música britânica – que receberam por “We Can Work It Out” e “Help!” como primeiro e segundo compacto mais vendido na Inglaterra em 1965, e por “Yesterday” como a canção mais executada do ano. Artistas como Connie Francis, Johnny Mathis, Bob Goldsboro, Cliff Richard, David McCallum, as duplas Jan and Dean e Peter and Gordon interpretavam diversas canções da dupla Lennon/McCartney. Contudo, as notícias da América eram preocupantes.

Elvis Presley desaprovou o ativismo antiguerra e a legalização das drogas que os Beatles vinham afirmando e mais tarde pediu ao então presidente Richard Nixon que ele proibisse a entrada dos quatro membros nos Estados Unidos. Os Beatles, segundo Elvis, eram antiamericanos. Eles vinham para os Estados Unidos, faziam fortuna, e voltavam para a Inglaterra. E diziam coisas antiamericanas quando se encontravam por lá. Elvis acreditava que os Beatles lançaram bases para muitos dos problemas que estavam tendo com os jovens e suas aparências imundas, bases essas encontradas na música sugestiva deles que ao mesmo tempo divertia o país durante o início e meados dos anos de 1960 em diante. (continua…).


Dois batalhões do Exército, uniformizados para combate, receberam os Beatles e os levaram para a sede da
Marinha, antes de transferi-los para o iate particular de Don Manolo Elizalde, um milionário filipino, que os exibiu
como animais para um grupo de amigos

 

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada, contei aqui os detalhes das férias de nossos meninos e as influências que o ano de 1966 provocou na banda. Hoje você ficar sabendo da polêmica entrevista de John Lennon e que provocou uma reação mundial. Boa leitura!

“Nós somos mais populares que Jesus Cristo”

Em 4 de março de 1966, John dá uma entrevista ao repórter Maureen Cleave do jornal “The London Evening Standard” de Londres. A entrevista – “How does a Beatle live?” – era para falar do modo de vida e o dia a dia de um Beatle. Quando questionado sobre religião, John diz: “O Cristianismo irá acabar. Irá diminuir e sumir. Eu não preciso de argumentos para provar isso. Eu estou certo e será confirmado que estou certo. Nós somos mais populares que Jesus hoje em dia; não sei quem será esquecido primeiro, o rock and roll ou o Cristianismo. Jesus era bom, mas seus discípulos são cabeças-dura e ordinários. Eles distorcendo tudo é que fazem com que isso não signifique nada para mim”.

O artigo não provocou nenhum tipo de reação na Grã-Bretanha, porém, meses depois, em 29 de julho, uma revista mensal americana para adolescentes, Datebook, pinçou uma frase e desvirtuou por completo a tese defendida por John. O locutor Tommy Charles da rádio WAQY de Birmingham, Alabama, sentiu cheiro de audiência e deu início ao furor anti-Beatles. Mais de vinte rádios do meio-oeste americano seguiram o exemplo e também baniram as músicas do grupo de sua programação, além de promover as famosas fogueiras Beatle, onde se queimavam discos, livros e todo o badulaque que o merchandising americano tinha conseguido fabricar com o nome do grupo.

No Alabama, na Geórgia e no Texas, essas manifestações aconteceram com participação de ativistas da Ku Klux Klan. Idiotices do fanatismo religioso com transmissão ao vivo por rádio e TV. É de doer o coração de qualquer fã dos Beatles a visão daquelas cenas de jovens americanos idiotas pisoteando discos do grupo ou atirando em fogueiras, souvenirs que seriam verdadeiras raridades nos dias de hoje; tudo queimado. Será que eles pensavam que Cristo não é capaz de se defender sozinho?

A coisa foi tão séria que Nat Weiss, o advogado americano sócio de Brian Epstein, sugeriu-lhe por telefone que fosse à Nova Iorque para uma entrevista coletiva. Essa entrevista aconteceu em 6 de agosto, uma semana depois da publicação da tal revista juvenil e quando o número de rádios que se recusavam a tocar músicas do grupo já passava de 30. Brian argumentou que John foi mal interpretado por ter sido citado fora de contexto.

O sucesso parcial da entrevista fez com que ele desistisse de sua idéia inicial, que era o cancelamento de todos os shows da turnê americana, que se iniciaria em 12 de agosto de 1966 e seria a última: “Eu não queria arriscar qualquer possibilidade de os rapazes serem feridos. Não interessava o preço disso.” O custo do cancelamento dos shows alcançaria a cifra de um milhão de dólares e Brian estava disposto a pagar essa quantia de seu próprio bolso. (continua…).


“O Cristianismo irá acabar. Irá diminuir e sumir. Eu não preciso de argumentos para provar isso. (…) Nós somos mais populares que Jesus hoje em dia. (…)”

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui os detalhes da polêmica entrevista que John Lennon deu ao London Evening Standard de que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo e sua reação pela América. Hoje, você vai acompanhar a entrevista de “pedido de desculpas” que Lennon deu meses depois. Boa leitura!

Às 16h55 de 11 de agosto de 1966, os Beatles chegaram ao Aeroporto O’Hare, em Chicago, e se hospedaram no 27° andar do hotel Astor Towers. Naquela noite, deram uma entrevista coletiva na qual John foi praticamente obrigado pela imprensa a pedir desculpas pela declaração sobre Cristo.

Repórter: “Alguns jovens têm repetido a sua declaração – ‘Eu gosto mais dos Beatles que de Jesus Cristo. ’ O que você pensa disso?
“Bem, originalmente eu apontei aquele fato em relação à Inglaterra. Que nós significamos mais para os jovens que Jesus significou, ou religião naquele tempo. Eu não estava criticando ou rebaixando. Eu só estava dizendo um fato e isso é mais verdade na Inglaterra que aqui. Eu não estou dizendo que nós somos melhores ou maiores, ou comparando-nos com Jesus Cristo como se fosse uma pessoa ou com Deus como uma coisa ou o que quer que seja. Eu apenas disse o que disse e estava errado. Ou fui entendido errado. E deu nisto tudo”.

Repórter: “Explique mais…”
“Se eu tivesse dito televisão é mais popular que Jesus, isso não teria acontecido, mas aconteceu de eu estar conversando com uma amiga e eu usei a palavra ‘Beatles’ como uma coisa abstrata, não como eu os vejo – como Beatles, como estes outros Beatles como outras pessoas nos vêem. Eu apenas disse ‘eles’ estão tendo mais influência sobre os garotos que qualquer outra coisa, incluindo Jesus. Mas eu disse daquele modo, que é o modo errado”.

Repórter: “Mas você está preparado para se desculpar?”
“Eu não disse o que eles estão dizendo que eu disse. Eu lamento ter dito aquilo, de verdade. Eu nunca pretendi ser sórdido e anti-religião. Eu me desculpo se isso te fizer feliz. Eu ainda não entendi bem o que foi que eu fiz. Eu tentei explicar o que eu quis dizer, mas se você quer que eu me desculpe, se isso vai fazê-lo feliz, então OK, eu me desculpo”.
Ao final da entrevista, Brian Epstein, empresário dos Beatles fez a seguinte declaração: “A citação que John Lennon fez a uma repórter de Londres foi citada e deturpada completamente fora do contexto do artigo, que era na verdade altamente elogioso a Lennon como personalidade”.

Até a repórter Maureen Cleave veio a público depois tentar desfazer toda a balbúrdia com a sua entrevista: “John certamente não estava comparando os Beatles com Cristo. Ele estava apenas observando que tal era o estado do Cristianismo que os Beatles eram, para muitas pessoas, mais conhecidos. Ele estava deplorando isso, e não aprovando”.

O jornal do Vaticano L’Osservatore Romano, porta voz do Papa fez um breve comentário sobre o assunto: “Certos assuntos não devem ser tratados com irreverência, mesmo no universo dos beatniks. Há uma certa verdade na declaração dele de que a força de influência do Cristianismo sobre a humanidade está enfraquecida”. (continua…).


“Eu tentei explicar o que eu quis dizer, mas se você quer que eu me desculpe, se isso vai
fazê-lo feliz, então OK, eu me desculpo”.


(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui os detalhes da Condecoração dada pela Rainha Elizabeth. A maior honraria do Império Britânico dada as mais ilustres personalidades do Reino Unido e a reação de alguns setores. Hoje, você vai ler que nossos meninos chegam ao ano de 1966 já com as primeiras influências. Boa leitura!

1966 – UM ANO DE MUDANÇAS
O ano de 1966 é visto como a data em que a banda determinou o que seria até seu final, em 1970. Nessa época, o mundo já não era mais o mesmo e o grande responsável por essa mudança foram os Beatles.
Entre os acontecimentos mais destacados, estão a recepção dos anglicanos frente ao Papa em Roma, a liderança de Martin Luther King na marcha pelos direitos civis nos Estados Unidos, e o bombardeio da Força Aérea Americana em Hanói, capital do Vietnam do Norte.
Pelo outro lado do planeta, a ciência se desenvolvia na chegada da espaçonave soviética a Vênus (primeira nave terrestre a pousar noutro planeta) e, na China, a proclamação da “Revolução Cultural”, que promoveu expurgos e perseguiu intelectuais.


