Cidades

Resultado das eleições exige que líderes revejam conceitos

Dilma Rousseff (PT) venceu o candidato tucano no somatório de Minas Gerais e também em todo o Vale do Aço
(Fotos: Agência Brasil)


Por Fernando Benedito

(DA REDAÇÃO) – Seja de qual ângulo se observar, é melhor analisar o resultado das eleições presidenciais no Vale do Aço totalmente descolado da performance dos prefeitos em busca de votos para seus candidatos e mais descolado ainda dos resultados de algumas administrações.

Embora Dilma tenha sido majoritária em Ipatinga, Coronel Fabriciano, Timóteo, Santana do Paraíso e Belo Oriente, é uma votação que não pode ser atribuída somente ao esforço dos cabos eleitorais. Acima de tudo, a campanha eleitoral acirrada, o medo do cidadão de perder os benefícios e conquistas sociais, o tempo de TV, o apoio dos candidatos proporcionais, etc, tiveram influência decisiva.

Além de um alto índice de abstenção (média de 20%) em praticamente todas as cidades da região Metropolitana do Vale do Aço, parece ter havido uma disposição do eleitor de fazer exatamente o oposto daquilo que por ventura tenham sugerido suas lideranças máximas, os prefeitos e prefeitas. Num raro lampejo de lucidez, o eleitorado agiu por conta própria, foi onde quis e votou em quem bem entendeu.

Claro, trata-se de uma eleição com interesses mais difusos e, no caso, do voto presidencial, mais distante, então, o cidadão se manifestou mais livremente do que numa eleição municipal. O eleitor deu vários recados: revelou seu descontentamento com as administrações municipais, mostrou que quer o novo e se o novo for à direita não tem problema.

Os votos para Dilma Rousseff, a julgar pela pouca diferença entre ela e Marina e entre Marina e Aécio – foi essa a sequência no Vale do Aço –, demonstrou que o eleitor escolheu Dilma, Marina e Aécio porque quis, não porque alguém tenha pedido. Votou em Dilma porque aprovou suas políticas sociais, não queria se arriscar. Votou em Marina porque queria experimentar o novo e a alternância de poder e votou em Aécio porque se identificou com o discurso raivoso e direitista do “Fora PT!”

Tradicionalmente petista, o eleitorado do Vale do Aço deu um chute na canela das administrações das principais cidades da região, onde o Partido dos Trabalhadores, à exceção de Belo Oriente, “reina” hegemonicamente. Curiosamente, em Belo Oriente, onde o prefeito Pietro Chaves é apoiador de Aécio Neves, a candidata Dilma Rousseff obteve 8.044 votos; Aécio, 2.626; e Marina, 2.050. Então a situação é mais ou menos esta: onde você vai, eu não vou. Mas pode mudar.

Vai depender apenas de como os prefeitos e prefeitas vão entender este recado das urnas e quais medidas vão tomar diante dele. Num momento em que os municípios vivem a grita geral da míngua de recursos e pouca ou nenhuma são as alternativas de aumentar a receita ou cortar gastos – muitas cidades já nem tem mais o que cortar –, e pior, morrem com a burocracia federal para obter uma verbinha aqui outra acolá, terão que se esforçar para reeleger Dilma e, num esforço ainda mais concentrado, tentarem evitar perder os anéis e os dedos.

Pelo menos no caso das cidades do Vale do Aço, a vitória de Aécio seria um desastre para as administrações petistas, já que os programas que têm em vista até 2016, em sua maioria são oriundos de recursos – ainda que minguados – do governo federal; e ninguém garante que Aécio vá mantê-los na mesma linha de continuidade. E para reverter o atual estado de coisas nas cidades é preciso não apenas que sejam mantidos, mas rapidamente desburocratizados.

Neste sentido, nem todo o sentimento republicano que Aécio herdou de Tancredo Neves e de Tiradentes será capaz de justificar o fortalecimento dos governos municipais petistas no caso de uma eventual vitória tucana no 2º turno. Aí, vai ser um passo para o cadafalso, com Alexandre Silveira colocando o pé na frente para o tropeção.

Então, é um quadro que pode mudar. Para melhor ou para pior. A outra hipótese, isto é, a vitória de Dilma Rousseff no 2º turno, é o melhor dos mundos para os governos locais no Vale do Aço. Aí, numa “dobrada” com Pimentel no governo de Minas, muitas coisas boas podem acontecer.

Antes de tudo, porém, é preciso que os prefeitos e prefeitas, ex-candidatos e ex-candidatas se reúnam num grande conselho de líderes e façam uma boa avaliação da realidade e de como contribuir estrategicamente para que o resultado do 2º turno no Vale do Aço seja significativamente diferente. É só um pequeno grão no vasto colégio eleitoral nacional, mas é bom pensar grande a partir de agora, antes que seja hora de dar tchau.


No Vale do Aço, Aécio Neves (PSDB) só ganhou de Marina Silva (PSB) em
Santana do Paraíso e Belo Oriente

 

Os números da eleição para presidente na região

MINAS GERAIS

Dilma – 4.829.513 – 43,48%
Aécio – 4.414.452 – 39,75%

IPATINGA

Eleitorado: 181.060
Abstenção: 35.988 (19,88%)
Comparecimento: 145.072
Brancos: 5.514
Nulos. 6.726
Válidos: 132.832

Dilma – 46.570
Marina – 41.418
Aécio – 40.128

CORONEL FABRICIANO
Eleitorado: 79.716
Abstenção: 16.647 (20,88%)
Comparecimento: 63.069
Bancos: 2.454
Nulos: 2.950
Válidos: 57.665

Dilma – 22.671
Marina – 16.776
Aécio – 16.708

TIMÓTEO
Eleitorado: 59.892
Abstenção: 11.404 (19,04%)
Comparecimento: 48.488
Bancos: 1.833
Nulos: 2.305
Válidos: 44.350

Dilma – 16.228
Marina – 14.100
Aécio – 12.484

SANTANA DO PARAÍSO
Eleitorado: 16.965
Abstenção: 3.515 (20,72%)
Comparecimento: 13.450
Bancos: 468
Nulos: 576
Válidos: 12.406

Dilma – 6.001
Aécio – 3.118
Marina – 3.009

BELO ORIENTE

Eleitorado: 18.473
Abstenção: 4.181 (22,63%)
Comparecimento: 14.292
Bancos: 568
Nulos: 658
Válidos: 13.066

Dilma – 8.044
Aécio – 2.626
Marina – 2.050

Fonte: TSE

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