Opinião

Resumo da prosa: o último apito da maria-fumaça

É triste ver o modal ferroviário nacional totalmente sucateado. As locomotivas sumiram, as antigas estações estão em ruínas ou viraram museus. O povo tornou-se refém do transporte rodoviário, do lobby automobilístico e do petróleo. Ficou apenas o saudosismo e a tristeza de ver o aniquilamento total e o fim das estradas de ferro, das linhas paralisadas, das estações em ruínas. Minas-Bahia, Sorocabana, Mogiana, Trem da Morte e outros ramais importantíssimos para a economia e o turismo simplesmente sumiram do mapa. Então, quando se pensa em tocar um projeto como este da Prefeitura de Ipatinga, de reativar a maria-fumaça, criar um roteiro turístico e ampliá-lo, é preciso ter cuidado. Podem magoar as pessoas novamente, aumentar o saudosismo, provocar a terceira, quarta morte da ferrovia. E isso é tão lamentável quanto o último apito da maria-fumaça

Só até ali está bom

O passeio da maria fumaça no Parque Ipanema está desativado há anos, assim como a gare que chegou a se tornar uma cracolândia. A Estrada de Ferro Caminho das Águas com um percurso de 2,6 km dentro do parque, assim como os equipamentos que a compõem e a própria locomotiva estão sendo sucateadas ao longo do tempo. É neste cenário desolador que a Prefeitura de Ipatinga discute a possibilidade de retomar o projeto fazendo a ligação do Parque Ipanema às ruínas da estação Pedra Mole.

Dificil imaginar o trajeto da linha férrea turística, nesta altura do desenvolvimento urbano, pelo centro da cidade. Se conseguissem fazê-la voltar a circular só dentro do Parque Ipanema já estaria de bom tamanho.

Até Marrakesh

Depois do giro do prefeito de Ipatinga a Dubai e do protocolo de intenções exibido como a possibilidade de investimentos árabes na cidade, uma comitiva governamental visita São João del Rei para discutir parcerias para a retomada da Estrada de Ferro Caminho das Águas, agora com percurso mais longo. É salutar a iniciativa, mas preocupante.

Por enquanto a idéia é fazer a rota Parque Ipanema-Ruínas de Pedra Mole. Mas vai que resolvem prolongar o trajeto…

Para lembrar

Em 2020, a Prefeitura Municipal de Ipatinga encaminhou a Câmara Municipal Projeto de Lei que concede à iniciativa privada a Estrada de Ferro Caminho das Águas, a gare onde funcionou a estação de partida da Maria Fumaça, além da linha férrea e demais equipamentos, que o Executivo inclui no chamado Complexo Turístico Pouso de Água Limpa.

Conforme a Prefeitura, a iniciativa foi tomada “cumprindo a responsabilidade do poder público na manutenção de um bem tombado, a Prefeitura de Ipatinga, por meio da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Semcel), elaborou e encaminhou à Câmara de Vereadores, para discussão e votação, o projeto de lei que autoriza o poder Executivo a outorgar a concessão de uso do Complexo Turístico Estação Pouso de Água Limpa, situado à margem do ribeirão Ipanema, na região do Novo Centro”. O complexo é constituído pela locomotiva a vapor denominada “Maria Fumaça” e seus carros de passageiros, a Estrada de Ferro Caminho das Águas (com 2,6 km de extensão), que margeia o Parque Ipanema, além da oficina e réplica de uma Estação Ferroviária, bens tombados pelo Patrimônio Histórico e Artístico de Ipatinga conforme Lei nº 1.727, de 4 de novembro de 1999.

Não se sabe como terminou a história.

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