Nos três primeiros meses de 1966 a banda tirou férias, após desistir da ideia de lançar um novo filme

FÉRIAS, CASAMENTO E PRÊMIOS
Nos três primeiros meses de 1966 a banda tirou férias, após desistirem da ideia de lançar um novo filme em cima de A Talent For Loving, cujo roteiro seria de Richard Condon. Nesses meses, tiveram encontros em festas com os músicos Mick Jagger e Brian Jones dos Rolling Stones, e compareceram na estreia do filme Alfie, cuja estrela era Jane Asher, namorada, na época, de Paul.
John e Ringo não compareceram ao casamento de George em 21 de janeiro porque viajavam para fins de semana no Caribe e na Suíça; George e a modelo Patricia Boyd embarcaram para uma lua de mel em Barbados, nas Bahamas.
Enquanto isso, os Beatles obtiveram naquele ano dez indicações ao Grammy e, embora existissem restrições do regime político na Polônia, as canções da banda começavam a ingressar intensamente nas rádios daquele país. (continua…).

 

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Na semana passada contei aqui os detalhes dos novos álbuns, os primeiros filmes e o mega show no EUA. Hoje, saiba todos os detalhes da Condecoração dada pela Rainha Elizabeth. Boa leitura!

CAVALEIROS DA RAINHA

Em 12 de junho de 1965, um porta-voz do governo britânico anuncia que os Beatles foram nomeados para a MBE (Membro do Império Britânico). O jornal Daily Mirror estampou em sua capa: “Beatles, MBE!”. O grupo foi nomeado pelo primeiro-ministro Harold Wilson, que também havia sido deputado em Huyton, Liverpool. A nomeação estimulou alguns conservadores do MBE, primeiramente militares veteranos e líderes cívicos, à devolverem suas próprias insignias como protesto.

Flores são enviadas aos familiares dos Beatles. Na hora do almoço, acontece uma Conferência de Imprensa no Twickenham Film Studios. Paul McCartney afirma que a MBE devia estar com Brian (o empresário da banda) e deveria se chamar “Mister Brian Epstein”. A condecoração acontece no dia 26 de outubro de 1965. Os Beatles vão ao Palácio de Buckinghan e cada um recebe da Rainha Elisabeth II a MBE (Members of the British Empire).

Os Beatles chegaram ao Palácio de Buckinghan no RolIs Royce de John a tempo para a cerimônia, que se iniciaria às 11h, na sala do trono. Eles vestiam terno e gravata escuros e perfilaram-se, enquanto a rainha colocava as comendas na estreita lapela de seus paletós.

“Há quanto tempo estão juntos?”, perguntou a rainha. “Ah, há muitos anos”, respondeu Paul. “Há 40 anos”, replicou Ringo e todos riram. “Foi você que começou o grupo?”, perguntou a rainha para Ringo, e ele lhe disse que os outros haviam começado, “Eu sou o caçula”.

A rainha usava um vestido de delicada nuança dourada e o salão estava decorado em tons de creme e ouro, seis grandes lustres pendiam do teto e havia um órgão em um dos cantos. A banda da Guarda Real discretamente tocou trechos de “Humoresque” e “Bitter Sweet”, o que Paul mais tarde descreveria como “agradável entretenimento”.

Lorde Cobbold, camareiro-mor do Palácio de Buckinghan, chamou os Beatles. Eles deram um passo à frente e fizeram uma reverência. A rainha cumprimentou-os, conversou com cada um deles e entregou-lhes a comenda. Eles, então, voltaram para seus lugares e fizeram outra reverência. Paul descreveu a rainha como “Adorável Maravilhosa! Ela foi muito atenciosa, parecia uma mãe”.


“Há quanto tempo estão juntos?”, perguntou a rainha. “Ah, há muitos anos, respondeu Paul. “Há 40 anos”,
replicou Ringo e todos riram…

Durante a cerimônia, 189 pessoas foram homenageadas, seis delas como “Cavaleiros do Império Britânico”. A comenda recebida pelos Beatles por serviços prestados ao país é a de menor importância entre as cinco classes da ordem de cavalaria – “A Excelente Ordem do Império Britânico”. Entre os 126 títulos nobiliárquicos britânicos, o recebido pelos Beatles está classificado em 120º lugar, e é o que tem o maior número de agraciados.

Fora do palácio, quatro mil fãs enlouquecidos se descabelavam e gritavam “Yeah, Yeah, Yeah”, e acabaram entrando em confronto com a polícia, que conseguiu afastá-los, mas não pôde impedi-los de subir nos postes e portões ao redor de Buckinghan. Após a cerimônia, houve uma coletiva de imprensa no bar do Saville Theatre, durante a qual os Beatles falaram sobre a comenda e os protestos que se seguiram à sua indicação. (continua…).

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco
E-mail: (ronildobacardy@yahoo.com.br) – Facebook: ronildobacardy

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Na semana passada contei aqui como as gravadoras estavam se aproveitando do fator Beatlemania e lançando discos “a torto e direito”, e como foi o início das primeiras turnês pela Ásia, Europa e América do Norte. Hoje, saiba os detalhes dos novos álbuns, os primeiros filmes e o mega show nos EUA. Boa leitura!

Em 6 de junho de 1964, é lançado o filme que se tornaria um clássico cult, sendo considerado por alguns como o grande precursor da ideia dos vídeos musicais – A Hard Day’s Night (no Brasil, Os Reis do Iê, Iê, Iê) – foi lançado no Reino Unido, sendo o primeiro a estrelar a banda. Dirigido por Richard Lester, o filme é sobre os quatro membros que tentam, em território londrino, tocar em um programa de televisão.

Lançado no auge da beatlemania, inclusive focando-a na maior parte das cenas, embora sem transformá-las em um documentário, o filme foi bem recebido pela crítica e continua a ser um dos mais influentes no que se diz respeito à música. Em paralelo, o álbum A Hard Day’s Night, lançado no mesmo ano, foi o primeiro do grupo a trazer só composições de Lennon/McCartney e serviu como trilha sonora para o filme.

Em novembro, lançaram o compacto “I Feel Fine” e no mês seguinte o grupo lançou seu quarto álbum: Beatles for Sale. Em julho do mesmo ano, o segundo filme estrelando os Beatles, Help!, foi lançado. O filme acompanhou o lançamento do álbum homônimo, que serviu como trilha sonora.

Em 15 de agosto de 1965, os Beatles fizeram o primeiro concerto da história do rock and roll num estádio aberto, ao se apresentarem no estádio de beisebol Shea Stadium, Nova Iorque, para uma multidão formada por 55.600 pessoas.

O evento obteve uma grande notoriedade e contou com os requintes de mídia disponíveis à época e a disposição de Epstein era fazer um evento grandioso, digno de filmagens e especiais de televisão nos Estados Unidos e Inglaterra. Chamados ao palco pelo já conhecido Ed Sullivan, o quarteto ampliou ainda mais seu sucesso nacional e internacional e o evento é tido como percursor.


A Hard Day´s Night foi um filme que se tornaria um clássico cult.; Em 15 de agosto de 1965, os Beatles
fizeram o primeiro concerto da história do rock and roll num estádio aberto: o Shea Stadium.

Sexto álbum da banda, Rubber Soul, realizado no começo de dezembro de 1965, foi recepcionado como um grande salto do grupo para a complexidade e maturidade em sua estrutura musical, por conter em suas canções letras e melodias mais elaboradas.

O lançamento dos compactos “Day Tripper” e “We Can Work It Out” juntamente com o sexto álbum repetiram o sucesso grandioso que o grupo mantinha desde 1963: foram aos primeiros lugares nas paradas britânicas e americanas; segundo estimativas, venderam cinco milhões do álbum e quatro milhões do compacto. (continua…).

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada contei aqui como foi o show dos meninos no programa de TV Ed Sullivan e o show no Washington Coliseum. Hoje, continuamos a curtir as peripécias de nossos meninos em solo americano e surgem as primeiras turnês pela Ásia, Europa e América do Norte. Boa leitura!

SUCESSOS E TURNÊS
Depois do sucesso de 1964, as gravadoras Vee-Jay e Swan aproveitaram os direitos que detinham das primeiras gravações do grupo e decidiram reeditá-las; todas as canções atingiram o top dez desta vez (a MGM e a Atco também garantiram os direitos das primeiras gravações dos Beatles com o já citado Tony Sheridan e também tiveram hits menores, como “My Bonnie Lies over the Ocean” e “Ain’t She Sweet”, esta última com a voz de Lennon).

