Cultura

Regalias do poder: previdência e caixa 2

(*) Walber Gonçalves

Tem hora que dá um desânimo de ser brasileiro! Por mais que se quer ter esperança de dias melhores, às vezes ou quase sempre o desalento é maior. Cria-se uma ilusão de que as coisas podem ser diferentes, que é possível fazer o novo acontecer, mas no decorrer dos fatos, infelizmente, as coisas parecem caminhar como sempre, mantendo o status quo da nossa injusta sociedade.

Não sou especialista em leis, muito pelo contrário, apenas mais um brasileiro que a exemplo de tantos outros milhões trabalham e que parte deste trabalho, por sinal bem considerável, serve para pagar o funcionamento da máquina pública. Claro que isto não é demérito, e não teria como ser diferente.

O que de fato entristece é ver que as verdadeiras mudanças que deveriam acontecer, mais uma vez, pelo jeitinho de se fazer política no Brasil não vão se concretizar.

Sabemos que a reforma da previdência é algo inevitável, que não demoraria muito a acontecer, talvez se tivesse acontecido décadas atrás, poderia ter sido feita de uma forma menos traumática, por devermos sim reconhecer que os tempos são outros, que mudanças se fazem necessárias também neste setor. Todavia, não estou conseguindo visualizar uma reforma realmente justa, pelo contrário, continua sendo fomentadora e mantenedora de regalias, principalmente quando se trata do núcleo político.

Um país que mantém inúmeras regalias, principalmente para aqueles que recebem altos salários, não têm respaldo para cobrar do povo, da massa, da população, o contrário. Já não aguentamos mais pagar a conta da extorsão legalizada do dinheiro público. Onde já se viu, auxílios de determinados segmentos da sociedade serem praticamente o dobro do salário de professor do ensino fundamental!É inacreditável, para não dizer outra coisa!

E para piorar ainda mais, como se já não bastassem as mordomias infinitas dos nossos políticos, o famoso Caixa 2, que significa o uso de dinheiro não contabilizado na campanha eleitoral, e que faz parte do pacote anticrime do governo federal, será analisado separadamente das demais propostas. Como se trata do Congresso Nacional tudo leva a crer que haverá muita discussão, e o esperado resultado, que a criminalização do Caixa 2, ficará adormecido, na fila de espera para votação. Mais uma regalia mantida.

Enquanto no Brasil imperar esta visão medíocre e provinciana de tratar as coisas públicas e que abre possibilidades para que o malfeito aconteça, nunca as reformas atenderão suas finalidades. Pelo visto o trabalhador vai continuar pagando a conta e as regalias daqueles que perpetuam esta nefasta estrutura político/social do nosso querido e imenso país.

A verdadeira reforma que tanto precisamos é combater as regalias daqueles que insistem em mantê-las.Caso isto não aconteça o resto não passará de mais uma forma de exploração com requintes de mudanças necessárias.

(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

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