Cidades

Refugiados venezuelanos no Vale do Aço são tema de documentário

Foto: O diretor de “Refugiados – Vai Ficar Tudo Bem”, Sávio Tarso, durante o lançamento do documentário – Crédito: Divulgação

IPATINGA – A saga de 37 famílias venezuelanas que optaram pela imigração para municípios do Vale do Aço é o eixo principal do documentário “Refugiados – Vai Ficar Tudo Bem”, produzido pela Video-Plus e dirigido por Sávio Tarso com assistência de direção de Matícia Alves. Filmado com patrocínio da Lei Aldir Blanc de 2020, o média metragem narra em 41 minutos a aventura dos estrangeiros que atravessaram a fronteira do Brasil e seguiram para o interior de Minas Gerais através do Projeto Acolhida, do Governo Brasileiro. O lançamento foi feito no dia 15 de maio, na Igreja de Jesus Cristo do Santos dos Últimos Dias.

MOTIVAÇÃO

O diretor Sávio Tarso explicou a motivação para filmar essa temática. “No ano de 2019, me deparei com várias famílias venezuelanas embarcando para Ipatinga na rodoviária de BH. Aquela imagem me impressionou muito pela quantidade de pessoas de outro país viajando para uma cidade do interior de Minas. Logo quis saber o que estava por trás daquela cena incomum. Foi desse modo que surgiu meu interesse em retratar a história dessa gente. Parecia algo muito especial, até mesmo porque a imigração é o fator preponderante da formação demográfica da nossa região”.

Migrantes venezuelanos assistem à primeira exibição do documentário na Igreja de Jesus Cristo do Santos dos Últimos Dias, em Ipatinga

INTERIORIZAÇÃO

A primeira indagação era porquê aquelas famílias optaram pelo interior do Brasil. Após vários contatos com os próprios refugiados, a equipe do documentário chegou até os membros d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos dias. Em conjunto com outras instituições internacionais como a Cruz Vermelha e a Caritas Intenacional, a denominação cristã participou do Projeto Acolhida do Governo Federal.

O objetivo era dar assistência às milhares de famílias venezuelanas que atravessavam as fronteiras de seu país fugindo do caos humanitário. A certa altura, decidiu-se dar um nova oportunidade aos refugiados que se encontravam em precárias condições de vida em Roraima, redirecinando-os para outros destinos em diversos estados do Brasil. A partir daí, membros da AIJCSUD de Ipatinga se prontificaram em amparar os venezuelanos em diversas cidades como Mesquita, Santana do Paraíso, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Timóteo.

Heriton Santos Campos, líder regional da AIJCSUD – A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias falou sobre o engajamento com a causa dos refugiados: “A nossa igreja, outras religiões, empresários e o Governo Federal fizeram o trabalho de interiorização para que essas pessoas pudessem ter uma nova oportunidade de recomeçar a vida profissional e familiar. A história inicial da AIJCSUD nos EUA tem a ver com a imigração, agora é uma benção ver isso acontecer aqui. Pessoas de outros países em situação difícil e nós tivemos o aprendizado de amor ao próximo. Ou seja, colocar em prática as lições do nosso mestre Jesus Cristo.”

PARCERIAS

Além da AIJCSUD, diversos empresários locais, entidades regionais como FIEMG, Rotary e voluntários encamparam a missão de acolher os refugiados na região.

Mutirões de solidariedade se formaram para alugar imóveis, mobilhar as casas, providenciar roupas, alimentos e remédios para os recém-chegados.

DOCUMENTÁRIO BILÍNGUE

Umas das principais dificuldades para gravar as cenas e os depoimentos foi a barreira da língua. Apesar da proximidade com o espanhol, os imigrantes apontaram o aprendizado do português como o primeiro grande desafio ao entrarem na fronteira brasileira.

Para obter profundidade nas entrevistas, o documentário contou com a assistência de direção da geógrafa Matícia Alves que acompanhou de perto o drama dos refugiados. “Em 2018, visitei o acampamento da ACNUR – Agência da ONU para Refugiados – em uma casa abandonada que servia de abrigo clandestino em Roraima. Havia muitas mulheres e crianças, que apesar de já estarem sendo abrigadas e alimentadas, revelavam muito sofrimento no rosto devido à situação na Venezuela e a difícil trajetória até Boa Vista. O sentimento predominante foi de angústia. Me perguntava o que seria daquelas pessoas em um futuro próximo”, revelou a geógrafa.

Matícia atuou como intérprete da equipe de produção e filmagem. Sobre a tarefa de entrevistar e traduzir fielmente as impressões dos venezuelanos no Vale do Aço, ela afirmou que foi “tocada pelos sentimentos que se passavam enquanto as histórias eram contadas. Difícil não se surpreender com a dor das pessoas ao relatar o desespero até a trajetória a Minas Gerais e o sorriso com o alívio da chegada. São histórias bonitas de acolhimento e solidariedade.”

VAI FICAR TUDO BEM

O roteiro do documentário se baseia no sonho de um personagem em especial. O jovem Jonathan Mendonza, 19 anos. Antes de viajar ao Brasil, ele estava muito apreensivo com a aventura de deixar a sua terra natal rumo ao desconhecido. Certa noite, após muitas orações, sonhou que na chegada foi recepcionado por uma mulher gentil que o abraçou e disse com clareza a seguinte frase: “Vai ficar tudo bem”.

Após um verdadeiro calvário com longas viagens de ônibus, esperas intermináveis e pontes aé́reas até chegar em Ipatinga, Jonathan se surpreendeu no acolhimento da sua família ao se deparar com o casal de membros da SUD, Patrícia e Odilon Farias. Ele chamou o seu pai para uma conversa particular, e lhe confidenciou o seu sonho:

“Recordo que nessa noite sonhei com muitas pessoas. Muitas dessas pessoas eu não conhecia, nunca as havia visto antes. E, além disso falavam uma língua que eu não entendia. Imediatamente eu pensei: é algo novo, português. Eu não entendia português. E, depois de um tempo, no sonho, conheci uma mulher. Falei com ela. Mas quando acordei tomei a decisão de vir com a minha família ao Brasil. Depois de um tempo, quando cheguei em Ipatinga e conheci a Patrícia. Eu imediatamente a reconheci. Ela era a mulher que estava no meu sonho me dizendo: vai ficar tudo bem!”

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