Além de Introducing… The Beatles, primeiro LP da banda no mercado americano, a Vee-Jay também editou, em 1 de outubro de 1964, o The Beatles Versus The Four Seasons, um relançamento duplo do Introducing… The Beatles com outra capa, sendo que o lado B continha canções do grupo americano The Four Seasons. Através da sofreguidão da Vee-Jay em faturar em cima da recém-iniciada beatlemania na América, lançou-se outros discos, como o Songs, pictures and stories of the fabulous Beatles, que foi lançado duas semanas após o disco duplo com The Four Seasons, e que nada mais era do que o quarto reingresso de Introducing The Beatles no mercado americano.

“I Saw Her Standing There” foi editada como o lado B do disco da América “I Want to Hold Your Hand”, e também foi incluída no álbum Meet The Beatles, da Capitol. As faixas “She Loves You” e “I’ll Get You” da Swan foram editados em 10 de abril de 1964, no LP The Beatles’ Second Album, da Capitol. O Second Album vendeu 250 mil cópias no primeiro dia de lançamento nos Estados Unidos.

A Swan também editou uma versão alemã do hit do momento “She Loves You”, chamada “Sie Liebt Dich” e que está presente em estéreo no álbum Rarities, da Capitol. Outra versão alemã foi “Komm Gib Mir Deine Hand”, conhecida entre nós como “I Want To Hold Your Hand”.

Em meados de 1964 a banda, em todo seu auge, iniciou suas primeiras aparições fora da Europa e da América do Norte, viajando para a Austrália, Escandinávia e Holanda; Ringo foi vítima de uma faringite e, hospitalizado, não pôde partir para o primeiro destino deles, o território australiano. Starr foi substituído temporariamente pelo baterista Jimmy Nicol, a convite de George Martin que, inclusive, estava lucrando juntamente com a banda desde o primeiro momento em que assinaram contrato na distante Liverpool.

A estranha reação do público diante de uma figura diferente assumindo a bateria durou pouco, pois Ringo regressou com o tempo e eles partiram para a Nova Zelândia em 21 de junho de 1964. Antes da volta do baterista, em Adelaide, Austrália Meridional, os Beatles foram recepcionados por cerca de trezentas mil pessoas no Adelaide Town Hall, evidenciando assim, o estrondo que a banda já vinha fazendo por diversos países. (continua…).


A MGM e a Atco também garantiram os direitos das primeiras gravações dos Beatles com o já citado Tony Sheridan e também tiveram hits menores, como “My Bonnie” e “Ain’t She Sweet”/// Em meados de 1964, a banda, em todo seu auge, iniciou suas primeiras aparições fora da Europa e da América do Norte, viajando para a Austrália e outros países.


(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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CURTINDO A VIDA ADOIDADO
Após a coletiva de imprensa, no próprio aeroporto em 07 de fevereiro de 1964, JPG & R partiram em limusines para a Nova Iorque. No caminho, McCartney ouviu o seguinte comentário corrente numa rádio local: “Eles acabaram de deixar o aeroporto e estão próximos de Nova Iorque…” Quando alcançaram o Plaza Hotel, foram recepcionados por diversos fãs, sendo que a maioria era garotas e repórteres.

Harrison teve uma febre de 39 ºC no dia seguinte (08) e teve que permanecer em repouso, de modo que Neil Aspinall o substituiu no primeiro ensaio da banda para a aparição deles no The Ed Sullivan Show. A persuasão de Epstein havia dado certo. Os Beatles fizeram sua primeira aparição ao vivo na televisão americana no The Ed Sullivan Show, em 9 de fevereiro de 1964. Aproximadamente 74 milhões de telespectadores assistiu o grupo tocar no programa.

Ao conversar com JPG & R, Ed informa que recebeu um telegrama do “rei do rock” Elvis Presley, parabenizando os meninos pelo sucesso e convidando-os para serem os “segundos, terceiros, quartos e quintos reis do rock”. John Lennon retruca na hora convidando Elvis para ser o “segundo, terceiro, quatro e quinto beatle”, arrancando risos da plateia, formada em sua maioria por mulheres. Na manhã seguinte, muitos jornais escrevem que os Beatles não eram nada mais do que uma “moda passageira”, e que não levariam sua música por todo o Atlântico.


Os Beatles fizeram sua primeira aparição ao vivo na televisão americana no The Ed Sullivan Show, em 9 de
fevereiro de 1964.

Em 11 de fevereiro de 1964, fizeram seu primeiro concerto ao vivo nos Estados Unidos, no Washington Coliseum, em Washington, D.C.. Se a apresentação no London Palladium é considerada como o início da histeria em torno dos Beatles na Inglaterra, nos Estados Unidos esta beatlemania tomou proporções ainda maiores desde a primeira ida do conjunto a terras estado-unidenses. Acredita-se que essa primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos foi um dos momentos fundamentais da história da banda e, mais amplamente, do rock mundial.

A importância dessa visita é analisada por diversos ângulos através de muitos fatores, como, por exemplo, o fato de que, desde a década de 60, os Estados Unidos já eram o maior mercado consumidor de discos do mundo; para Epstein e para o grupo, seria um prestígio começar a ser conhecido e bem vendido por lá, como era e ainda é natural nos dias de hoje. O sucesso de diversas bandas inglesas e europeias, como U2, Oasis, e Cranberries é tido como resultado em grande parte devido à carreira dos Beatles e, particularmente, à sua estadia nos Estados Unidos. (continua…).

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Na semana passada contei aqui como foi a primeira aparição dos meninos na televisão americana, o avanço do fenômeno da Beatlemania e os preparativos para a invasão aos EUA após o assassinato de Kennedy. Hoje, vamos conferir a primeira entrevista em solo americano. Boa leitura!

Na fria manhã londrina de 7 de fevereiro de 1964, uma multidão de quatro mil fãs ingleses foi ao Aeroporto Heathrow acenar para os “meninos Liverpool”, que partiam pela primeira vez aos EUA como um grupo. Quando o voo 101 da PanAm tocou o solo do recém-nomeado Aeroporto JFK em Nova York, às 13h20 da tarde do dia 7 de fevereiro de 1964, uma multidão se aglomerou no local. Os Beatles foram saudados por cerca de três mil pessoas. A banda já era a número 1 na América. A coletiva de imprensa, realizada numa sala do Aeroporto, em Nova York, foi considerada um marco. Na chegada, John, Paul, George e Ringo foram recebidos pelo disc jockey Murray the K. Numa mistura de ingenuidade, bom humor e franqueza, os quatro garotos de Liverpool driblaram as mais diversas questões com a sempre afiada ironia inglesa.


Os Beatles quando chegaram no Aeroporto JFK, na Cidade de Nova Iorque, em 7 de fevereiro de 1964: essa
primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos é um dos momentos fundamentais da história da banda e,
mais amplamente, do rock mundial.


Repórter: O que vocês acham de Beethoven?
Ringo Starr: Muito bom. Especialmente seus poemas (risos).
Murray the K: Tem uma pergunta aqui na frente.
Repórter: (gritando sobre a multidão) Vocês poderiam dizer a Murray the K para parar com essa frescura?
Beatles: (gritando e rindo ao mesmo tempo) Pare com essa frescura, Murray!
Paul McCartney: E aí, Murray? (risos)
Repórter: Isto é uma pergunta?
Murray the K: (tentando organizar a bagunça) Vocês ficariam quietos, por favor?!
Repórter: Em Detroit, existem pessoas carregando adesivos nos carros com os dizeres “Mandem os Beatles pra casa”.
Paul: É verdade! Nós trouxemos um adesivo “Mande Detroit pra casa” (risos).
Repórter: O que vocês têm a dizer sobre a campanha “Mandem os Beatles pra casa”?
John Lennon: O que temos a dizer?
Ringo: Qual o tamanho desses adesivos?
Repórter: E os comentários de que vocês não são nada além de uns Elvis do Reino Unido?
John: A pessoa que falou isso deve ser cega.
Ringo: Isso não é verdade! Isso não é verdade! (rebolando igual a Elvis)
John: (imita Elvis dançando) (riso geral)
Fã que invadiu a coletiva: Vocês cantariam alguma coisa, por favor?
Beatles: Não! (risos)
Ringo: Desculpe.
Murray the K: Próxima questão.
Repórter: Existem dúvidas se vocês são mesmo capazes de cantar.
John: Não, queremos o dinheiro primeiro (risos).
Repórter: Todo esse cabelo ajuda vocês na hora de cantar?
John: Claro que sim. Com certeza.
Repórter: Vocês se sentem como Sansões? Se perderem o cabelo, não conseguirão tocar?
John: Não sei.
Paul: Eu também não sei.
Murray the K: Tem uma questão aqui.
Repórter: Quantos de vocês são carecas? Vocês usam peruca?
Ringo: Todos nós somos.
Paul: Eu sou careca.
Repórter: De verdade?
John: Sim.
Paul: Só prometa que não vai contar a ninguém, por favor.
John: Carecas, surdos e burros também (risos).
Murray the K: Silêncio, por favor.
Repórter: Vocês são de verdade?
Paul: Somos sim.
John: Venha até aqui sentir (risos).
Repórter: Vocês irão cortar o cabelo no período em que passarem aqui?
Beatles: Não!
Ringo: Nem a pau.
Paul: Não, obrigado.
George Harrison: Eu cortei o meu ontem (risos).
Ringo: É verdade. Ele não está mentindo.
Paul: É a pura verdade.
Repórter: Pensei que o cabelo dele tinha caído.
John: Nada.
George: Não perdi cabelo nenhum.
Ringo: Você deveria ter visto ele ontem.
Repórter: O que vocês acham que a música de vocês causa nestas pessoas (se referindo às fãs enlouquecidas no hall do aeroporto)?
Ringo: Eu não sei. Acho que ela as deixa alegres. Bom, deve ser isso mesmo, afinal elas estão comprando nossos discos.
Repórter: Por que elas ficam tão excitadas?
Paul: Não sabemos. De verdade.
John: Se soubéssemos, forjaríamos uma outra banda e seríamos seus empresários (risos).
Repórter: Mais uma pergunta…Como vocês descobriram a América?
Ringo: Simples!…Nós viemos em frente e viramos à esquerda!!. (risos geral).
Murray the K: Muito bem gente… Obrigado! Isto é tudo por enquanto, Vamos deixar os rapazes descansar um pouco. (continua…).

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Os Beatles Vem Aí
Embora a banda experimentasse uma popularidade enorme nas paradas britânicas no início de 1963, a gravadora norte-americana Capitol Records, subsidiária da EMI (em que o grupo estava contratado), negou produzir os compactos “Please Please Me” e “From Me to You”, primeiro sucesso do grupo que alcançou primeiro lugar no Reino Unido. Se a produção acontecesse de primeiro momento, o grupo inglês arriscaria, na mesma época, sucesso nos Estados Unidos. A Vee-Jay Records, uma pequena gravadora de Chicago, Estados Unidos, lançou esses singles como parte de um negócio para os direitos de outro intérprete.

Art Roberts, diretor musical da estação de rádio World’s Largest Store (WLS) de Chicago, incluiu “Please Please Me” na rádio em fevereiro de 1963, provavelmente a primeira vez que foi ouvida uma canção dos Beatles no território americano, embora isso seja discutido; os direitos do Vee-Jay aos Beatles foram cancelados mais tarde por não-pagamento de direitos autorais.

Em agosto de 1963, a Swan Records lançou “She Loves You”, que também não foi executada nas rádios. Em 3 de janeiro de 1964, Jack Paar mostrou em seu programa uma apresentação de “She Loves You” gravada ao vivo na Inglaterra: foi a primeira aparição dos Beatles na televisão americana. Embora tivessem feito sucesso rapidamente na Inglaterra e sido igualmente bem sucedidos em alguns países europeus, os Beatles ainda não tinham conquistado o mercado norte-americano.

Pensando em conquistar os Estados Unidos, Brian Epstein, no começo de novembro de 1963, procurou o presidente da gravadora Capitol Records para lançar um single com a canção “I Want To Hold Your Hand”, e conseguiu firmar um contrato com um popular apresentador de televisão americano, Ed Sullivan, para que os Beatles fossem até lá se apresentarem em seu programa.

Antes da Capitol, como já foi citado, algumas gravadoras já haviam lançado discos dos Beatles naquele país, como a Vee-Jay e a Swan, mas nenhum sucesso tinha sido obtido. Embora não houvesse grandes expectativas pela Capitol em relação aos Beatles, o canal de televisão americano CBS apresentou um documentário de cinco minutos sobre o fenômeno da beatlemania na Inglaterra, no programa CBS Evening News.

A primeira demonstração desse pequeno documentário seria mostrada de manhã no CBS Morning News em 22 de novembro e uma reprise passaria na tarde do mesmo dia no CBS Evening News, mas a transmissão foi cancelada por conta do assassinato de John F. Kennedy naquele dia.


Com o assassinato de Kennedy, os americanos estavam em choque. Este era o momento certo dos
Beatles invadirem os Estados Unidos

Diversas estações de rádio nova-iorquinas já começavam a tocar “I Want to Hold Your Hand” na sua programação. A resposta positiva para a gravação que havia começado em Washington duplicou em Nova Iorque e rapidamente se espalhou a outros mercados. A gravação vendeu um milhão de cópias em apenas dez dias, e a revista Cashbox certificou-a como número um.

Com o assassinato de Kennedy, os americanos estavam em choque. Este era o momento certo dos Beatles invadirem os Estados Unidos.
No começo de 1964, a Capitol decidiu fazer valer a pena os direitos que detinha do grupo nos Estados Unidos para coincidir com a primeira excursão da banda à América. Brian Epstein foi um dos grandes responsáveis pela data marcante. Indo a Nova Iorque, elaborou com a Capitol uma mídia enorme: foram colocados seis milhões de cartazes pelas ruas dos Estados Unidos com mensagens do tipo “OS BEATLES VEM AÍ”. (continua…).

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Na semana passada contei qui como ocorreram os detalhes da saída de Pete Best, do encontro e assinatura de contrato dos meninos com Brian Epstein e sua incansável busca de um espaço nas gravadoras para que eles ficassem conhecidos. Hoje, vamos conferir os detalhes da primeira gravação, a fama no Reino Unido e os primeiros sinais da Beatlemania. Boa leitura!

A primeira gravação dos Beatles com Lennon, McCartney, Harrison e Starr juntos aconteceu em 15 de outubro de 1960, na demonstração de uma série de gravações registradas particularmente em Hamburgo, onde atuaram simultaneamente como grupo de apoio da cantora Lu Walter. Starr tocou com os Beatles em sua segunda sessão de gravação na EMI, em 4 de setembro de 1962, e Martin “alugou” o baterista Andy White – que já havia tocado com Bill Halley em 1957, apresentação a que Paul assistiu em Liverpool, para tocar na próxima sessão, no dia 11 de setembro. A única apresentação realizada por White foi nas canções “Love Me Do” e “P.S. I Love You”, incluídas no primeiro álbum da banda. Nessa sessão, produzida por Ron Richards, Ringo tocou pandeiro ou outro instrumento de percussão quando a função de baterista era desenvolvida por Andy.

A primeira sessão dos Beatles na EMI de Londres, em 6 de junho de 1962, não rendeu uma gravação digna de lançamento, mas as sessões de setembro produziram o hit “Love Me Do”, compacto que, no mesmo ano, alcançou o primeiro lugar na lista dos vinte melhores da revista Mersey Beat (em 18 de outubro) e entrou na lista dos vinte compactos mais vendidos da revista Billboard (em 1 de dezembro). Em 26 de novembro de 1962, a banda gravou seu segundo som, “Please Please Me” – sem nenhuma relação com o álbum homônimo –, que atingiu o primeiro lugar na Inglaterra no início de 1963.
Com o lançamento da canção “Love Me Do” em outubro de 1962, os Beatles apareceram pela primeira vez na televisão, no programa People and Places, transmitida ao vivo em Manchester, na TV Granada, em 17 de outubro de 1962.

SURGE A BEATLEMANIA
A crescente histeria que a banda começou a criar nesta época, principalmente em jovens do sexo feminino, ficou conhecida como “Beatlemania”. Em 4 de novembro de 1963, os Beatles apresentaram-se no Royal Variety Performance, em Londres, na presença da família real britânica e, consequentemente, da rainha Isabel II do Reino Unido. Nessa apresentação, John teria dito: “Para a próxima música vamos pedir ajuda da plateia. As pessoas que estão nos lugares baratos, aplaudam. O resto pode chacoalhar as joias”.

Ainda em novembro de 1963 JPG&R, gravam seu segundo álbum, With the Beatles, que acabou com a hegemonia de trinta semanas de “Please Please Me” no primeiro lugar das paradas britânicas. A banda também começou a ser notada por críticos musicais sérios. Em 23 de dezembro de 1963, o crítico musical William Mann, do The Times, publicou uma resenha descrevendo algumas teorias musicais a respeito de canções como “Till There Was You” e “I Want to Hold Your Hand”.


A crescente histeria que a banda começou a criar nesta época, principalmente em jovens do sexo feminino,
ficou conhecida como “Beatlemania”

A respeito do álbum With the Beatles, Mann, em 27 de dezembro de 1963, destacou a estrutura harmônica da canção “Not a Second Time”, como sendo “também típica nas canções de andamento mais rápido dos Beatles, e ficamos com a impressão que pensam simultaneamente em harmonia e melodia, tal a firmeza com que as sétimas e nonas maiores e sobredominantes estão incorporadas nas canções, tal a naturalidade da cadência eóliano no fim de “Not a Second Time” (a sequência que conclui a Das Lied von der Erde, de Gustav Mahler”).
Contudo, os Beatles não tinham conhecimento profundo de teoria musical na época e a resenha de Mann transformou-se em parte do mito da banda, principalmente pelo termo “cadências eólicas”. Em 1980, Lennon em uma das últimas entrevistas chegou a comentar “Até hoje não sei o que elas são. Parecem aves exóticas”. (continua…).

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada, contei sobre como os nossos meninos se viraram para encontrar um substituto para Pete Best. Hoje, vamos continuar a contar mais um pouco desta história mágica e, ainda, o encontro e assinatura do contrato com Brian Epstein:… Boa leitura!

Contrato de gravação
Em 9 de novembro de 1961, Brian Epstein, dono da loja de música North End Music Store (NEMS) na Great Charlotte Street, viu o grupo pela primeira vez no clube. Intrigado com o som da banda, e maravilhado com seu carisma (sobretudo o de John), Epstein decidiu empresariá-los. Em uma reunião com os Beatles na NEMS, em 10 de dezembro de 1961, Epstein propôs a ideia de gestão da banda. Os Beatles assinaram um contrato de cinco anos com Epstein em 24 de janeiro de 1962 e ele se tornou o empresário oficial deles.

Com Brian Epstein como empresário do grupo, o primeiro passo foi mudar a imagem dos integrantes, substituindo as roupas de couro por algo mais formal. Epstein conduziu a procura dos Beatles na Inglaterra em encontrar um contrato de gravação. Ele era gerente do departamento de gravações da NEMS, ramo que seu avô deixou de herança, uma loja de instrumentos musicais, discos de música, entre outras coisas. Nessa época, ele apostou no status da NEMS como uma importante distribuidora para obter acesso a empresas de gravações e a produtores executivos. O executivo Dick Rowe, da agora famosa troca Decca Records A&R, respondeu-lhe na época que “bandas com guitarras estão fora de moda, Sr. Epstein”. Mais tarde, ele iria se arrepender…

Enquanto Epstein negociava com a Decca, ele também abordou o executivo de marketing Ron White, da EMI. White, que não desempenhava a função de produtor musical na gravadora, por sua vez, contatou os produtores Norrie Paramor, Walter Ridley e Norman Newell (todos da EMI) e todos os três negaram produzirem gravações dos Beatles.
Contudo, White não havia abordado o quarto produtor da EMI, e também administrador — George Martin — que estava de férias na época. Enquanto isso, depois de não conseguir impressionar a Decca Records, Epstein foi para a loja HMV na Rua Oxford, em Londres, e transformou os teipes que havia utilizado na Decca em um disco. Epstein conseguiu encontrar com George Martin da Parlophone (subsidiária da EMI) e levou o material. Martin, interessado no som da banda e, segundo o próprio, “considerado um produtor rebelde e independente à época”, aceitou uma audição.


John, Paul, George & Ringo e Brian…uma parceria de ouro!!!

A banda então assinou um contrato de um ano, renovável, com a EMI. A primeira sessão de gravação dos Beatles na EMI com Martin foi marcada no dia 6 de junho de 1962, no famoso Abbey Road Studios, no norte de Londres. Musicalmente, George Martin não se impressionou com os Beatles, mas a personalidade dos integrantes lhe agradou. Ele concluiu que “a banda tinha um talento cru e muito humor, e que poderia melhorar musicalmente”. Martin resolveu contratá-los, mas teve um problema com Pete Best, considerando-o, à época, “fraco”. Martin sugeriu a Epstein, particularmente, que utilizassem outro baterista nos estúdios no lugar do atual. Assim, a conclusão foi de que Martin contrataria um baterista para as gravações, enquanto Brian poderia usar Pete Best nas apresentações. Isso ocorreu, principalmente, pelo fato de que os fãs dos Beatles na época não poderiam suportar vê-los sem Best.

John, Paul e George ficaram sem jeito de mandar Pete embora, afinal ele já vinha com o grupo desde os áureos tempos de Hamburgo, então, eles pediram a Brian que ele mesmo demitisse Pete. No dia 16 de agosto de 1962, Pete chega ao escritório de Brian, e esse lhe diz: “Escute Pete, o George não quer você no grupo. Por favor arrume suas coisas”. A partir disso, o grupo começou a cogitar alguns nomes para assumir a função de baterista. Johnny Hutchinson foi convidado, mas recusou por ser amigo de Pete.

A grande esperança deles foi convidar Richard Starkey – conhecido como Ringo Starr – que já era baterista da famosa “Rory Storm and the Hurricanes”, e que também já havia tocado com os Beatles em algumas apresentações de Hamburgo. Em 19 de agosto, três dias após a demissão de Pete, Ringo, definitivamente como baterista, tocou com os Beatles no Cavern; a apresentação gerou confusão, pois o público repudiou a nova formação. Mas o tempo seria o dono da razão…(continua…)

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada comecei a contar sobre os primórdios dos Beatles. A bandinha da escola que animava as festinhas de quermesse, o início da amizade entre John, Paul e George, e etc, etc. Hoje, vamos contar mais um pouco desta história mágica… Boa leitura!

Ainda abalados com a morte de Stuart e sem perspectivas de progresso profissional, os Beatles continuaram a fazer shows em Hamburgo e Liverpool, mas visivelmente desanimados. Em 1957, Ringo começou sua própria banda skiffle com Eddie Miles, chamada The Eddie Clayton Skiffle Group. No ano de 1959, ele juntou-se ao grupo Raving Texans, que tinha como cantor Rory Storm. Posteriormente a banda mudou de nome para Rory Storm and the Hurricanes. Foi nesta época que ele passou a adotar o nome artístico Ringo (derivado de “ring”, anel em inglês) por causa dos anéis que constantemente usava. Os Hurricanes fizeram uma turnê em Hamburgo em 1960, onde Ringo acabou conhecendo os integrantes de uma certa banda de Liverpool, The Beatles.
Ringo só acabaria entrando para os Beatles quando eles acertaram um contrato de gravação com a gravadora Parlophone. – Esta história vou contar depois – . Em 19 de agosto, três dias após a demissão de Pete, Ringo, definitivamente como baterista, tocou com os Beatles no Cavern; a apresentação gerou confusão, pois o público repudiou a nova formação, e chegaram a gritar “Pete forever, Ringo never”, ou seja: “Pete para sempre, Ringo nunca!”.
Rumo à América
Os Beatles passaram a ser requisitados para apresentações por todo o país, para entrevistas e para programas na BBC. Depois de um mês, estavam no ponto exato para lançar seu primeiro LP.
Gravado em 12 horas, também intitulado Please Please Me, o disco trazia 14 faixas, entre covers (coisas da soul music americana, como Boys e Twist and Shout) e novos hits em potencial, como I Saw Her Standing There. Com dois singles puxando as vendas, Please Please Me também chegou ao topo da parada. Até o fim do ano, a banda tocaria por Escócia, Suíça, toda a Inglaterra, participaria do tradicional programa Sunday Night at the London Paladium (esgotando os ingressos com meses de antecedência), lançaria mais três singles (From Me To You, She Loves You e I Wanna Hold Your Hand) e um segundo LP, With the Beatles, novo número um.

                            Reprodução do jornal Mersey Beat que dá detalhes da saída de Pete dos Beatles

 

A banda era um sucesso em toda a Europa Ocidental. Faltavam os Estados Unidos. Brian tinha o plano de levar o grupo à América, mas o grupo decidira que não embarcaria sem um single no topo da Billboard. E não era apenas arrogância: muitos nomes famosos na Inglaterra se aventuravam pelos Estados Unidos, esqueciam seu público local e não angariavam a simpatia ianque. Quando já estavam em primeiro lugar no Reino Unido, os Beatles ainda eram ilustres desconhecidos no outro lado do Atlântico, mas, para todos os efeitos, nunca tinham tentado a sério. A verdade é que a própria EMI não se interessara em lançar a banda por lá.
George Martin negociou os tapes pertencentes à Parlophone com dois selos independentes, o Vee-Jay e o Swan, que lançaram alguns singles e a coletânea Introducing the Beatles, sem repercussão. Em janeiro de 1964, após uma temporada de um mês no Finsbury Park de Londres, os Beatles embarcaram para sua primeira turnê pela França. Após reportagens de revistas como Time e Newsweek, a Capitol (o selo jovem da EMI na Califórnia) despertou para a banda e lançou o single I Wanna Hold Your Hand com toda promoção merecida. De longe, sem deixar o Velho Continente, eles conquistavam o Novo Mundo. Em Paris, eles receberam o telegrama da EMI inglesa: “Parabéns, vocês são número um na América”. (continua…)

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada nós falamos aqui da passagem de nossos meninos, por Hamburgo, na Alemanha, os primeiros shows, a interação com o público e as primeiras influências que iriam tirá-los das roupas e jaquetas e entrar nos famosos terninhos. Agora, uma espetacular estratégia de propaganda espalhou anúncios, buttons, adesivos e até perucas dos Beatles pelos EUA. Deu certo: ‘I Want To Hold Your Hand’ finalmente colocou os ingleses no topo da Billboard. A invasão à América iria começar. Boa leitura!

Investimento certeiro
O ano de 1963 já estava quase chegando ao fim. No dia 22 de novembro, os rapazes de Liverpool lançaram no Reino Unido seu segundo LP, With The Beatles, repleto de covers de artistas da Motown. Exatamente no mesmo dia, na distante Dallas, no Texas, o presidente John Fitzgerald Kennedy era assassinado. Depois de um período de luto e confusão, o público precisava de novos heróis – mas nada que fosse pretensioso ou político demais. A Europa tinha caído de paixão por quatro rapazes que pertenciam a um grupo de rock com nome bizarro. Quem sabe a mesma mania não emplacasse na América?

Um pouco antes disso, em 5 de novembro, Brian Epstein, o diligente empresário dos Beatles, desembarcou em Nova York. Ele tinha em mente negócios sérios. Depois de uma certa insistência, convenceu John, Paul, George e Ringo a embarcar para uma turnê promocional pelos Estados Unidos. Mas os Beatles foram firmes: só aceitariam quando tivessem uma música no topo da parada. Na cidade, Epstein se encontrou com o onipotente Ed Sullivan, empresário e apresentador de TV que tinha o poder de construir ou eliminar carreiras artísticas. Sullivan, em visita recente à Inglaterra, tinha visto de perto a histeria da beatlemania.


Ed Sullivan recebe os rapazes em seu palco: o apresentador quis pagar só um cachê simbólico para cobrir
despesas da banda.

Sullivan queria os Beatles em seu show dominical na CBS, mas achava que eles ainda não mereciam ser a atração principal do programa. Epstein foi convincente em seus argumentos e Sullivan cedeu, mas com uma condição: os Beatles receberiam apenas um cachê simbólico para cobrir as despesas. A próxima parada de Epstein foi a sede da gravadora Capitol.

Com a beatlemania varrendo a Inglaterra e a Europa (e repercutindo em revistas importantes, como a Time e a Newsweek), ele conseguiu fazer com que o single seguinte saísse nos Estados Unidos pela empresa. O acordo foi fechado no dia 13 de dezembro. Assim, I Want To Hold Your Hand foi lançada em janeiro deste ano.
A Capitol havia decidido investir para valer. A ideia era que os nomes de John, Paul, George e Ringo se tornassem conhecidos antes mesmo que eles pisassem em solo americano. Além de publicar fartos anúncios nas revistas de música, a gravadora engendrou uma ambiciosa campanha de marketing.

Os vendedores da empresa receberam uma montanha de buttons, todos estampando os rostos e os nomes dos Beatles. Seriam distribuídos por todos os cantos. Também faziam parte do kit promocional perucas que imitavam os cabelos dos garotos e adesivos com a frase “Os Beatles estão chegando!” A campanha da Capitol funcionou como uma máquina perfeitamente azeitada.

No dia 1º deste mês, I Want To Hold You Hand chegou ao primeiro lugar da Billboard, desbancando a antiquada There I’ve Said Again, com o crooner Bobby Vinton. Quando os Beatles desembarcaram nos EUA, uma semana depois, o single já havia vendido 1 milhão de cópias. A imprensa passou a falar do grupo espontaneamente.

No geral, as críticas ao disco foram positivas, embora o New York Times achasse pouco provável que a beatlemania fosse exportada com sucesso. Enquanto a Capitol lançava com estardalhaço Meet The Beatles! (uma coletânea produzida sobre fonogramas ingleses), Vee Jay, Swan e MGM entraram na jogada, entupindo o mercado com tudo o que tinham dos Beatles nas mãos.
E a mania importada da Inglaterra enfim começava a produzir montes de dinheiro. (continua…)

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Nas últimas semanas encontrei-me com algumas pessoas que me parabenizaram pela coluna e etc, etc. Mas aí veio a famosa pergunta: “Como foi que eles se conheceram mesmo?”. Bom, então pra matar esta curiosidade, vou escrever hoje e nas próximas colunas mais um pouco desta história mágica:… Boa leitura!

QUANDO TUDO COMEÇOU

No colégio em que estudava, chamado Quarry Bank, John Lennon tinha uma banda com colegas de classe: a Quarrymen, uma óbvia referência ao nome da escola. Tocavam rock’n’roll em festinhas e pequenos eventos, como a quermesse nos fundos da igreja de Woolton, em 6 de julho de 1957, dia em que John conheceu Paul McCartney. Quando a banda atacava de Don’t Go With Me, dos Del-Vikings, Paul chegou. Como John, era um garoto metido a teddy boy, que também tocava guitarra e andava por lá procurando gente para formar um grupo. Assistindo aos Quarrymen, Paul observou que John, o vocalista, tinha um gosto excelente na escolha do repertório. Mas notou também que ele, por não entender direito as letras das músicas que ouvia no rádio, inventava boa parte delas.

Depois do show, os dois foram apresentados. Paul disse a John que também curtia rock’n’roll. Foram para um canto. Paul pegou a guitarra e tocou 20th Flight Rock, de Eddie Cochran, acorde a acorde, verso a verso, absolutamente irrepreensível. John não acreditava no que via e pediu mais. Paul, então, mandou Be-Bop-A-Lula e alguns hits de Little Richard, cantando e tocando todas as músicas de forma certeira, com fidelidade absoluta.

Esperto, John percebeu que Paul seria indispensável para a banda caso quisessem virar profissionais. Foi assim que McCartney entrou para os Quarry Men e logo se transformou no parceiro de John. Tornaram-se inseparáveis. Estudavam violão, ouviam discos juntos e, não demorou muito, começaram a compor seu próprio repertório: Too Bad About Sorrows, Like Dreamers Do, In Spite Of All The Danger, One After 909 e Love Me Do foram algumas das primeiras canções da dupla.


As origens: John e Paul nos tempos de Quarrymen, banda
que animava festinhas e agitava a turma da escola

Em fevereiro de 1958, depois de várias semanas fazendo propaganda de um garoto de apenas 14 anos, Paul convenceu John a fazer um teste com o novato, chamado George Harrison. Era seu vizinho e um prodígio na guitarra, apesar da pouca idade. A “prova” de George foi a música Raunchy, de Bill Justis, que ele tocou magistralmente. Filho de um motorista de ônibus, George entrou para a banda, para horror da tia Mimi. Paul e George moravam na região mais periférica de Liverpool e eram vistos pela tia de John como uma séria ameaça à formação do sobrinho. Com o núcleo estabelecido em torno dos três guitarristas, os Quarrymen foram crescendo como banda, incorporando novas covers ao repertório e compondo cada vez mais.

Ao talento criativo de John, somavam-se o rigor técnico de Paul e o virtuosismo instrumental de George. Mas ainda eram, nessa fase, um grupinho de fim de semana. Sabiam que, para ganhar contornos de coisa séria, precisavam solidificar a formação da banda. John, que acabara de entrar na faculdade de Belas Artes, convenceu um colega, o promissor pintor Stuart “Stu” Sutcliffe, a usar o dinheiro ganho com a venda de uma tela na compra de um contrabaixo. Com três guitarristas e um baixista, ainda faltava um baterista. Na época, queriam deixar de ser Quarrymen, já que não tinham mais nenhum vínculo com a escola. Passaram a se chamar Silver Beetles. O nome Beatles só surgiu em meados de 1960, a partir de uma sugestão de Stu e John, inspirados no grupo Crickets, de Buddy Holly.

Achando que o nome da banda era um trocadilho entre o inseto (gafanhoto) com o jogo (críquete), juntaram beat (de batida) com beetle (besouro). Foi nessa época que um empresário do ramo de casas noturnas chamado Alan Williams começou a agenciar jovens bandas de rock’n’roll, entre elas os Beatles. A partir de junho daquele ano, eles fizeram o circuito de pequenas casas da região e chegaram a tocar na Escócia. Como não conseguiam um baterista fixo, Paul assumiu as baquetas. Mas quando surgiu a oportunidade de ir a Hamburgo, na Alemanha, Williams informou-lhes que o contratante exigia um quinteto. Foi assim que se lembraram de Pete Best, filho da dona do Casbah, uma boate de Liverpool que frequentavam. A primeira formação dos Beatles estava completa. (continua…)

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco
(ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada nós falamos aqui da passagem de nossos meninos, por Hamburgo, na Alemanha. Os primeiros shows e a interação com o publico. Hoje, vocês vão acompanhar mais uma parte desta aventura por terras germânicas. Os meninos começam a receber as primeiras influências que iriam tirá-los das roupas e jaquetas e entrar nos famosos terninhos. Boa leitura!

Penso, logo existo!
Vários grupos ingleses tocavam nos clubes alemães, como os Hurricanes (que tinham Ringo Starr na bateria). Também se apresentavam por lá cantores como Tony Sheridan. Cumpriam um azeitado circuito de boates, clubes de strip-tease e inferninhos, como os citados acima.
A maior parte do público dos shows era formada de marinheiros mal-encarados e prostitutas, além de roqueiros, que se vestiam à moda teddy boy, com jaquetas de couro e cabelos gomalinados. Mas os Beatles começaram a atrair um grupo de jovens universitários intelectualizados, os chamados “exis” (de “existencialistas”), que curtiam poesia e pintura, com garotas “de bem” e rapazes com cabelos à francesa, penteados para frente.
Uma das frases marcantes destes jovens é ‘Cogito, ergo sum’, que significa “penso, logo existo”; ou ainda ‘Dubito, ergo cogito, ergo sum’: “Eu duvido, logo penso, logo existo”. A frase é uma conclusão do filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650) alcançada após duvidar da sua própria existência, mas comprovada ao ver que pode pensar e, desta forma, conquanto sujeito, ou seja, conquanto ser pensante, existe indubitavelmente.
Entre os “exis” que se aproximaram dos Beatles (e logo se tornaram seus amigos) estava a fotógrafa Astrid Kirshner e o estudante de arte Klaus Voorman. Igualmente vindos de escolas de artes, com aspirações nesse campo, os Beatles transformaram-se num misto de roqueiros e logo adotariam o penteado “exi”.
Hamburgo seria o começo do fim para Stuart Sutcliffe. No Keiserkeller, ele conheceu e logo se apaixonou por Astrid, permanecendo na cidade quando a banda voltou a Liverpool. Com a saída de Stu, Paul acabou assumindo o baixo e os Beatles tornaram-se um quarteto. Astrid, que fora a responsável pelo novo penteado do grupo, tirou a primeira foto dos novos cabelos, no telhado de um clube em Hamburgo.


                               John, George, Paul & Ringo em fotografia de Astrid Kirshner

Em 10 de abril de 1961, os Beatles tiveram de enfrentar uma tragédia: Stu morreu repentinamente, de hemorragia cerebral. No dia seguinte, os rapazes chegavam a Hamburgo para uma nova temporada, de sete semanas. John Lennon, de todos, foi o que ficou mais abalado. A volta a Hamburgo era para se apresentar no Top Ten. O quarto em que os Beatles ficaram desta vez era ao lado de onde morava o cantor Tony Sheridan. Ficaram amigos e, durante a temporada, dividiram o palco inúmeras vezes.
Quando Tony recebeu um convite para gravar para a Polydor alemã, não pensou duas vezes e levou os Beatles como banda de apoio – que acabou usando o nome Beat Brothers. Lançaram um EP com My Bonnie, Why, Ain’t She Sweet (cantada por John) e a instrumental Cry for a Shadow. O disco foi lançado em agosto de 1961. Nesse tempo, os Beatles já eram um grupo profissional, com empresário e até um motorista – na verdade, o contador Neil Aspinall, que tinha uma perua que colocava a serviço da banda.
Já contavam com um público relativamente fiel em Liverpool e era atração constante no Cavern Club, um clube de jazz convertido em local beat. Seria ali, naquele palco acanhado, que os Beatles encontrariam um caminho rumo ao estrelato. (continua…)

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco
(ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada nós contamos aqui como foi a infância dos nossos meninos, de onde eles vieram e ainda como foi crescer em plena Segunda Guerra Mundial. Hoje, vocês vão acompanhar como foi a temporada na Alemanha. Os meninos que viajaram para Hamburgo voltam homens. Boa leitura!

Em 1960, os Quarrymen deixaram de existir como um grupinho de fim de semana e deram seu lugar para os Beatles, uma banda “semiprofissional” de rock’n’roll. Esse processo, na verdade, não se deu de uma hora para a outra e passou por uma evolução nos nomes – de Moondogs para Long John and The Silver Beetles, depois para Silver Beetles, e finalmente para The Beatles. O nome definitivo veio da paixão deles pelos Crickets (grilos), grupo de Buddy Holly. Assim, eles combinaram beetles (besouros) com o nome que se usava na época para definir o rock: música beat (batida).

No começo, o trabalho da banda ainda era esporádico. Eles tocavam nos bailes das escolas de arte, saíram em turnê pela Escócia como banda de apoio para Johnny Gentle, acompanharam cantoras como Shirley The Stripper e fizeram algumas aparições em clubes de Liverpool, como o Casbah. Foi mais ou menos nessa época, em agosto de 1960, que apareceu um empresário local chamado Andy Williams, que lucrava agenciando shows das bandas de Liverpool no exterior. Williams conseguiu um contrato interessante para os Beatles no Clube Indra, em Hamburgo, na Alemanha. Na iminência de uma temporada internacional, Paul McCartney lembrou-se de Pete Best (filho da dona do Casbah), que arranhava como baterista, e o chamou para a banda.

Os quatro meses e meio que os Beatles passaram em Hamburgo transformaram a banda. Tendo que tocar de seis a oito horas por noite, seu repertório aumentou consideravelmente. Os três guitarristas, John, Paul e George, se entendiam tão bem no palco a ponto de, ao tocar uma canção, um adivinhar o que o outro faria em seguida, sem ao menos se olharem. Pelo fato de passar tanto tempo no palco, começaram a criar hábitos pouco ortodoxos, como o de comer sanduíches entre uma música e outra, além de beber e fumar. Em dias de cansaço extremo, chegavam a se revezar: enquanto os outros tocavam, um dormia por alguns minutos atrás da bateria. Apresentando-se em clubes da Reeperbahn, a zona de boates de Hamburgo, os garotos de início ficaram intimidados com o público barra-pesada.

Aos poucos, incentivados pelo dono do Indra, Bruno Korschmeier, eles foram aprendendo as habilidades próprias dos artistas profissionais. O público gostava de sua música, e John ocasionalmente brindava a platéia com suas brincadeiras e seus trajes, que incluíam calcinhas e uma tampa de privada em volta do pescoço. Para um grupo de roqueiros adolescentes, Hamburgo era o jardim dos prazeres. Os rapazes faziam amizade com as prostitutas, que havia em número abundante, e tomavam quantidades cada vez maiores de comprimidos para emagrecer (as famosas “bolinhas”), que os deixavam acordados por dias inteiros. Seu café da manhã era uma mistura de leite, cerveja e cereal de milho.

Mas eles também progrediram no trabalho: foram do Indra para o Kaiserkeller, depois para o Top Ten, e finalmente para o Star Club, o maior e mais movimentado da cidade. Suas acomodações também melhoraram, dentro do possível, de um quartinho atrás da tela de um cinema caindo aos pedaços para um sótão no Top Ten.


No jardim dos prazeres: os Beatles, ainda com Pete Best (à esq.) e Stu Sutcliffe (à dir.),
posam com suas caras de mau.

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco
(ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Na semana passada nós contamos aqui sobre como os nossos meninos conquistaram a América. Hoje vocês vão acompanhar a trajetória de John, Paul, George & Ringo, surgida em plena Segunda Guerra Mundial. E, a grande pergunta de todos os tempos: De onde vieram os Beatles? Boa leitura!

Infância Turbulenta
Localizada a noroeste da Inglaterra, Liverpool, desenvolveu-se a partir de um vilarejo de pescadores fundado em 1207. Era um porto como outro qualquer até o século XVII, quando lá se estabeleceu o comércio com a América do Norte. Foi de seu cais que partiram quase 10 milhões de ingleses para os Estados Unidos. Também foi por ele que chegaram centenas de milhares de imigrantes irlandeses, como Jack Lennon e Owen Mohin, avôs paternos de John Lennon e Paul McCartney, respectivamente. Era por Liverpool também que desembarcavam as novidades do exterior, como, na década de 50, o tal de rock’n’roll.
John Winston Lennon nasceu em 9 de outubro de 1940, bem na época dos ataques alemães à Liverpool. O nome do meio foi uma homenagem a Winston Churchill, primeiro-ministro britânico durante a guerra. Seu pai, Alfred, era marinheiro e abandonou a família quando John tinha apenas 4 anos. Julia, sua mãe, logo arrumou um namorado e foi morar com ele – que impôs a condição de não ter de criar o filho de outro homem. Assim, ela pediu que sua irmã, Mimi, cuidasse do pequeno John.
Tia Mimi, a mais velha de cinco irmãs (Julia era a caçula), e tio George moravam em uma bela casa geminada em Woolton, um subúrbio de classe média, habitado em sua maioria por famílias de médicos e advogados. Embora tivesse crescido num ambiente de conforto e ternura, John carregava as marcas do abandono, e seus anos de escola foram caracterizados por uma propensão crescente a se meter em confusões. Carismático e com um forte espírito de liderança entre seus colegas, ele exercitava seu espírito sarcástico e sagaz contra amigos, inimigos, professores, familiares e qualquer pessoa que representasse a figura da autoridade.
Em 1952, um ano depois de ter entrado na Quarry Bank School, seu amado tio George morreu, e John voltou a se aproximar da mãe. Julia era uma típica dona de casa inglesa, mas gostava de se apresentar como cantora e comediante amadora. Foi ela que ensinou os primeiros acordes ao filho adolescente num velho banjo.
John tinha 15 anos quando Heartbreak Hotel, de Elvis Presley, subiu ao segundo posto da parada britânica. Para ele e para vários garotos de classe média, o rock’n’roll chegava para mudar tudo. Nessa época, John e a mãe viam-se regularmente e ela tornou-se uma parte importante em sua vida. Mas da mesma forma repentina que a amizade e o amor entre os dois floresceram, eles terminaram. Em 15 de julho de 1958, Julia morreu atropelada por um policial bêbado.


Orfandade e guitarra
James Paul McCartney nasceu em 18 de junho de 1942. Morava em um bairro mais pobre, mas vinha de uma família mais bem alicerçada, de pais amorosos. Jim McCartney, um vendedor de algodão, e Mary, uma enfermeira, tiveram dois filhos, James Paul e Michael. Paul, tendo passado de forma tranqüila seus anos escolares, foi aceito no renomado Liverpool Institute.
Aos 14 anos de idade, perdeu a mãe repentinamente, vítima de câncer. Como John, viu na música uma espécie de terapia para superar a orfandade. Voltou-se para sua guitarra de maneira obsessiva, a ponto de ela tomar conta de sua vida. Enquanto se preparava para a carreira de professor de inglês, Paul começou a pentear seu cabelo para trás e a se vestir como um roqueiro. Foi nessa época que conheceu John Lennon.
George Harrison, nascido em 25 de fevereiro de 1943, é filho de um motorista de ônibus e de uma dona de casa. Raramente passava por alguma dificuldade na infância. George é o mais novo de quatro filhos e cresceu em um ambiente familiar de união. Sua forma de rebeldia era usar seu longo cabelo penteado para trás e se vestir de forma escandalosa. Isso não o impediu de entrar no Liverpool Institute.
Desde muito novo, George passou a se dedicar à música com paixão. Com a ajuda da mãe, comprou uma guitarra nova e logo formou seu próprio grupo, os Rebels. Foi nessa época que conheceu Paul McCartney, que pegava o mesmo ônibus para ir ao colégio, e passaram a tocar juntos.
Ringo Starr, nascido Richard Starkey Jr., em 7 de julho de 1940, é o mais velho dos Beatles. Sua vida começou em circunstâncias parecidas com a de John Lennon. Seu pai, Richard, e sua mãe, Elsie, se separaram quando ele era garoto. Enquanto a herança de John foi o desequilíbrio emocional, Ringo teve que enfrentar uma saúde debilitada e um ambiente pobre.
Um apêndice supurado e uma pleurisia o deixaram no hospital por três de seus primeiros quinze anos. Por estar sempre doente, quase não freqüentou a escola e mal conheceu o pai. Dos quatro, era o único que morava num local considerado barra-pesada, Dingle, que ficava perto das docas. Quando tinha 18 anos e trabalhava como aprendiz de eletricista, Ringo ganhou sua primeira bateria. Foi seu bilhete de saída para uma vida incomparavelmente melhor do que a que tinha até então.

Berço do rock
Apesar de serem da classe média baixa, nenhum dos quatro beatles deixou de ter acesso à cultura na adolescência. Isso graças a um fenômeno tipicamente inglês, as chamadas escolas de arte. Elas eram gratuitas e abertas a todas as classes sociais. As aulas não se limitavam às artes plásticas, abrangendo também teatro e literatura.
Desde o começo desta década, pode-se dizer que as escolas de arte britânicas foram o berço de muitos artistas de rock, entre eles, John Lennon, Stuart Sutcliffe e Paul McCartney. Ainda assim, se não tivessem se tornado os Beatles, o futuro poderia ter sido bem menos ruidoso: John e Stu pensavam em ser pintores; Paul, professor de inglês; George nunca cogitou seriamente outra coisa além da música; e Ringo pretendia ingressar na marinha mercante. Mas a história seria diferente… (continua…)

(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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Cultura

Revolution

A partir de hoje – e todos os domingos – estarei aqui também no DIÁRIO POPULAR contando um pouco da história desses “meninos ingleses” que sacudiram o planeta Terra. O nome da coluna – “Revolution” é de um antigo programa que eu produzia na saudosa Rádio Eldorado FM (93,1MHz). Hoje, em nossa estreia, eu já dou um salto na história. Já estamos no ano de 1961 e, “os meninos” se preparam para invadir a América e dar início a um dos maiores fenômenos do planeta: A Beatlemania. Espero que vocês possam apreciar!

A Conquista da América
Há pouco mais de dois anos, Brian Epstein, gerente da North End Music Stores, cadeia de lojas de discos e equipamentos de áudio de Liverpool, estava intrigado com todo o alvoroço sobre os grupos beat. Foi ao Cavern assistir aos Beatles em novembro de 1961.
Achou tudo aquilo barulhento, mas ficou impressionado com o que classificou de “charme” da banda – sabe-se que Brian é homossexual e tem certa queda por rapazes com fama de bad boys. Prometeu arranjar um contrato de gravação para os rapazes e logo conseguiu um teste na Decca, de Londres, em 1º de janeiro de 1962.
Para impressionar os garotos, pagou para que o ex-baterista dos Shadows, Tony Meehan, os produzisse. Baseadas nos sets de Hamburgo, cheias de covers e poucas composições próprias (apenas duas, Like Dreamers Do e Hello Little Girl), as sessões não deram em nada.
Mesmo assim, os Beatles fecharam com Brian, ainda em janeiro de 1962. Uma das primeiras ações do empresário foi sugerir que abandonassem as jaquetas de couro em favor de ternos ao estilo dos grupos mod ingleses. Também proibiu que os rapazes fumassem durante os shows, hábito herdado de Hamburgo – quando a banda costumava comer e até dormir no palco.
Ao mesmo tempo em que agendava apresentações e shows de rádio, o empresário ficou com os tapes da Decca e usava-os como uma demo da banda.
Ao dizer que seus garotos estavam em “excursão internacional”, despertou a atenção de George Martin, um famoso maestro britânico, célebre pelo programa The Goon Show. Martin assumira a “linha pop” da gravadora Parlophone, subsidiária da EMI.
Após o teste, em junho de 1962, a única exigência de Martin para gravá-los era usar um “baterista profissional”, já que não gostara de Pete Best. Sem qualquer dilema, Epstein e os Beatles demitiram Best e chamaram Ringo Starr.



Ciúme e gravidez

A demissão de Pete Best, logo após a banda ter assinado com a EMI, é uma das maiores puxadas-de-tapete ocorridas na cena musical dos últimos anos. Nenhum dos três beatles teve coragem de demiti-lo – o trabalho sujo ficou para Brian Epstein. Ao que parece, Brian era apaixonado por Pete e, após sucessivas negativas, não teve remorso em sacá-lo.
Testemunhas dão conta do ciúme que Pete, o mais bonito dos quatro, despertava nos colegas de palco. Outro complicador: Neil Aspinall, recém-contratado como roadie, engravidou a mãe de Pete no final de 1961, o que azedou as relações de forma definitiva.
Em 4 de setembro, George Martin recebeu John, Paul, George e Ringo –que só descobriu que não tocaria na sessão às portas do estúdio – nas instalações da EMI em Abbey Road, em Londres. O grupo fez questão de registrar apenas músicas próprias.
Em 5 de outubro de 1962, foi lançado o primeiro disco da banda, o single Love Me Do. Com fama crescente no noroeste inglês, a banda vendeu 100.000 cópias do compacto e chegou ao 17º lugar no hit parade do país. A conquista da Inglaterra era o próximo passo.
Em novembro, voltaram aos estúdios para um novo single, Please Please Me, outra composição própria. O acordo entre John e Paul, principais compositores do grupo, reza que todas as músicas da dupla recebam crédito conjunto, mesmo que o parceiro não tenha participado. Ao final dos 18 takes, Martin abriu o microfone e disse: “Rapazes, vocês acabam de gravar seu primeiro número um”.
De fato, Please Please Me, lançado em janeiro de 1963, chegou ao primeiro posto da parada, ganhou disco de platina pelas 500.000 cópias vendidas e transformou a banda na “próxima grande coisa” do Reino Unido. (continua…)


(*) Ronildo Bacardy é jornalista e beatlemaníaco (ronildobacardy@yahoo.com.br)

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